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domingo, 25 de março de 2018

A geração dos Cristianos Ronaldos

"Actualmente em Portugal existem dezenas de escolas de futebol, que colocam milhares de jovens a praticar desporto. Este tem sido um espaço valioso de desenvolvimento da modalidade, que permitiu não só aumentar a popularidade do jogo como educar milhares de crianças, pessoal e desportivamente. No entanto, existe uma grande pedra nesta engrenagem. Seja pelo mediatismo da modalidade ou pela “prometida” ascensão social, o certo que raras vezes, estas múltiplas escolas fogem ao epíteto da formação de “campeões”. E ao analisarmos posturas e discursos, de treinadores, pais e atletas, fica a questão: será que os jovens podem apenas jogar futebol pelo prazer do jogo e da prática desportiva, ou jogar futebol implica mesmo ter de tentar ser jogador profissional?
Diversos estudos têm analisado a relação entre o número de atletas que se encontram a treinar numa modalidade durante um longo período de tempo (mais de 3 anos) e aqueles que atingem o alto rendimento. Os valores encontram-se entre os 0,3% e os 0,012%, sendo este último valor correspondente às academias dos clubes da Premier League em Inglaterra. Na análise mais positivista, estamos a falar de 1 em cada 300 atletas. Um valor extremamente reduzido, principalmente se tivermos em consideração o facto de todos estes atletas já terem sido alvo de uma selecção prévia. Perante este cenário, e sendo o futebol a modalidade com maior número de praticantes federados no nosso país (cerca de 175000, dos quais aproximadamente 80% têm mais de 18 anos), urge reflectir acerca da missão decorrente da existência destas escolas de futebol e da sua praxis diária.
É inegável que a pressão e ambição dos pais é um grande problema, levando a que muitos espaços onde a prática desportiva deveria ser o principal objectivo, sejam transformados temporariamente em laboratórios de alquimia, a tentar transformar “pés de chumbo em pés de ouro”. Mas não se pense que os únicos culpados são os pais. Quando são os treinadores ou coordenadores os primeiros a promover e permitir que crianças de 10-11 anos fiquem jogos inteiros no banco ou que permaneçam largas temporadas sem serem sequer convocados, são estes que claramente estão a potenciar e perpetuar o problema.
A investigação demonstra que entre os 11-16 anos de idade as diferenças maturacionais entre os jovens podem ser extremamente acentuadas, sendo esta uma enorme condicionante na forma como a prática dos jovens atletas deve ser estruturada e operacionalizada. Refira-se igualmente que este factor é salientado por diversos autores, como sendo fundamental na identificação de talentos. Assim sendo, seja pela imprevisibilidade associada ao crescimento e maturação dos jovens, seja pela “improbabilidade estatística” de sabermos se estamos na presença de um futuro jogador profissional de futebol, os profissionais nesta área devem procurar garantir que o jogo é para todos e deve ser jogado por todos. Quem conduz a prática deve analisar e prever todos os cenários de treino e competição, assegurando-se que a formação dos jovens e a sua auto estima não é colocada em causa por satisfações pessoais ou incompetências momentâneas.
O papel e a importância das escolas de futebol na nossa sociedade é evidente, assim sendo, haja a coragem e capacidade de assumir que o seu objectivo último nunca deverá ser formar “campeões”, mas sim, continuar a promover um espaço onde a prática desportiva de qualidade se desenvolve e onde as diferentes capacidades e ambições dos jovens praticantes vão encontrar o seu espaço de concretização.
Nem todos os jovens que entram no comboio do futebol, querem ou têm de chegar à última estação! A estação “Cristiano Ronaldo”!"

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