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quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Zé Gomes: Uma história de golos…e da falta deles

"Lembro-me de vibrar euforicamente com a sua estreia. José Gomes, uma das maiores promessas do Seixal, tinha finalmente oportunidade de subir à equipa A, aproveitando uma série de lesões no sector ofensivo dos encarnados. Passei os últimos minutos do jogo a pedir incessantemente a sua entrada. O seu momento chegou já para lá dos 90 minutos. A placa subiu com o número 70, era esta a sua oportunidade.
Um miúdo franzino, praticamente da minha idade, tentava esconder o nervosismo enquanto colocava, timidamente, a camisola dentro dos calções, carregava às suas costas o sonha de milhares de adolescestes benfiquistas e as expectativas de tantos outros aficionados do desporto rei. Substituiu Gonçalo Guedes, outra promessa dos encarnados.
Entrou no jogo com vontade de mostrar serviço, mas a verdade é que o esférico poucas vezes passou pelos seus pés, mas no último lance do jogo esteva a milímetros de encostar a bola para a baliza do Arouca. Depois desta jogada soltei a previsão: “Este miúdo vai ser um caso sério”, acho que nunca me enganei tanto a respeito de um jogador.
O nome de José Gomes foi catapultado para as luzes da ribalta depois da sua prestação estupenda no europeu de sub17 em 2016, onde para além de ter ajudado a selecção das quinas a chegar ao título, arrecadou ainda os prémios de melhor marcador (sete golos em seis jogos) e melhor jogador do torneio.
A nível interno, o avançado de origem guineense, marcou sempre mais de 20 golos, por época, nas equipas de formação do Benfica, tendo subido de escalão, sucessivamente, todas as temporadas. Desde de cedo era possível observar um grande potencial e certas características que dificilmente são identificáveis em jovens numa fase tão prematura da carreira. Zé Gomes demonstrava uma técnica diferenciada conseguindo receber a bola com qualidade em zonas adiantadas, zonas essas onde se fazia valer, muitas vezes, da sua capacidade no um para um, sobretudo em espaço curto.
Fazendo uso da sua boa velocidade era também bastante forte nas desmarcações, procurando muitas vezes a profundidade nas costas dos defesas adversários. Mas sem dúvida alguma, as características pelas quais Zé Gomes se diferenciava eram o posicionamento ofensivo e a capacidade de finalização. Muito competente de cabeça, bom a finalizar com os dois pés, forte na conversão de grandes penalidades e sempre um dos batedores de livres na formação encarnada. Esta capacidade de finalização e a sua boa leitura do jogo, que permitia ao jogador parecer estar sempre bem posicionado hora certa, tornaram Zé Gomes exímio a fazer uma coisa: Golos. Facturou tantos golos de quinas e de águia ao peito, que chegou mesmo a adquirir a alcunha bastante sugestiva de “Zé Golo”.
É de notar, no entanto, que utilizei quase sempre o pretérito-perfeito para descrever as qualidades do, ainda bastante jovem, avançado português. Estas características ainda lá estão, o gigante potencial ainda lá está, mas a carreira de José Gomes iria ser sobretudo afectada por dois factores: a estagnação e falta de golos.
Depois de ter sido lançado em alguns jogos na equipa principal, onde chegou mesmo a estrear-se na Liga dos Campeões, frente ao Nápoles, Zé Gomes regressou à equipa B (juntando-se, ocasionalmente, aos juniores nos jogos da Youth League), onde ainda facturou 8 golos até ao final da temporada. Era esperado que a grande promessa do Seixal evoluísse e inevitavelmente se afirmasse ao mais alto patamar. Mas de forma algo imprevisível, o camisola 70 nunca conseguiu fazer com que o seu jogo se reflectisse no escalão sénior. Nas duas épocas seguintes, ainda ao serviço da equipa secundária dos encarnados, o internacional de esperanças português apontou apenas 6 golos em 52 partidas.
Zé Gomes perdeu muitas vezes o lugar no onze inicial para Saponjic, Jovic e para Pedro Henrique, já na fase final da última temporada. Os dois primeiros tiveram passagens desinspiradas por terras lusas e o terceiro vai tendo dificuldades em afirmar-se, o que ilustra na perfeição a baixa forma do avançado. Nas seleções nacionais, Zé Gomes foi perdendo também protagonismo, tendo tido prestações muito menos inauditas no europeu sub19 e no mundial de sub20. Esta má forma de Zé Gomes, levou a que o seu nome desaparecesse progressivamente das opções dos seleccionadores nacionais.
No início desta temporada o Benfica decidiu emprestar o jovem ao Portimonense, numa última tentativa de potenciar o jogador. É certo que José Gomes irá beneficiar em estar inserido num panorama diferente daquele que vivia no Caixa Futebol Campos, mas o empréstimo à equipa algarvia não me parece ter sido a melhor opção. A equipa conta com Jackson Martinez, o habitual titular, Tabata tem sido muitas vezes opção na frente de ataque, Marlos Moreno chega emprestado do Manchester City, Iury tem tido muitos minutos e já provou o sabor do golo. As opções de Folha são muitas e o espaço de Zé Gomes parece ser limitado. Arrisco-me a dizer que terá muito poucos minutos em Portimão, podendo a sua temporada passar pela equipa de sub23, o que, para mim, é um paço atrás a nível competitivo em relação à segunda liga. No entanto, o jogador aparenta estar confiante nas suas qualidades e diz ter capacidade para fazer uma boa temporada.
Zé Gomes apareceu muito cedo a brilhar nas equipas de formação das águias. As prestações internacionais valeram-lhe reconhecimento mundial e previsões de uma carreira única ao mais alto nível. Zé Gomes diferenciava-se imenso entre jovens da sua idade, fazia golos com uma facilidade excepcional. Mas o jogador acabou por estagnar e nunca evoluiu da forma expectável. Os golos foram desaparecendo e com eles a confiança que sempre foi característica do jovem.
Hoje em dia, Zé Gomes é uma sombra do jogador que “prometeu” vir a ser. Um jogador em muito má forma futebolística, mas sobretudo muito debilitado do ponto de vista mental, o que o tem impedido de ultrapassar esta “travessia do deserto”. O jogador, ainda apenas com 20 anos, mantém um enorme potencial, potencial esse que pode, pelo menos, vir a ser atingido de forma parcial. Mas para que tal se suceda é necessário que este esteja inserido no contexto ideal e haja muito esforço da parte do atleta. Ainda é possível!"

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