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terça-feira, 23 de abril de 2019

Um senhor dentro e fora das quatro linhas

"O comportamento de Shéu foi sempre pautado por uma enorme cordialidade

O futebol, por ser um desporto de emoções à flor da pele, muitas vezes 'puxa' o lado irracional de quem o pratica, por vivê-lo ao limite e querer dele desfrutar ao máximo. Esta frase daria para descrever Shéu, que viveu e desfrutou de todas as emoções que o futebol pode proporcionar. Contudo, a palavra irracional não se adequa. Apesar de ter alinhado numa posição em que há bastante contacto físico, o médio evitava essas situações com a sua qualidade técnica, elegância e invulgar visão de jogo. Notabilizou-se, ainda, pelas boas maneiras e desportivismo.
Passou a infância em Inhassoro, contudo, por forma a prosseguir os estudos, teve de se que iniciou a carreira no futebol, no Sport Lisboa e Beira. Bastaram 'uma ou duas temporadas' para surgir o interesse do Sport Lisboa e Benfica. As duas equipas chegaram a acordo, e para o selar faltava a assinatura do pai do jogador. Este constitui o grande entrave, por desconhecer sequer que o filho jogava futebol. Para agravar a situação, 'o dirigente que o acompanhava teve a feliz ideia de falar nas verbas'. O pai olhou para Shéu de alto a baixo e disse 'não vendo o meu filho a ninguém! Se é uma questão de verbas, compro-o eu!'. O jogador insistiu e conseguiu o seu consentimento.
Em 1970, chegou a Lisboa para representar os 'encarnados'. No ano seguinte, fez parte da equipa de juvenis que venceu o Torneio Internacional, organizado pelo Cagliari, sendo um dos melhores jogadores da competição.
O potencial que demonstrou nos escalões de formação e as boas exibições levaram a que, a 15 de Outubro de 1972, com apenas 19 anos, se estreasse pela equipa de honra. Na época 1975/76, Shéu assumiu-se, finalmente, como titular indiscutível e sagrou-se campeão nacional. A sua influência no futebol 'encarnado' manteve-se por mais de uma década.
Jogador de processos simples e rápidos, tornou-se o 'cérebro' da equipa. Com uma visão de jogo excepcional, encontrava sempre a melhor opção, com vários passes para golo. A sua prestação na final da Taça de Portugal 1980/81 corroborou em pleno com a afirmação, ao fazer as assistências para o hat-trick de Nené. A imprensa ficou deliciada 'em «pantufas», como sempre. Mas de uma eficiência, largueza de vistas, sentido de posição e colocação que o põem no âmbito dessa sua missão específica de «trinco», entre os melhores do futebol europeu'.
Shéu realizou uma carreira sublime, recheada de títulos, todos ao serviço do Benfica, o único clube que representou enquanto sénior. 'Pendurou as chuteiras' em 1989, todavia, ainda hoje permanece 'a dar ao Benfica aquilo que sempre deu: honestidade, sacrifício, amor, carinho e dedicação'.
Saiba mais sobre este esplêndido jogador na área 23 - Inesquecíveis do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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