"O mercado fechou ontem. O Benfica, na voz de Luís Filipe Vieira e de Rui Costa, prometeu ambição europeia e uma abordagem ao mercado diferente do habitual, com poucos reforços, mas cirúrgicos. No final, acho que a abordagem acabou por não ser assim tão diferente como é habitual. Umas notas sobre o mercado de verão de 2019.
1. Ponto Situação Inicial. É impossível analisar o mercado de verão de 2019 sem primeiro olhar para o que aconteceu no mercado de inverno. O Benfica estava pelas ruas da armagura. No rescaldo da troca de treinador, as grandes apostas do mercado de verão de 2018, Ferreyra e Castillo, saíram. Além de Lema e Alfa Semedo. A saída dos dois pontas de lança sul-americanos deixou um vazio significativo na folha salarial do clube, pois ambos tinham sido contratados com salários avultados. Em resposta às saídas, o Benfica promoveu Ferro, Jota e Florentino. Fomos Campeões. Em Maio de 2019, as prioridades para o verão do Benfica pareciam ser: arranjar maior competição para Vlachodimos, trocar Yuri Ribeiro, definir a situação do lateral direito, definir a situação dos médios-centro e médios-ala, substituir Jonas, bem como a quase certa saída de João Félix.
2. Guarda-Redes. Vlachodimos não é um mau guarda-redes. Simplesmente também não é um grande guarda-redes. Há dezenas de melhores do que ele. Os seus dois principais problemas são o jogo com os pés e saídas da baliza, seja em cruzamentos, seja em momentos que os avançados venham isolados. Era uma posição onde o clube poderia ter melhorado. Tentámos Jasper Cillessen, que acabou no Valência, tentámos Keylor Navas, que acabou no PSG e fechámos Mattia Perin, que acabou por chumbar nos exames médicos. Depois destes três nunca mais apareceu um nome nas notícias. Como se não bastasse o facto de não contratarmos ninguém, acabámos por renovar com o Vlachodimos, que passámos o verão todo a dizer que precisava de competição. Foi um dossier muito mal gerido pelo Benfica.
3. Lateral Direito. Sebastien Corchia voltou ao Sevilla, que entretanto já o emprestou ao Espanyol. A grande dúvida era o que ia acontecer com Ebuehi. No entanto o nigeriano voltou a lesionar-se e ainda ninguém fora da equipa técnica sabe bem o que vale porque jogou muito pouco. André Almeida deverá mais uma vez ser o titular desta posição. O Benfica acabou por nunca estar no mercado por um lateral. O que, para mim, revela uma de duas coisas: ou Ebuehi mostrou talento nos treinos, ou o clube sabe que no espaço de um ano poderá ter Tomás Tavares e/ou João Ferreira aptos para dar o salto para a equipa principal e não quer contratar alguém que depois poderia tapar as ascensão de uma dos jovens.
4. Defesa Central. No último dia do mercado, chegou o jovem brasileiro Morato. Vai começar pela equipa B. É certo que vem para salvaguardar a saída de alguém no futuro. A dúvida é quem. Jardel, Rúben Dias ou até Ferro podem sair para o ano, abrindo espaço para o brasileiro.
4. Lateral Esquerdo. Aqui foi a posição mais tranquila do Benfica. Nuno Tavares é um jovem da formação que há alguns anos vinha a afirmar-se como um jogador com grande futuro. Teve a oportunidade e agarrou-a. Yuri Ribeiro saiu em definitivo para o Nottingham Forest.
5. Médio Centro. Aqui houve mudanças, apesar de não parecer. David Tavares tem aparecido no boletim médico da equipa principal e deverá ocupar o lugar que Krovinovic deixou depois de ser emprestado ao WBA. Não acredito que Fejsa venha a ter muitos minutos este ano. Até posso entender a sua continuidade numa óptica de ter alguém com experiência no plantel. Mas sete jogadores numa posição onde jogam apenas dois parece-me um exagero. Ficou trabalho por fazer.
6. Extremos. O verão todo foi noticiado que Salvio, Zivkovic e Cervi poderiam sair. Bruno Lage começou a pré-época a dizer que queria apenas duas opções por posição, para que os jogadores estivessem mais motivados. No entanto, tal como na posição de médio centro, começamos a época com seis jogadores onde apenas podem jogar dois. Saiu apenas Salvio para o Boca Juniors. Veio Caio Lucas que até ao momento tem mostrado alguma coisa diferente e que não tínhamos. Ficou trabalho por fazer.
7. Avançados. Esta foi a posição onde curiosamente acabámos por perder mais jogadores. Jonas reformou-se. João Félix foi vendido por 126M. Para os seus lugar contratámos Chiquinho, Carlos Vinícius e Raul de Tomas. Aqui pelo menos vimos actividade. O ano passado vimos que Jonas e Seferovic não era suficiente para a nossa necessidade de pontas de lança. Hoje temos três. Resolvemos esse problema. A saída de João Félix dará espaço para Chiquinho e eventualmente Jota jogarem como segundo avançado. Acho que acabou por ser das pastas melhor geridas neste verão.
Olhamos para o ponto de situação em Maio e o que vemos é os seguinte:
- Arranjar maior competição para Vlachodimos: algo que não só ficou por resolver, como chegou ao ridículo de aumentarem o grego depois de dizerem que ele tinha limitações;
- Trocar Yuri Ribeiro: missão completa;
- Definir a situação do lateral direito: não aconteceu nada, mas aceita-se;
- Definir a situação dos médios-centro e médios-ala: ficaram, no mínimo, três jogadores por sair e que mal vão jogar neste ano. Isto terá consequência pois vai tirar minutos a jovens como Úmaro Embaló, Tiago Dantas e Nuno Santos que poderiam ser chamados para os jogos das Taças;
- Substituir Jonas e João Félix: concorde-se ou não, acaba por ser uma missão completa;
Um clube que vende João Félix por 126M, não tem motivo nenhum para não se reforçar devidamente. Podíamos ter contratado um craque. Houve vários nomes sondados: Dani Olmo ou Luca Waldschmidt. Para que é que vendemos o João Félix? O que é que vamos fazer aos 80 e tal milhões que não utilizámos (além dos outros 80 que fizemos com Jimenez, Jovic, Carrillo e Salvio)? É que Domingos Soares de Oliveira já disse na entrevista à Exame que não vamos reduzir o Passivo. Além desse craque, um guarda-redes e esvaziar algumas posições sobrelotadas era essencial. Bruno Lage disse a 1 de Julho de 2019 que queria isto. Chegamos a 3 de Setembro de 2019 e nada aconteceu. Ficou tudo igual.
Este podia ter sido o melhor mercado de verão do Benfica deste milénio. Acabou por ser um mercado igual ao que Luís Filipe Vieira nos tem habituado. O plantel não está mais forte. É até questionável se não está ligeiramente mais fraco, pois não temos um craque como João Félix. Mas vendo do lado positivo, pelo menos este ano só contratámos um jogador para emprestar."
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