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sexta-feira, 29 de junho de 2018

Linguagem de guerra está a mais

"Se na Grécia Antiga existisse futebol, certamente os gregos proclamariam um período de paz durante o Campeonato do Mundo, tal como faziam durante os Jogos Olímpicos, mas, presentemente, tão importantes competições desportivas não são motivo sequer para afastar a retórica militar do desporto-rei.
A derrota da Alemanha frente à Coreia do Sul foi alvo de comentários nas redes sociais que fazem novamente lembrar os períodos mais trágicos da Segunda Guerra Mundial. Eis alguns dos comentários portugueses: "Desde Estalinegrado que a Alemanha não sofria uma derrota tão pesada na Rússia", "Isto de ficar surpreendido por a Alemanha sair derrotada da Rússia só mostra que não aprendemos nada com a História".
Na Rússia, felizmente, este tipo de comentário não foi frequente, mas surgiu nalguns meios de informação. O jornal regional ‘Brianskie Novosti’ escreve: "A derrota da Alemanha no campeonato da Rússia deu azo a brincadeiras. Alguns adeptos assinalaram que os alemães não conseguiram novamente chegar a Moscovo, até ao jogo da final", acrescentando que "outros prestaram a atenção de que seria simbolismo completo se o jogo se realizasse em Volgogrado".
Volvogrado é o actual nome de Estalinegrado, onde as tropas hitlerianas sofreram uma das mais pesadas derrotas no confronto contra o Exército Vermelho entre Julho de 1942 e 2 de Fevereiro de 1943. A comparação com a Batalha de Moscovo, em que os alemães foram travados às portas da capital soviética no inverno de 1941-1942, está também presente num comentário de um adepto inglês: "A Alemanha não conseguiu chegar a Moscovo nem sequer no verão".
Talvez esteja a ser demasiado rigoroso e moralista, mas continuo a defender que não acho piada nenhuma à comparação entre qualquer competição desportiva e a guerra.
Daí também não ter ficado indiferente à ‘marcha militar’ com o título "Assalto ao Kremlin" e cuja letra fala da intenção da "conquista de Moscovo". Considero que se trata de uma opção claramente infeliz da RDP, pois o assalto ao Kremlin não dá direito ao ‘caneco’. Se ainda fosse "assalto" ao ‘Luzhniki’ ou ao ‘Mordóvia Arena’…
Prefiro, sem dúvida, o humor do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao responder à pergunta de Donald Trump "se Cristiano Ronaldo se candidataria a presidente contra si". "Ele não venceria", retorquiu o dono de Belém ao da Casa Branca e rematou certeiramente: "Portugal não são os Estados Unidos". Se a nossa selecção jogar com a mesma convicção no sábado e Ronaldo estiver tão afinado como a língua do nosso Presidente, deixará o Uruguai pelo caminho e, quem sabe, venha a defrontar a Rússia na final, mas sem "assaltos"."

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