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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Havia necessidade?

"A verdade? A verdade é que foi tudo precipitado, mal preparado e mal anunciado.

cerca de 20 dias, os árbitros fizeram saber que avançariam com pedido de dispensa caso o ambiente se mantivesse crispado e as suas solicitações não fossem cumpridas na integra. Os jogos a que se referiam decorreram normalmente, sem falhas nem ausências. Foram boas notícias para o futebol e excelentes notícias para a arbitragem, que desta forma reconheceu (tacticamente) que foram preenchidas todos os pressupostos das suas pretensões. Por uma questão de coerência, era inevitável regressar a este assunto. O grande problema subjacente a isto chama-se compromisso com a palavra. A arbitragem sabe que nunca deve pôr-se jeito. E neste processo, os árbitros puseram-se a jeito, porque não agiram com serenidade, com ponderação e de forma estratégica. Foram impulsivos, reactivos e emotivos. E a este nível, isso é quase sempre fatal.
Para quem não se recorda, tudo começou há umas semanas, quando os juízes anunciaram que iriam parar por estarem fartos do clima que se vivia no futebol profissional. Fizeram aí o compromisso número um. Percebeu-se que o limite tinha sido atingido, mas não se percebeu bem a forma como as coisas iriam processar-se: uma paragem aqui, outra paragem ali, com jogos pelo meio. Apesar de bem intencionados, a acção foi extemporânea. E a prova é que tudo ruiu pouco depois, perante compromissos de boa-fé assumidos pelo presidente da Liga. Na altura, os árbitros recuaram, mas logo avisaram que se as coisas se mantivessem daquele modo, a greve seria inevitável. Esse foi o seu compromisso número dois.
O estado das coisas não se manteve. Por ironia do destino, foi precisamente nessas semanas que os decibéis atingiram registos históricos. O ruído, as acusações e as atitudes agravaram-se. Reféns, de novo, das suas palavras, os árbitros não renovaram a tolerância. E quando anunciaram a paragem (através de pedido formal de dispensa), toda a gente compreendeu. Até os mais cépticos perceberam que a paragem seria, naquela fase, a melhor mensagem que passariam ao futebol.
Os árbitros tinham ali oportunidade de ouro para tomar uma posição que, excepcionalmente, teria o reconhecimento de parte importante do mundo do futebol. O certo é que, depois de uma reunião que mantiveram em Fátima com o seu Conselho de Arbitragem, voltaram a recuar. Dessa opção, resultou novo adiamento (os tais 20 dias) da medida. Esse foi o compromisso número três.
Como se percebeu, passaram os tais vinte dias e não aconteceu nada. Nem uma explicação à não tomada de posição, nem uma justificação. Apenas o pedido para serem ouvidos pela Liga quanto ao caso dos e-mails. Porquê? Eles saberão. Ou não.
Como já referi, não me choca que entendem que o futebol português mudou e que esteja agora a respirar saúde e desportivismo, mas não concordo. É verdade que houve mais contenção, tal como é verdade que houve agressões a árbitros, twits a comentar arbitragens de jogos (e dos jogos dos outros), partilha de vídeos de árbitros agredidos e até e-mails anónimos enviados aos juízes, naquilo que parece ter sido um claro (e desesperado) incentivo à greve. Vá se lá saber.
A verdade? A verdade é que foi tudo precipitado, mal preparado, mal anunciado. Foi tudo feito com uma mão à frente a outra atrás. Que a rábula sirva de lição. Porque esses tiros nos pés também acertam em cheio nos pés também acertam em cheio nos pés de todos aqueles que, durante anos a fio, deram centenas e centenas de horas e quilómetros a lutar pela mesma causa."

Duarte Gomes, in A Bola

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