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terça-feira, 23 de abril de 2019

Whatever works

"S/S Benfica 1998/99 Away (Edição europeia)
A campanha europeia do Benfica na época de 1998/99 acabou em Dezembro. Começou de forma empolgante com uma tareia ao Beitar de Jerusalem num dia quente de verão da Expo 98, seguida de uma derrota em Israel que valeu um puxar de orelhas público de Vale e Azevedo. A fase de grupos arrancou com uma derrota na Alemanha com o Kaiserslautern, uma vitória caseira com o PSV (com um golo sublime de JVP) e uma inqualificável jornada dupla com o HSK (com derrota na Filândia e um 2-2 vergonhoso em casa). A vitória em casa com o Kaiserslautern levou-nos a Eindhoven com o sonho de ainda passarmos, sonho esse que ruiu com um golo de Van Nistelroy aos 88 minutos (depois de estar a ganhar com bis de Nuno Gomes com esta camisola).
A história desta camisola acabam por ser duas que eu me esforçarei para contar de forma resumida, separado-as, de forma original em "História 1" e "História 2".

História 1:
Dezembro de 1998. Coimbra. 4ª matrícula na Faculdade. 2ª vez que tinha deixado crescer o cabelo. 
Faltavam duas horas para o início da partida em Eindhoven e a ansiedade já não me deixava em paz. 
Não me saía da cabeça o borreganço com os filandeses.
Deambulava na zona da Praça da República, já tinha espreitado todos os CDs na discoteca do C.C. Golden e não conseguia parar quieto. Ia ver o jogo no Restaurante Troica, isso estava decidido. Faltava decidir o que fazer nas duas horas que faltavam até ao jogo. Ao lado do Troica havia um barbeiro. À antiga. O corte de cabelo custava 400 escudos se não estou em erro. Entrei.
- "Pente 4 sff."
- "Tem a certeza?"
- "Tenho! Vou rapar o cabelo que tenho pelos ombros e o Benfica vai ganhar a Eindhoven"
Foi quase...
História 2:
Com a eliminação do Dinamo Zagreb e passagem à próxima eliminatória, avancei para a compra desta camisola que já estava há largos meses na wishlist do ebay, tendo em conta que não faria sentido repetir camisolas já usadas este ano e não tendo mais camisolas de versão europeia disponíveis.
Apercebi-me de forma tardia que esta viagem à Alemanha traria menos impacto que o normal: o facto do jogo ser 5ª feira santa apenas consumiria meio dia de férias e com as miúdas de férias em Castelo Branco, a logística familiar estaria bem mais simplificada.
Resultado: viagens mais caras. O habitual. Há uma citação do filme cable guy com Jim Carey que envolve hesitação mas não vou trazer para aqui...
Para combater o dano, resolvi apanhar o voo no Porto, fazendo escala em Lisboa, para partir para Frankfurt. E sim, ficava mais barato, já incluindo o preço do autocarro, da inevitável francesinha e dos danos morais inflingidos pelos colegas de viagem por, estupidamente, não querer ir de directa para a Alemanha.
O dia de jogo teve o ritual habitual quando se viaja: deixar rapidamente as tralhas no hotel e partir forte para o pré-jogo. Almoço bem calórico e as primeiras canecas debaixo de um sol fabuloso e botões de camisa marotos. O caminho para o estádio foi feito através dos autocarros designados para o efeito, com partida no meeting point indicado. Bonita experiência de chegada ao recinto, onde foram viradas mais umas cervejas de forma firme e confiante.
A chegada ao estádio, depois de contornadas as vicissitudes dos bilhetes para sectores diferentes, encontrei uma grande companhia para o jogo e um grande ambiente no estádio. Foi abismal. Antes, durante e depois do jogo.
Foi o jogo em que mais cantei. Foi o único jogo em que fomos abafados.
Saí sem voz, sem as meias-finais mas com o coração cheio e com um enorme orgulho em perceber que consigo fazer parte do chamado "futebol positivo" que o Markus me referiu depois e me deixou boquiaberto mais uma vez.
Perdemos na Alemanha. Pela terceira vez comigo na bancada. 
Desta vez não foi tareia. Foi uma eliminação de uma competição europeia com o mesmo número de golos marcados e sofridos. São as regras.
Com um golo em fora de jogo. Não são as regras mas é bem melhor que a porcaria do VAR.
No campo faltou um bocado de garra no início (e a pressão alta que o Lage nos habituou). Faltou Rafa ao jogo. E a bola do Salvio que bem podia ter ido para dentro.
Foi quase...

Sem arriscar muito por generalizações, a ideia que tenho do povo alemão é ser frio mas respeitador. E mais uma vez, a experiência que tive na Alemanha foi essa: à entrada do estádio, estávamos a beber cervejas normalmente no meio deles. Cada um na sua. A única abordagem que tive foi um rapaz, que pela sua tez não deveria ser germânico, que me disse:"Love your shirt. And with Joao Pinto on the back. Just perfect". E foi à vida dele.
Não tenho pretensão nenhuma em influenciar ninguém nem contribuir para a eterna discussão do que é melhor ou pior. Mais do que procurarmos o melhor, gosto de pensar que devemos encontrar o que se adequa e encaixa melhor em nós. O chamado "Whatever Works". Pegando na referência, o genial filme do genial Woody Allen com os não menos geniais Larry David e Evan Rachel Wood (mais ao nível da carinha laroca, confesso) tem uma tradução para português que, a meu ver, não é genial. Mas neste caso, encaixa perfeitamente: o futebol na Alemanha "tem tudo para dar certo".
Para mim, a experiência de ver futebol na Alemanha é incomparável.
Por isso, sempre que o Benfica jogar lá, farei todos os possíveis para estar presente.

Whatever Works - https://www.imdb.com/title/tt1178663/?ref_=nv_sr_1?ref_=nv_sr_1

PS: Daqui a pouco mais de duas hora jogamos em casa com o Marítimo. Passem pela antevisão do jogo.
Para mim e até ao fim destes cinco jogos, a receita é simples: todos nus!"

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