Últimas indefectivações

sábado, 9 de novembro de 2024

Uma derrota anunciada


"Este é um texto difícil de escrever.
Por um lado estou triste com a exibição e resultado de ontem. Por outro, e olhando para a equipa que temos, acho que seria quase impossível fazer melhor. E isto não faz de mim um benfiquista menos exigente ou resignado, mas uma equipa como o Bayern consegue evidenciar todos os defeitos de um plantel. E ontem foi feio. Já lá vamos.
Demos uma imagem pobre num dos principais palcos europeus e mentiria se dissesse que não me sinto desiludido, mas acho que este é um bom momento para fazer uma introspecção sincera. Não podemos esquecer que esta é a mesma equipa que há pouco mais de 1 mês nos maravilhou com uma exibição de encher o olho frente ao Atlético de Madrid (que ontem foi vencer a Paris, já agora). Então o que mudou? Vou tentar explicar a minha visão da coisa sabendo à partida que é difícil agradar a todos e que muitos nem vão passar do ponto 1 porque... enfim, estamos em 2024 e pouca gente tem tempo para ler coisas desalinhadas com as suas ideias.

1 - A estratégia
Poupanças! Medo! Estas duas palavras apareceram muito associadas ao 11 e à exibição da equipa. Creio que é aqui que vou perder metade dos leitores, porque acho que a estratégia e tática foram bem pensadas. Na teoria, tudo o que Bruno Lage preparou para este jogo fez sentido. Reforçou o centro da defesa para libertar os alas para que pudessem fazer todo o corredor; reforçou o meio-campo com 3 médios em que um era mais defensivo e os outros dois tinham a responsabilidade de fazer circular a bola. Akturkoglu no apoio ao ponta-de-lança, Amdouni, que tinha como missão dar profundidade à equipa. Não vejo aqui nada de escandaloso nem descabido. Continuo convencido que a ideia era correta e, muito provavelmente, tomaria decisões semelhantes nas mesmas circunstâncias. Até a gestão do Di Maria fez sentido para o palco e adversário! Sendo assim, pouco tenho a apontar ao nosso treinador. Começo bem, não é? Continuemos.

2 - O contexto
O nosso e o deles. 
No nosso tivemos a surpresa, que já não é surpresa nenhuma, da lesão do Bah que condicionou de forma evidente a nossa capacidade de sair a jogar. Não tanto pela ausência do dinamarquês, mas mais pelo seu substituto que, apesar de ter feito uma exibição qb, continua a não mostrar argumentos para jogar a este nível. Sem Bah e com Carreras amarrado do lado esquerdo, ficámos sem capacidade para sair pela alas e foi fácil para o Bayern controlar o jogo no nosso meio-campo. No deles, é preciso não esquecer os resultados do gigante bávaro contra os principais clubes portugueses e como isso provavelmente pesou na abordagem a este jogo. O Sporting já lá levou 7, o Porto 6 e o Benfica 5 por três vezes. O melhor que conseguimos foi um empate a 2 em casa e duas derrotas por 1-0 na Alemanha. E isto pesa. É inevitável que este cenário esteja na cabeça de toda a gente quando se joga frente a este adversário em particular. É um encaixe péssimo para as equipas portuguesas e, pior ainda, não temos armas físicas para contrariar o poderio do adversário. E é aqui que me parece estar a chave deste insucesso.

3 - O jogo
O Bayern não conseguiu rematar à nossa baliza nos primeiros 30 minutos e isso significa que esta parte da estratégia foi bem pensada e executada. Linhas baixas, sectores compactos, jogadores solidários. Nesse sentido tudo correu bem e o 0-0 ao intervalo abria boas perspectivas para, finalmente, termos um resultado positivo em Munique. Mas se esta parte da estratégia correu bem, a outra correu muito mal. A ideia, óbvia, era baixar linhas e aproveitar contra-ataques para ferir o adversário. Tirar-lhe o espaço das nossas costas e aproveitar o adiantamento da defesa contrária para explorar ataques rápidos. O problema é que não temos jogadores capazes de jogar assim, o que é um problema crónico nos nossos plantéis, e fomos completamente engolidos nos 90 minutos acabando por perder 1-0 sem qualquer ponta de dignidade. Não fomos humilhados no resultado, mas a exibição foi francamente pobre. Nós, os adeptos, sabemos; os jogadores sabem; o treinador também. E o diretor de comunicação, que esteve ao lado de Bruno Lage na conferência de imprensa após o jogo a pedir que assumisse a responsabilidade, também sabe. Passámos uma má imagem como clube e isso deixa-me profundamente triste. Se preferia jogar aberto e ser goleado? Não. Mas isto não foi muito melhor. Senti-me como um adepto do Pevidém provavelmente se sentiu ao defrontar o Benfica e não sei como lidar com essa ideia.

4 - Um problema crónico
Então se Bruno Lage fez, na minha opinião, uma leitura correta do adversário e da estratégia, o que falhou? O mesmo de sempre. O Benfica não tem jogadores fisicamente capazes de batalhar contra um adversário destes. Não há velocidade, não há tamanho, não há agressividade. E isto tem muito a ver com o perfil de jogadores que continuamos a contratar para determinadas posições. Não me entendam mal, não acho que temos de ir a correr contratar gazelas com 2 metros para todas as posições, mas existem sectores onde a aceleração, potência, velocidade e capacidade técnica são fundamentais para dar à equipa armas para ultrapassar adversários que são muito fortes fisicamente. Dos jogadores que estiveram em campo com a nossa camisola, apenas um tem velocidade e potência, mas jogou sempre sozinho e foi completamente abafado pelos adversários, acabando por sair ao intervalo sem glória. Então e que posições são essas onde é fundamental ter jogadores com argumentos físicos? Na minha opinião, que vale tanto como as outras, são estas: laterais, extremos e avançados. Olhando para os nossos laterais, só Bah tem velocidade, mas longe de fazer a diferença com esses argumentos. É só mais rápido que os outros colegas da mesma posição e sofre quando apanha um adversário mais rápido pelo seu flanco. Carreras é muito interessante a nível técnico, mas não tem aceleração. Nos extremos... talvez Tiago Gouveia tenha algumas destas características, mas para além de ausente é um pouco irregular. Ou seja, temos bons jogadores tecnicamente, mas são facilmente controlados quando têm de jogar mais isolados apostando no 1 Vs 1 e contra-ataque. Os nossos avançados são grandes, mas, não me levem a mal, não têm sido grande coisa. Ontem o Pavlidis foi completamente incapaz de segurar uma bola que fosse. Parecia um menino a jogar entre Palhinha, Upamecano, Min-Jae... e basicamente toda a restante linha defensiva alemã. Falta, ou pelo menos faltou neste jogo, agressividade! E assim fomos constantemente empurrados para a defesa enquanto ficámos na expectativa à espera de um milagre do futebol. Não aconteceu e perdemos.

5 - Qual é a solução?
De imediato? Nenhuma. Temos de jogar com o que temos e é algo que, provavelmente, não se resolverá tão depressa. Mas sinto que devemos começar a olhar para esta questão de outra forma porque o futebol de alto nível em 2024 não é amigo de equipas pouco agressivas e sem capacidade física. Assim seremos sempre comidos, seja em Portugal, onde os nossos adversários têm apostado mais neste perfil de jogadores com grande sucesso, como na Europa.
Ganhar ao FC Porto."

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