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quarta-feira, 19 de abril de 2017

O escritor não merece o cordel

"Desde mais ou menos a puberdade que sou admirador confesso da obra de António Lobo Antunes, um génio literário que, entre outras virtudes, sabe escolher como ninguém os títulos para as suas obras. Alguns deles, com explicações mais ou menos literais, caem como sopa no mel no contexto do futebol nacional.
Do Manual dos Inquisidores nem vale a pena falar muito, basta olhar os programas de domingo e segunda-feira à noite; para o Auto dos Danados é ver a relação entre os grandes, nos quais os respectivos departamentos de comunicação fazem muitas vezes, a Explicação dos Pássaros e os presidentes, por vezes, uma Exortação aos Crocodilos. Que farei quando tudo arde? - deve ser o que pensam os responsáveis pelos organismos dirigentes do futebol nacional quando o Tratado da Paixão das Almas de cada um dos clubes se sobrepõe a quase tudo. O Esplendor de Portugal foi o feito alcançado pela Selecção Nacional no Euro-2016, no qual, na final, os portugueses bem podem ter dito aos franceses: Ontem não te vi em Babilónia...
No Arquipélago da Insónia é onde devem estar esta semana Rui Vitória e Jorge Jesus para tentarem arranjar estratégias, métodos, fórmulas e sistemas para vencerem o derby de sábado. Na Natureza dos Deuses é onde pretendem ficar os maiores ídolos de um e outro clube, na certeza de que os heróis do jogo deverão demorar alguns dias até descerem à terra e dizerem Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo.
Lobo Antunes já foi candidato ao Nobel da Literatura mas nunca levou o galardão para casa - Saramago é, até ao momento, o único distinguido nesta categoria. O escritor é um apaixonado pelo futebol e um homem de alta literatura. Os seus títulos têm muita aplicação ao futebol cá do burgo, que, por muito que nos custe, muitas vezes, não passa de um romance de cordel. Ele não merece isto. Nós também não."

Hugo Forte, in A Bola

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