"Depois de uma época muito bem-sucedida, João Félix abandonou o SL Benfica a troco da verba recorde de 120 milhões de euros. A saída do jovem português, aliada à retirada de Jonas, deixou a equipa encarnada órfã de um jogador com características de segundo avançado.
Era esperado que o Benfica reforçasse a posição no mercado de transferências, mas tal não veio a acontecer. O Benfica acabou por reforçar a frente de ataque, mas contratou dois jogadores com características bastante díspares de João Félix: Raul de Tomas e Carlos Vinícius.
Com esta ausência de um segundo avançado, era esperado que Bruno Lage fizesse mudanças de cariz táctico e alterasse as dinâmicas da equipa, de forma a comportar dois avançados mais fixos, Seferovic e Raul por exemplo.
No início da pré-época vislumbrávamos um sistema encarnado que comportava dois avançados com dinâmicas relativamente semelhantes, mas com o passar dos jogos foi possível detectar uma evolução nas tarefas requeridas a Raul de Tomas. O espanhol recuava mais no terreno e participava mais na construção na linha média encarnada, envolvia-se muito mais no processo de pressão ofensiva, deambulava mais frequentemente pelo campo aparecendo em posições não tão centrais no terreno. Tornou-se por demais evidente que a aposta seria colocar o ex-jogador do Real Madrid nas costas de Seferovic.
A aposta não tem sido muito bem-sucedida e, na minha opinião, está a prejudicar bastante o ponta de Lança espanhol.
Raul de Tomas tem sido bastante criticado, críticas essas que são tremendamente injustificadas. Olhando para os jogos do internacional sub19 espanhol e mesmo para o treino aberto do Benfica, que se realizou poucos dias depois da chegada do jogador, é inacreditável a mudança de comportamentos do mesmo.
Fez todos os jogos da sua curta carreira como avançado alvo, chegou ao Benfica rotulado de goleador e agora são-lhe exigidos comportamentos que fogem completamente aos que sempre foram seu apanágio. Aparece muitas vezes longe de zonas de finalização o que irá inevitavelmente reduzir as suas oportunidades de golo. De Tomas não se resume apenas a golos. A sua capacidade de recepção e movimentação em espaço curto, a qualidade de passe, espelhada nas duas excelentes bolas de ruptura que isolaram Seferovic, frente ao Braga, a capacidade de segurar o esférico e executar da melhor forma.
A (in)esperada classe que o jogador apresenta com a bola nos pés contrasta com as expectativas do adepto casual e com aparência do avançado espanhol, aparência típica de um personagem de um qualquer filme de máfia. Apesar de todas estas características poderem ser propícias à sua colocação numa posição de 9 e meio, o número 9 das águias está evidentemente a jogar fora de posição, isto é ainda mais evidente face à seca de golos de Seferovic. Julgo que o Benfica beneficiaria bastante com a colocação de Raul de Tomas mais à frente no terreno.
Mesmo com Raul de Tomas a Ponta de Lança, e visto que Bruno Lage não parece vir a realizar grandes mudanças na dinâmica da equipa, a questão do segundo avançado continuaria por resolver. Sempre que entrou no jogo a desempenhar estas funções, Chiquinho impressionou e seria a opção mais viável e mais adequada ao que o treinador exige nesta posição. No entanto, o jovem português sofreu uma grave lesão, lesão essa que o vai afastar dos relvados durante vários meses. Pondo a “opção Chiquinho” de lado não restam muitas opções a Bruno Lage.
Depois da sua árdua recuperação física e mental, Taarabt tem vindo a destacar-se sempre que pisa os relvados. Depois de uma grande exibição, na posição 8, frente ao Braga, o marroquino não tem, no entanto, o lugar garantido no onze.
Com o regresso de Gabriel, jogador que, com ritmo de jogo, é fundamental no sistema dos encarnados, Taarabt pode voltar a ser relegado para o banco. Durante grande parte da sua carreira o magrebino pisou terrenos mais adiantados, sobretudo no AC Milan e no QPR, onde aparecia como um maestro na posição 10 ou um “segundo avançado”. Seria Taarabt a 9,5/10 uma boa opção para o Benfica? A entrada do jogador nesta zona do terreno traria uma boa ligação entre a zona média de construção e o terço mais adiantado do terreno, havendo uma melhoria significativa no jogo entre linhas. Os seus passes verticais e de ruptura poderiam ser perfeitamente adaptáveis às desmarcações sobretudo de Rafa e de Raul.
Contudo, esta ligação no meio campo poderia retirar alguma importância e bola a Pizzi, que tem sido dos melhores jogadores do Benfica neste início de época. Em certos jogos poderia também ser notável uma falta de presença nas zonas de finalização, face às características de Taarabt, que o iriam arrastar inevitavelmente mais para fora da área. Colocando os prós e contras em cima da mesa, o marroquino parece-me ser uma opção possível, mas não creio que seja a melhor solução.
Sobram Carlos Vinícius, que está também lesionado, Jota e uma nova hipótese: Zivkovic que jogou (frente ao Estoril num jogo amigável) e tem treinado nesta posição.
Vinícius é um avançado mais móvel que os restantes companheiros de posição. Faz da força física e da velocidade as suas maiores armas. Não me parece ser uma boa opção para aparecer atrás de um Ponta de Lança, mas é um excelente suplente para Raul de Tomas, e pode surpreender taxativamente o público num curto espaço de tempo.
Zivkovic desapareceu completamente das opções de Bruno Lage, na época passada, e este ano, com a chegada de Caio Lucas, o seu espaço na ala é praticamente inexistente. Zivkovic teve o seu melhor momento no Benfica quando substituiu o lesionado Krovinovic, no centro do terreno (significativamente mais recuado do que a posição aqui discutida).
Nos últimos dias têm surgido informações alegando que o treinador do Benfica tem testado o jovem sérvio nesta nova posição, informações essas que puderam ser confirmadas na partida amigável com o Estoril. Não me parece que a aposta em Zivkovic se vá concretizar em pleno, e este “teste” parece ser apenas uma tentativa de relançar a carreira do internacional sérvio, no qual o Benfica e os adeptos encarnados depositam muitas esperanças.
Finalmente temos o jovem português Jota. João Filipe tem visto um incremento nos seus minutos, esta época. O camisola 73 parece aproximar-se gradualmente da afirmação na equipa da Luz. Por vezes, aparece nos jogos a partir das alas, mas é quando pisa terrenos mais próximos do Ponta de Lança, que realmente se destaca. Impressionou bastante nesta função de 9 e meio na pré-época, partindo como favorito à posição, mas Lage acabou por apostar numa dupla de avançados mais “puros”. A sua velocidade e capacidade técnica podem trazer muito à equipa encarnada, tanto em situações de transição como de construção. Em zonas adiantadas é bastante capaz na finalização, como já provou nos escalões de formação e nas selecções jovens, onde foi muitas vezes dos melhores marcadores.
De todas as soluções das quais Bruno Lage dispõe, a opção Jota seria, muito provavelmente, a que traria características mais similares àquelas a que João Félix apresentava. Apesar de considerar que Jota seria a melhor escolha para a posição, creio que o jogador necessita de ganhar ainda mais maturidade, maturidade essa que só pode ser ganha de uma forma: minutos em campo.
Bruno Lage possui várias opções para a posição, apesar de nenhuma encaixar na perfeição nas características de Félix, mas é impossível, e bastante injusto, exigir a um jogador que seja uma cópia perfeita de outro. Isto tem que ser entendido tanto pelo treinador do Benfica como pelos adeptos encarnados. A insistência em utilizar Raul de Tomas fora de posição, prejudica o Benfica e o avançado espanhol, que vê muitas das suas qualidades serem “desperdiçadas”.
Bruno Lage terá que operar mudanças, sejam elas mudanças a nível dinâmico ou alterações de executantes, de forma a conseguir retirar o melhor de todos os seus atletas. O Benfica marcou 16 golos em cinco jogos, desses 16 apenas 1 foi marcado pela dupla Seferovic/de Tomas, e nem tudo pode ser associado à falta de eficácia. Parece-me inegável a necessidade de alterações na frente de ataque."
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