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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Fim à violência

"No caso do futebol (mas não só) o que se viu foi o escalar de situações tristes e embaraçosas

Nos últimos anos tenho sido crítico feroz da aparente impotência com que estruturas e organizações de relevo não conseguiram terminar ou, pelo menos, abrandar o aumento da violência física e verbal que assolou o desporto português. É certo que foram várias as mensagens que apelaram, repetida e pacientemente, ao fair play, mas, apesar de bondosas e bem intencionadas, jamais foram verdadeiramente escutadas. Pelo contrário. No caso do futebol (mas não só), o que se viu foi o escalar de situações tristes, embaraçosas e potencialmente graves, daquelas que fazem corar de vergonha todo um país. Um país que ainda é campeão europeu de futebol e que é quase sempre bem-sucedido em muitas outras modalidades, colectivas e individuais. Houve agressões árbitros (até no futsal), insinuações graves no hóquei e no andebol, conflitos no rugby (?) e claro, toda uma panóplia de momentos deprimentes e inesquecíveis no futebol. Vendo isto da lua, como me parece sensato, é caso para dizer que a bota não bate com a perdigota, certo?
Reparem: temos talento individual e colectivo às paletes, organizações de excelência, gestões competentes, mas, vá-se lá saber, insistimos em sujar tudo isso com estratégias, discursos e opções de bradar aos céus! Quase todo o tipo de violência a que assistimos é, não nos esqueçamos, fruto de exemplos que vêm de quem tem responsabilidades directas ou indirectas no jogo. E nós, que até gostamos de bola a sério, jogada no relvado por quem importa, temos de engolir diariamente essas peripécias porque, na verdade, muita gente lhe dá voz. É como se todos soubessem que se trata de um pântano perigoso mas insistem em ser uma das espécies que habitam por lá. Porque no meio de tanto lodo, há quem procure ali alimento garanta a sua sobrevivência. Opções.
Talvez por estar cansado de apelar repetidamente à sensatez e ao desportivismo, o conselho de ministros - naturalmente influenciado pela intervenção oportuna do presidente da FPF no parlamento (em Outubro de 2017) - deu passo importante ao criar a Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto. Com ela aprovou também a alteração do regime jurídico do combate à violência, racismo, xenofobia e intolerância nos espectáculos desportivos. Segundo o Governo, a ideia é, em articulação com as forças de segurança e com a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, aumentar a fiscalização nessas matérias.
Haverá, seguramente, maior intervenção para dissuadir comportamentos e para penalizá-los, através da instauração de autos de notícia ou de denúncia. Mais. Reduziu-se o prazo para que as forças de segurança remetem alguns desses autos, procurando tomar a resolução de todos os processos mais célere e eficaz. No fundo, espera-se um escrutínio mais apertado. Espera-se mais medidas dissuasórias e mais coimas. Naturalmente que uma andorinha não faz a primavera e há muito ainda para construir neste caminho, mas foi dado um passo significativo e é importante sublinhá-lo. E é importante porque retira o Estado de uma imagem de inércia, que até então lhe parecia atribuída e que, percebe-se agora, está ultrapassada. Esperamos que com estas medidas (e com o agravamento das sanções desportivas), o comportamento de alguns responsáveis seja um pouco mais ético, saudável e consciente.
Não se pode que sorriam quando perdem ou que silenciem a voz quando se sentem lesados, prejudicados. Apenas que o façam com educação e elevação, nunca esquecendo o peso que as palavras e acções têm. Quem tudo faz para ganhar, está na verdade, mais perto de perder, mesmo que ache que não. A história está repleta de estórias dessas."

Duarte Gomes, in A Bola

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