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sexta-feira, 21 de junho de 2019

Félix

"Acho exactamente o contrário do que parece ser a opinião da maioria; creio que João Félix fez boa opção ao optar pelo Atl. Madrid

Dos mil milhões de euros que o Benfica encaixou com transferências de jogadores desde que Luís Filipe Vieira é presidente, quantos milhões ficaram a dever-se a Jorge Mendes? Muito mais de metade, aposto, e nem preciso de fazer muitas contas porque não corro grande risco de errar. A coisa, porém, atingiu agora a linha do «absolutamente impressionante!».
Conseguir levar o Atlético de Madrid a pagar 120 milhões de euros por João Félix é algo só ao alcance de um agente como é Jorge Mendes, que nos últimos 20 anos construiu uma das posições de maior relevo no universo do futebol mundial. Difícil não é transferir. Cristiano Ronaldo ou Neymar, Hazard ou Pogba; difícil não é levar o Barcelona ou o Real Madrid ou o Liverpool ou o Chelsea a gastarem 120 milhões numa estrela internacional; difícil é levar o Atlético de Madrid a pagar 120 milhões por um jovem como João Félix, muito talentoso, sim, mas de apenas 19 anos e que nem chegou a jogar meia dúzia de meses na equipa principal do Benfica.
Com Jorge Mendes o encaixe financeiro do Benfica, sobretudo nos últimos 10 anos, já era verdadeiramente excepcional. Com estes 120 milhões (que nenhum clube português alguma vez pensou facturar com um jogador) o trabalho de Mendes com o Benfica (já para não falar do que fez no passado com FC Porto ou Sporting( torna-se imperial.
Façam-lhe, na Luz, uma estátua!

Félix torna-se, também assim, um caso praticamente único no mundo do futebol - um jovem que fica a valer 120 milhões sem que o mundo do futebol ainda saiba quem ele é!
Sem querer entrar pelas sempre perigosas (e tantas vezes mal interpretadas) comparações, a verdade é que sucedeu, porém, mais ou menos com Cristiano Ronaldo, transferido do Sporting para o Man. United com apenas 18 anos e muito talento mas ainda quase sem nada que a Europa tivesse visto.
Em 2003 os dirigentes do Old Trafford arriscaram 17 milhões de euros (muitos milhões na altura) num jovem com 31 jogos na equipa principal do Sporting e apenas meia dúzia de presenças em selecções jovens. E ele, depois, fez o que fez!
O Atlético de Madrid está, é verdade, a arriscar quase 8 vezes mais, mas também muitos anos depois, num jovem com 33 jogos na equipa principal do Benfica e que apenas teve ainda oportunidade de sentir o que é vestir a camisola da Selecção.
É um negócio assombroso?
Claro que é. Sobretudo porque mantém a ideia de que o chamado mercado do futebol está absolutamente louco e incontrolável, capaz, no entanto, de vir a contribuir bastante para dar cabo de negócio do futebol quando este tipo de valores - não vai demorar muito tempo - começaram a ser impraticáveis e clubes hoje detidos por milionários, empresas, fundações, países ou coisa que o valha, derraparem perigosamente a caminho do colapso.
Quanto até um guarda-redes ainda praticamente desconhecido como Kepa Arrizabalada custou, aos 24 anos, 80 milhões de euros ao Chelsea, um dia destes nenhum garoto que dê meia dúzia de toques na bola custará menos de 50 milhões.
Um absurdo, evidentemente!

Mas como o mercado está como está, o que faz uma agente como Mendes? Exerce a sua enorme influência e usa os resultados de um trabalho credível - e, em muitos casos, notável - de promoção do jogador português para cometer a proeza de levar um clube como o Atlético (que ainda por cima nem faz parte dos oito de primeira linha que têm a pressão de ganhar a Liga dos Campeões) a pagar o que ninguém acreditava que fosse possível a pagar nesta altura pelo (muito talentoso) jovem João Félix.
E isso, caro leitor, goste-se ou não, aprecie-se ou não, admire-se ou não, deve reconhecer-se que só está ao alcance de um homem como Jorge Mendes, que já foi capaz - não se esqueçam - de colocar o central Ricardo Carvalho por 30 milhões ou o lateral Paulo Ferreira por 20 milhões, ambos no Chelsea (há 15 anos!!!), ou, 4 anos depois, outro lateral, Bosingwa, também por 20 milhões e também no Chelsea, ou, em 2007, o central Pepe por 30 milhões, no Real Madrid, ou, alguns anos depois, o lateral Danilo por 31,5 ainda no Real, ou o central Mangala por 45 milhões no City, ou, há mais de 10 anos, o médio Anderson no United por 31,5 milhões. Alguns exemplos.

Pode João Félix não ser ainda (e não é) aquela jovem estrela como já era Mbappé quando o PSG pagou o que pagou por ele, ou Neymar, quando o Barcelona pagou o que pagou por ele; mas Félix tem tudo para vir a ser um grandíssimo jogador. E os que mais percebem de futebol melhor compreendem o que ele mostra realmente ter.
Claro que entre o que se mostra e o que se prova e confirma vai sempre uma distância, João Félix tem apenas 19 anos e, na verdade, ainda não fez praticamente caminho que se veja, porque cinco meses muito bons numa Liga como a portuguesa não podem propriamente servir de cartão de visita a ninguém.
Mas Félix tem outro cartão de visita: o talento, a qualidade, o modo como faz coisas que a maioria, pelo menos aos 19 anos, não faz, ou nunca virá mesmo a fazer. Vale esse talento 120 milhões de euros?
Vale o que pagarem por ele neste louco mercado dos ricos em que se está a transformar pelo menos o futebol europeu. Como já aqui escrevi, o valor nunca é feito por quem faz o preço mas por quem paga. E, se há quem pague, então é porque vale.
Não deve, porém, o talento de Félix ser pesado em euros nem a qualidade do jogador deve agora ser questionada porque alguém decidiu pagar por ele o que vai ser pago. Félix deve ser visto e analisado como se veem e analisam todos os jogadores de futebol. E é nesse sentido que deve reconhecer-se haver, realmente, jogadores que não enganam.
Sem querer - sublinho mais uma vez - entrar em comparações, lembro, a propósito, que quando o miúdo Mbappé começou a dar ao Mónaco, pela mão do nosso Leonardo Jardim, os primeiros passos ao mais alto nível, percebeu-se logo e que ali estava. Percebeu Jardim e percebeu quem o viu.
Não é por não sabermos onde vai chegar um jogador (porque nunca ninguém sabe onde vai chegar qualquer que seja o jogador) que devemos diminuir-lhe o potencial. O futebol, no seu sentido negocial, é, e será sempre, um risco. Mas nada disso fez com que não se perceba o que, intrinsecamente, vale ou não vale um jogador. E Félix vale!

João Félix pode, evidentemente, chegar mais ou menos longe, pode vir a ter mais ou menos sucesso, pode ganhar mais ou menos vezes, pode até nem chegar a ser, no futuro, um dos melhores do mundo.
Mas percebe-se já o talento que tem. E tem muito. Pode, como na opinião de Jorge Jesus, vir a estar algures entre um Rui Costa e um Kaká; pode, como referiu o comentador desta casa, André Pipa, dar (mais ou menos) um ar de Johan Cruyff (calma, não se trata de comparar, trata-se de nos fazer recordar um certo estilo!...), pode ainda lembrar-nos aquele memorável e incomparável João Vieira Pinto, que pensava mais depressa do que os outros, que executava mais rápido e melhor, que também parecia nunca estar no sítio (como parece também com João Félix), e depois aparecia la, como um raio (como também parece com João Félix) para dar cabo de cabeça aos adversários.
Está meio mundo a condenar - e outros meio a desconfiar - da opinião de João Félix pelo Atlético de Madrid. Porque o clube não é um dos maiores, porque o treinador está acabado e porque só se preocupa com a defesa e corta a veia dos capazes mais criativos, porque os 120 milhões vão, a ele, João Félix, causar na cabeça mais mossa do que um soco do Mike Tyson, enfim, meio mundo acha que é má opção por todas as razões e mais uma e o outro meio, pelos vistos, desconfia mesmo que o rapaz, alegadamente aconselhado por Jorge Mendes, e alegadamente movido pela ganância dos 6 milhões ao ano, acabará por perceber que deu um tiro ao lado.
Não é por embirração, juro, mas tenho opinião exactamente contrária e creio mesmo (até onde me é possível crer, evidentemente, porque uma opinião é apenas isso, uma opinião) que João Félix fez boa opção. Porque precisa de jogar num 4x4x2, porque Simeone tem suficiente paixão (como tem, por exemplo, Jesus, se é que o leitor compreende) com o melhorar como jogador (Simeone cortou a veia criativa de Griezmann?...), porque no Atl. de Madrid vai começar já por ser titular (e isso é muito importante na aposta que se faz), ainda porque o Atlético de Madrid não vive a pressão de ter de ganhar títulos como vivem Real, Barça, City, United, Bayern e, finalmente, porque estar em Madrid é estar praticamente em casa.
Como sempre, só o tempo revelará a verdade!"

João Bonzinho, in A Bola

PS: Só pérolas... desde da estátua a Mendes na Luz, ao 'desconhecido' Kepa e até à 'não pressão' do Atlético na Champions!!!

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