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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Como se trabalha a parte mais importante do atleta? - I

"«Ao intervalo disse aos jogadores que a diferença entre estar no SC Braga ou no Benfica, Sporting, FC Porto ou Real Madrid são questões mentais – é preciso ser constante seja contra quem for. A diferença para se ser um jogador top é o factor mental. O maior adversário residia dentro de nós.» 
Inicialmente o título do artigo começou por ser ‘Qual a parte mais importante do atleta?’ Após uns segundos percebi que essa pergunta já nem tem razão de existir. Rui Oliveira, agora com outras tarefas no futebol, dizia-me numa entrevista para um livro que a parte mais importante de um atleta situa-se do pescoço para cima. Vários têm sido os treinadores e atletas de alto rendimento a mencionarem que aquilo que diferencia um atleta que se mantém no topo quer no nível quer no rendimento desportivo é a capacidade mental e emocional para suportar e superar as dificuldades e desafios que constantemente se colocam. Bem como a inteligência (e sabemos que no desporto coletivo e individual existem algumas das oito inteligências que são mais importantes do que outras) para perceber os constrangimentos e oportunidades durante a competição e relacionar todas as variáveis da competição.
A declaração que se encontra na parte inicial do artigo é de um treinador que admiro. Das poucas vezes que tivemos oportunidade de conviver e falar, sempre se diferenciou por uma visão muito holística do que é a competição e do que é essa peça do puzzle que é bastante importante em qualquer modalidade, a parte humana do atleta. O Abel, agora no Sp. Braga, tem conseguido falar muitas vezes do ser humano sem fugir ao tema do futebol e falar de futebol sem deixar fugir a importância que o atleta tem para que todos gostemos de vibrar com os jogos.
Penso que o Abel Ferreira nos tenta transmitir com aquela afirmação que é a mente do atleta e da equipa que os mantém mais vezes no topo. E que a mente necessita de se manter focada naquilo que são os objectivos colectivos o mais tempo possível durante os momentos que são importantes para que o sucesso apareça e se mantenha. E esses momentos são mais do que os treinos ou os jogos. Querer algo não é a mesma coisa que estar focado e concentrar os esforços para o conquistar. Manter a eficiência e a excelência durante muito tempo é algo que a grande maioria dos seres humanos não consegue. Para lá de algo que Abel também transmitiu agora: as equipas não jogam sozinhas e por isso, não basta querer, estar focado e ter excelência nas suas acções.
E como é que se treina a parte mental e emocional? Já o transmiti aqui e há algo que após tanta investigação me parece que vai sendo mais óbvio: existe na nossa identidade uma parte que está intimamente relacionada com o êxito nas nossas tarefas e advém do modo como gostamos de estar perante as acções, desafios e oportunidades que podem até roçar a insegurança e a zona de desconforto. E isso está relacionado com o grau da nossa autonomia que queremos assumir e sentimos que dominamos, bem como o grau de parentesco que temos com as acções e com o resultado das nossas acções. Sentirmos que temos 100% ou muito peso naquilo que são os resultados das nossas acções é bastante impactante. Mas não atrai todos, atenção. Sentirmos um grau de importância elevado e de parentesco com as consequências das nossas acções é também muito impactante. Mas mais uma vez, não satisfaz todos, atenção.
Para treinarmos isto, os peritos na área perceberam duas coisas: i) começar-se mais cedo dá uma clara vantagem porque podemos intervir em situações e em idades onde a identidade está mais flexível a aceitar novos pontos de vista e ferramentas; ii) as mesmas dinâmicas do trabalho da autonomia, gestão emocional, foco ou resiliência não funcionam de igual modo para todos. Mesmo que fosse possível indagar estatisticamente o grau de competência técnica, táctica e física de um atleta, as mesmas ferramentas para trabalhar a vertente psicológica teriam certamente resultados distintos. 
Antes de terminar esta primeira parte do artigo, deixar mencionado que existem duas correntes que defendem padrões que nos permitem ter atletas fortes mentalmente. Conviver com os melhores e mais exigentes proporciona mais oportunidades para sermos também mais focados em sermos melhores e durante mais tempo. Atletas que durante o seu percurso de construção da sua identidade pessoal, social e desportiva tiveram que conviver com dificuldades sociais, económicas e desportivas diferenciadas (o tal desporto de rua) estão melhor preparados para aquilo que o Abel referia."

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