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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

3 notas: Rafa, a estatística e a geopolítica


"Estou a um golo ou uma assistência do Rafa de me tornar uma daquelas pessoas que cria uma petição online exigindo a renovação do contrato

Rafa é para renovar
Mais uma semana, mais uma vitória do Benfica, mais um resultado folgado, mais um jogo resolvido sem grande tempo para apreensão, com um rol de craques no relvado - Di María, Rafa e Neres - que há coisa de poucos meses eram dados como taticamente incompatíveis e agora desbloqueiam jogos em conjunto como se eles é que percebessem de futebol. É o que a gíria futebolística convencionou de responder no campo. Como se isto não bastasse, a jornada terminou com dois pontos conquistados ao segundo classificado, tudo isto a poucos dias de o defrontar para a Taça de Portugal.
É uma daquelas semanas que vale mais do que 3 pontos, justamente quando a equipa mais precisa de razões para acreditar que é capaz de mais. Se na primeira época de Roger Schmidt tivemos uma equipa que começou num topo quase inimaginável e foi descendo até à realidade, desta vez é crível que o inverso possa acontecer e cheguemos à fase decisiva da época com os melhores jogadores no melhor momento de forma.
No centro de tudo isto, um tal de Rafael Alexandre Fernandes Ferreira da Silva, um rapaz com 5 nomes e um nome artístico de 4 letras. Há poucos meses anunciou que ia ter saudades do Benfica e desde então tem feito tudo o que está ao seu alcance para nos mostrar tudo aquilo que vamos perder. A história podia ser tristemente romântica se o problema fosse só encontrar uma miúda gira para esquecer os amores antigos. Há muitas miúdas giras por aí, mas não tantos jogadores com a capacidade de acelerar o jogo do Benfica.
A coisa torna-se mais preocupante quando recuo no tempo e me lembro das dificuldades que tivemos em encontrar substitutos para outras posições bem ocupadas, dos laterais ao centro do terreno. Não vamos mais longe. Por cada pessoa que diz que fizemos bem em deixar Grimaldo ir à sua vida, conheço nove que agora assistem a jogos do Bayer Leverkusen com lenços de papel por perto. Feitas as contas, estou a um golo ou uma assistência do Rafa de me tornar uma daquelas pessoas que cria uma petição online exigindo a renovação do seu contrato. Suplico ao presidente Rui Costa que evite esse cenário.

Estatística entre a vida e a morte
Desde há uns anos que celebramos as estatísticas como se a maioria de nós não tivesse passado os seus anos escolares a desprezar a matemática. É um fenómeno notável, a que reajo geralmente com um misto de curiosidade e cinismo. Não duvido que a utilização de dados quantitativos possa complementar a avaliação qualitativa que caracterizou grande parte da evolução dos nossos desportos favoritos, mas há dias em que me divido.
Nos últimos dias, tropecei em dois casos que me fazem balançar entre a cedência à frieza dos números e a criminalização das estatísticas de jogo. O primeiro exemplo deu-se quando discutia com um amigo se Roger Schmidt é ou não o treinador ideal para o Benfica. Argumentos da mais variada espécie eram esgrimidos como se fizéssemos parte de um clube de debate para o qual tivéssemos chegado preparados com dossiês e um longo estudo do tema em análise, quando na verdade tinha apenas calhado um de nós ligar ao outro e a conversa ir parar ao tema que nos tornou amigos.
Tudo isto decorria ao ritmo de uma partida da Premier League - de um lado eu, a tentar pacientemente explicar que estou perfeitamente disposto a considerar outro treinador na próxima época ou depois, assim que algum melhor apareça e a mudança se justifique de forma clara, ou seja, caso o Benfica falhe os objetivos desta época; do outro lado, o meu amigo, absolutamente convicto de que o alemão já não é solução e que tudo o que corre de feição acontece apesar de Schmidt e não por causa dele.
O jogo prosseguia com um empate a 3 bolas e a discussão aproximava-se dos últimos 5 minutos de jogo quando recebo uma notificação no telefone. Dizia assim: «Roger Schmidt é o terceiro treinador com melhor percentagem de vitórias ao serviço do Benfica.» Nem eu esperava um argumento tão desarmante. Senti-me um pouco como uma equipa que segue jogo quando vê o guarda-redes adversário lesionado, mas não me contive. Puxei o pé direito atrás e li a notificação em voz alta já a celebrar golo como o Neres antes de a bola entrar. A situação também funciona com mãos de poker: foi como se o meu amigo tivesse batido um full house cheio de si e eu lhe devolvesse um royal flush. A conversa esfriou a partir daí, mas é com ele que tenciono celebrar os próximos títulos do Benfica daqui a poucos meses.
No extremo diametralmente oposto, uma estatística para a qual me chamaram a atenção ontem, segundo a qual Di María é agora o jogador com mais posses de bola perdidas na Liga Portuguesa. Curiosamente, dá-se o caso de ser também o melhor jogador desta liga, uma unidade absolutamente decisiva do Benfica 2023/2024, e, já agora, um dos últimos génios do futebol latino, seguramente o único que Portugal tem o privilégio de ver jogar semanalmente. É sabido que a estética e a estatística não se sentam à mesa, mas seria bom que alguém inventasse métricas novas. Em vez de posses de bola perdidas, talvez faça mais sentido começarmos a contar a quantidade de vezes que alguém nos leva a soltar um UISH! quando um jogador faz aquilo que é pago para fazer, ou seja, entreter-nos, dar-nos motivos para celebrar e, sempre que possível, gostar um pouco mais do nosso clube por nos ter dado essa oportunidade.

Geopolítica à Jorge Jesus
Vou ser muito breve na análise. Às vezes fico com a sensação de que o contrato de Jorge Jesus contém alguma alínea que o obriga a fazer análise política uma vez por mês. A ser esse o caso, sugiro humildemente que reveja isso no próximo contrato. Para que conste, Jorge Jesus é, com todas as suas características, uma das figuras mais carismáticas, interessantes e influentes do futebol português. Não nos despedimos da melhor forma na sua última passagem pelo Benfica, mas, ao contrário de muitos consócios, é um treinador de quem sempre me apeteceu gostar. No entanto, sinto muito mais dificuldade em repetir isso quando Jorge Jesus faz comentários como os que tem feito sobre a suposta superioridade da Arábia Saudita em relação a Portugal ou à Europa. Nunca estive na Arábia Saudita, e ainda bem, porque, caso lá tivesse ido, poderia agora não ter mãos para escrever esta crónica, isso ou ser impedido de beijar a minha querida esposa em público sem ser levado pelas autoridades. Não sou adepto de falsos moralismos e também não pretendo educar ninguém acerca deste tema, mas acho que Jorge Jesus perdeu uma excelente oportunidade de guardar as opiniões para ele."

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