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quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Trubin: valeu a pena


"Já é tempo de dizer que o Benfica ganhou com a troca na baliza

Entrou à pressa na equipa e foi vítima dos acontecimentos, submetendo-se a um escrutínio implacável proporcional à grandeza do clube que representa. A forma como Anatoliy Trubin se tornou titular na baliza do Benfica não cumpriu os mínimos da transição suave.
Cada indecisão, leitura deficiente ou falha ganhou uma dimensão superior à natureza dos seus atos porque Vlachodimos, o seu antecessor, deixara um rasto de competência entre os adeptos, que durante algumas semanas passaram por muitas angústias, questionando a decisão de deixar sair um guarda-redes que cumpria e salvara a equipa em tantas situações no passado para de repente entrar um guardião caro e ainda a precisar de mostrar o que realmente podia acrescentar aos campeões em título. Afinal, Roberto não se foi embora assim há tantos anos e por um determinado período o fantasma do maior flop da baliza das águias andou a sobrevoar a cabeça do mais apaixonado benfiquista.
É impossível ter certezas a esse respeito, mas não fosse a má gestão da substituição do guarda-redes e o primeiro jogo da Liga dos Campeões, na Luz, frente ao Salzburgo, poderia ter corrido de outra forma e as contas finais seriam outras numa competição com seis jogos na fase de grupos e em que os candidatos à passagem têm, pelo menos, o dever de vencer os encontros em casa.
Mas foi também a Champions a mostrar as virtudes do internacional ucraniano. O jogo em Milão, de resultado muito lisonjeiro para os encarnados, representou um ponto de viragem. Ainda viria a cometer uma ou outra falha no campeonato, mas as expressões faciais dos centrais mudaram (o melhor barómetro para compreender o nível de confiança dos defesas no seu guarda-redes), sinal de que Trubin convenceu aqueles que primeiro deve convencer: os colegas, antes dos adeptos.
Passados 21 jogos, já é tempo de dizer que o Benfica ficou melhor com Trubin. Não apenas entre os postes (essa até é a melhor característica de Vlachodimos), mas fundamentalmente no controlo do espaço que sobra nas costas dos centrais, quer em situação defensiva quer no início da construção, mostrando de jogo para jogo que é um produto chave na mão: alto, mas ágil; reativo, mas muito proativo; frio na análise mas demonstrando compreender o jogo sem exercer o mero papel de figurante, bem pelo contrário, é um participante ativo.
Do guarda-redes que fez um penálti num canto diante dos austríacos ao keeper que se tornou uma rede de segurança para os equilibristas que tem à sua frente há uma distância equivalente à de Lisboa a Kiev, mas o mais extraordinário em todo este processo é perceber que nada mudou na expressão corporal ou no discurso do ucraniano. Como se no momento de maior stress emocional ele quisesse transmitir, tanto aos que o apoiavam quanto aos que o criticavam, uma mensagem de serenidade e de controlo absoluto da situação. Fazer isto aos 22 anos é notável.
Numa época em que muito se tem discutido a qualidade dos reforços do Benfica (Jurásek, Bernat, Arthur Cabral…), é justo dizer que as águias ficaram melhores com a troca na baliza. São apenas 21 jogos contra 223 do grego, mas a quantidade serve apenas para reforçar um padrão e não a qualidade do mesmo. Trubin é guarda-redes de equipa grande. Ponto final."

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