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terça-feira, 12 de março de 2024

Abel está perto de ser para o Brasil o que Arsène Wenger foi em Inglaterra


"Abel Ferreira deu depoimento importante após a vitória do Palmeiras sobre o Botafogo, de Ribeirão Preto, pelo Campeonato Paulista. Lembrou a todos que só recebeu um cartão amarelo nesta temporada que se inicia no Brasil. Que suas penas anteriores foram cumpridas e que nunca arbitrou partida nenhuma.
Nem nos treinos é ele que leva o apito à boca.
As lembranças acontecem por causa do preconceito exibido pelo diretor do São Paulo, Carlos Belmonte. Depois do empate no Dérbi paulista no Morumbi, em 3 de março, o dirigente apontou à porta do vestiário do árbitro Matheus Candançan e gritou que quem apitou foi "o português de merda."
Duas semanas antes, um antigo presidente do Corinthians, Mario Gobbi, afirmou que Abel quer mudar o futebol do Brasil. Tudo porque diz que o calendário brasileiro tem jogos demais, o que é avalizado por toda a imprensa do país há mais de trinta anos.
Abel não é o primeiro português a dirigir um time brasileiro e já houve muitos vencedores por lá. Jorge de Lima, Joreca, foi campeão três vezes pelo São Paulo, na década de 1940.
Cândido de Oliveira dá nome à nossa Supertaça e dirigiu o Flamengo, em 1950.
Mesmo assim, Abel parece às vezes estar para o Brasil como Arsène Wenger está em Inglaterra.
Recorda-te do que disseram os ingleses à chegada do primeiro francês à Premier League? "Arsène, who?", ao perguntarem quem era. Muito piores os anos seguintes. Arsène foi acusado de tentar perverter o futebol em Inglaterra, por sugerir o fim das bebidas alcoólicas, mais tarde relatadas como um problema em livro de Alex Ferguson, britânico.
Wenger tornou-se o primeiro nascido fora da Grã-Bretanha e Irlanda a ganhar o campeonato. Também foi acusado por mudar a alimentação dos atletas, pedir a troca de carne vermelha por frango, de introduzir massa nas refeições pós-partidas. Tudo o que hoje é consensual no mundo, Wenger foi acusado de fazer.
Mas nunca apontado como precursor, embora seja o primeiro não britânico a vencer.
Muitos anos mais tarde, Gary Lineker teve de se defender por imitar o sotaque francês de Arsène Wenger. Jurou não haver xenofobia, como Belmonte disse não existir no episódio com Abel. No Brasil, há até os que se apoiam na sociologia, para dizer que não se pode ser xenofóbico com alguém do país colonizador.
Ora, o Rio de Janeiro foi capital de Portugal entre 1808 e 1822. Se não há xenofobia, há preconceito. Ou português de merda é um elogio, por acaso? 
Abel fala do calendário, porque tenta ajudar o Brasil, o país em que reside e trabalha. Paga impostos, também. Abel xinga árbitros, mas não é o único. Fernando Diniz ganhou a Libertadores pelo Fluminense e recebeu mais cartões vermelhos do que Abel Ferreira. Abel é acusado de chutar microfones de televisão à margem do campo. Jorge Sampaoli fez o mesmo.
Diz-se que Abel reclama muito com os árbitros e assistentes. Mano Menezes, Muricy Ramalho, Luiz Felipe Scolari, Renato Portaluppi... Todos fazem, porque os tribunais não punem.
Arsène Wenger fazia.
Em 2009, quando já vivia em Inglaterra havia 23 anos, Wenger reclamou de um gol anulado de Van Persie, contra o Manchester United. Chutou para o alto uma garrafa de água e foi excluído de campo. Subiu para as tribunas de Old Trafford.
Sem lugar para se sentar, pôs-se em pé em frente ao campo, abriu os braços e perguntou ao árbitro para onde deveria ir. Foi insultado por adeptos do Manchester United e condenado pelos analistas britânicos.
Para sempre será lembrado como o primeiro treinador a ganhar o campeonato inglês sem ter nascido em Grã-Bretanha ou Irlanda.
Abel Ferreira está a um troféu de ser o mais laureado treinador da história do Palmeiras, o clube mais vezes campeão do Brasil.
Está para os brasileiros, de certo modo, como Arsène Wenger está para os ingleses."

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