"Portugal parece andar para trás no que diz respeito a projetos sustentados de treinadores num clube. Será tudo uma questão de economia. Mas também há a própria dinâmica dos treinadores...
HÁ poucos dias, Bernardo Silva e Pep Guardiola constatavam o óbvio: o crescimento sustentado do Sporting no panorama futebolístico português deveu-se a um trabalho de continuidade, desenvolvido pelo homem que agora ruma a Manchester para ser rival semanal dos que terça-feira foram rivais pontuais em Alvalade, para a Liga dos Campeões.
Depois do próximo domingo, dia da despedida efetiva de Rúben Amorim do Sporting, em Braga, não restará na Liga portuguesa um único treinador que tenha começado a época anterior, 2023/2024, ao serviço do respetivo clube, salvas as exceções das duas equipas que subiram da II Liga, Santa Clara e Nacional (será por acaso?).
Havia outro, Luís Freire, mas foi despedido esta semana do Rio Ave depois de perder cinco jogos, quatro dos quais contra as quatro equipas teoricamente mais poderosas do campeonato — Sporting, Benfica, FC Porto e SC Braga —, não perder em casa há quase um ano e ter passado ano e meio sem poder contratar jogadores. Subiu a equipa da II Liga à primeira, mas tudo se esquece com demasiada facilidade.
Após um período marcado por aparente estabilidade, que parecia indiciar novos tempos, com a longevidade de treinadores como Sérgio Conceição, Rúben Amorim ou o próprio Luís Freire, o futebol português voltou ao rame-rame das chicotadas por dá cá aquela palha, órfão de projetos e refém de conjunturas que podem nada querer dizer. Ou então podem querer dizer muito, como por exemplo ter gestões profissionais e empresariais que, dada a natureza negocial do futebol, se regem por princípios de valorização de ativos para posterior venda, mesmo que os ativos não tenham tido o aval do treinador. Se os ativos não agem pode haver problemas. Há saídas de técnicos, já esta época, que deixam gatos escondidos com rabos enormes de fora no que respeita à sagrada autonomia dos treinadores sobre a constituição das equipas. Mas caberá aos treinadores denunciá-lo com todas as letras, se acharem pertinente.
Há também que ter atenção, nesta dança eterna, a dinâmica da própria classe: todos amigos na teoria, mas concorrentes no que ao mercado de trabalho respeita. Será a lei da vida. Por cada treinador que é despedido há um que volta a ter emprego. E muitos, sabemo-lo, posicionam-se favoravelmente para o que der e vier, de forma mais ou menos mediática. É a economia, estúpido..."
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