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quarta-feira, 27 de maio de 2020

Tudo muda para que tudo fique na mesma

"A Liga ainda não recomeçou e o futebol português continua igual a si próprio. A situação mais mediática é a da eventual saída de Pedro Proença, que, aparentemente, terá irritado alguns clubes por defender a transmissão dos jogos em sinal aberto. É um dossier complexo: envolve demasiados milhões de euros. Por um lado, é inegável que as operadoras (e a própria SportTV) vão querer defender a sua posição, os seus investimentos e as suas fontes de rendimento. Os clubes, naturalmente, temem que um cenário diferente do actual os penalize financeiramente. No entanto, com os estádios fechados ao público, jogos fora do circuito pago seriam uma agradável surpresa nesta pandemia, e podia-se até prevenir eventuais aglomerados desnecessários de adeptos ávidos para acompanhar os jogos do campeonato.
Pelo meio, percebe-se também que já surgem desentendimentos entre vários clubes e a Altice, devido ao pagamento (ou falta dele) dos direitos televisivos de Abril e Maio. Além disso, a NOS já assegurou que não vai prolongar o contrato de patrocínio da Primeira Liga. Repito, o dossier é complexo, mas este avolumar de situações prometem semanas de mais polémicas. Tudo como dantes, portanto.
Frágeis continuam também os jogadores. Desde isolamento prolongado de desportistas saudáveis (terá um quê de inconstitucional?), maior risco de lesões - como aconteceu na Bundesliga - e, evidentemente, maior risco de contágio em treinos e jogos. Começa a ficar a ideia que os atletas não tinham grande alternativa: ou jogam ou jogam. A ideia do recomeço, ao que sei, não é consensual entre todos, mas os desabafos tendem a ficar em off. 
Infelizmente, muitos jogadores têm gatilho rápido nas redes sociais, mas pouca vontade para abordar directamente os problemas que os afectam enquanto classe. É certo que milhões de trabalhadores estão também (demasiado) expostos aos riscos da pandemia, e se esses devem ser defendidos acima de tudo, os jogadores são também trabalhadores e têm o mesmo direito de estar em segurança (ou, pelo menos, junto das famílias). Não esquecer que um suplente de uma equipa de meio da tabela dificilmente ganha um salário principesco…
Para finalizar, a perder a 100% estão os adeptos. Os jogos vão ser à porta fechada, e não sabemos quando os estádios voltam a abrir. A julgar pela postura de muitos clubes nesta fase de recomeço da Liga, os adeptos não estão no topo das prioridades, pois não representam uma fatia fundamental nas receitas dos clubes. Que, sejamos francos, na era dos clubes-empresa, é o que interessa.
Se os estádios acabarem por abrir com limitações, o que os espera? Bilhetes mais caros pela escassa oferta e muita procura? Prioridade para quem teve lugar ou bilhete anual em épocas anteriores? Todo um mar de dúvidas. E com os jogos apenas disponíveis nos canais pagos, e com os efeitos de uma anunciada crise, também se percebe que muitos vão perder o acesso ao espectáculo futebol. Preocupante, mas nada de novo.
Lá está, tudo muda para que tudo fique na mesma."

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