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sexta-feira, 29 de junho de 2018

Comunicação por fora e por dentro

"Um dia destes, à tarde, depois da concisa conferência de imprensa do presidente Luís Filipe Vieira, dei comigo a ver a SIC Notícias, onde peroravam três 'independentes' causídiacos, todos com ferrete verde. O que mais custa, nos dias que correm, é ver a sanha assumida, agora despudoradamente, por órgãos de comunicação outrora tidos como neutrais relativamente às normas da informação e por opinadores encartados das suas sabedorias profissionais. O mais acabado desprezo pelo sentido ético ou pelo rigor deontológico com que uns e outros se apresentam diante dos públicos parece ser o novo modelo generalizado da comunicação portuguesa - já ninguém disfarça, mesmo nos fora tidos como mais 'sérios' e convencionais.
Os incautos espectadores, ouvintes e leitores que, dantes, só de longe e de tempos a tempos, percepcionavam aqui e ali, um sinal ou uma leve indicação acerca da preferência deste ou daquele jornalista quanto ao tema em análise, têm cada vez mais que se conformar agora, com o descaramento e a impudícia com que os 'jornalistas' bolçam sentenças e apresam juízos, com que os 'moderadores' conduzem capciosamente os debates e sem que sejam respeitados e avocados os soberanos princípios do contraditório e da dúvida. Os programas cumprem-se em promíscuos rituais pastosos em que se especula e se insinua, não para esclarecer, não para destrinçar, não ao serviço das realidades e da verdade dos factos, mas, antes e exclusivamente, para escarafunchar e induzir conclusões previamente estabelecidas em pérfidos guiões, conforme convenha aos seus próprios e respectivos interesses pessoais, de classe, de partido, de clube ou de corporação dos protagonistas de serviço e às conveniências e alinhamentos comerciais dos seus patrões.
Se formos a ver, tirando os canais do serviço público, em que, salvo raras excepções, patentemente tudo é sempre só azul por fora e por dentro, a 'informação' de cada um dos canais generalistas tem pelo menos duas cores: uma que serve para fora, e outra (ou outras duas), que verdadeiramente a(s) define(m) lá por dentro, para executar inflexíveis dictats editoriais anti-benfiquistas. A primeira cor que domina a imagem e o ambiente dos telejornais das restantes estações portuguesas - o mais importante de todos os programas de uma TV - nos cenários, nos mobiliários, nas auto-promoções e nos grafismos, normalmente só serve para atrair e enganar o espectador desprevenido: sem se aperceber da manigância, ele é inconscientemente levado a identificar-se com a cor que lhe vai na alma...
Mas os reiterados factos nos induzem a supor é que, nas sedes de decisão, os elencos das redacções estejam, afinal, a ser preferentemente constituídos não se acordo com critérios profissionais, mas segundo alinhamentos clubísticos, partidários ou de outras crenças, desde que determinados pelas chefias, de modo a que possam cumprir-se os mais enviesados desígnios. Os canais, à primeira vista distraída, até parecem que 'são' todos do Benfica. Mas, no fundo, no fundo, dominantemente, ali só se deixa que os artistas pensem, escrevam, falem ou vomitem... desde que seja em azul ou, então, em verde."

José Nuno Martins, in O Benfica

4 comentários:

  1. este senhor escreve uns artigos geniais,pena é que esteja submetido ao seu patrão e porconseguinte,tirar grande parte da ética exigida no seu texto.

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    1. Se quiser vaselina, algum taliban amigo há-de emprestar.

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  2. Onde se lê "causídiacos", leia-se causídicos.

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  3. Excelente esta Crónica de JNMartins, expondo com clareza o Tentáculo do Polvo Azul correspondente aos mérdia nacionais, o Tentáculo que mais activo continua do verdadeiro Polvo... Não deixando dúvidas de que o denominado Polvo Encarnado não passa de um holograma dos criminosos que têm, nos últimos anos, adoptado a estratégia do velho dito popular - "ó filha, chama-lhe put@ antes que ela te chame a ti".

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