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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Na Luz volta a acreditar-se

"Para Sérgio Conceição a questão básica centra-se menos nas tácticas e mais nas dinâmicas, por isso o FC Porto é o que joga melhor.

Marcar cinco golos num jogo de campeonato, ainda por cima justificados por reluzente exibição, como há muito não se via a águia produzir, constitui feito digno de nota, seja qual for a envergadura do oponente.
Em concreto, o Benfica entusiasmou em Tondela, pelo facto de, depois de ter sido eliminado da Taça de Portugal pelo Rio Ave, não se esperar que fosse capaz de desempenho de tanta competência, igualmente eficaz e convicente.
Eficaz, porque expressou em mão-cheia de golos inequívoca supremacia que nenhum deslize do árbitro, apenas detectado por telescópio escrutínio, consegue embaciar.
Convincente, pelo que perspectiva e na medida em que não poderia ter surgido em melhor altura, contribuindo para que a família encarnada viva a quadra natalícia mais animada.

Se o derby que vai assinalar a entrada no Novo Ano era encarado por ela como jogo a ser riscado do calendário, de repente - eis o inigualável fascínio do futebol - transformou-se em irreprimível desejo. Se já o era para os sportinguistas, passou a sê-lo também para os benfiquistas, os quais atribuem à goleada de Tondela uma leitura que extravasa largamente os registos dos cinco golos.
Vários sinais puderam ser captados. Foi como se os jogadores tivessem dado um salto e transposto essa barreira invisível que os inibia, sabe-se lá por que motivo!... Finalmente, pularam para o lado de lá e libertaram-se das grilhetas que talvez não os deixassem espraiar as qualidades que os conduziram ao tetra... a caminho do penta. Qualquer coisa que não se explica, mas que acontece, mais vezes do que se julga...
Valorizar pretensa exibição à campeão, quase perfeita, terá sido o único ponto em que Rui Vitória exagerou. Não adulterou a verdade, sim, mas manda a prudência sublinhar que foi alcançada diante de adversário de patamar inferior.
Aliás, dos cinco golos apontados ao Tondela, se fosse autorizada a transferência, a nação benfiquista dispensava de bom grado dois ou três para escapar à vergonha de ter o prestígio do emblema tão maltratado na Liga dos Campeões, em que ficou a zero em tudo, nas vitórias, nos empates e nos pontos.

A águia adquire outras rotinas em função de novo desenho táctico, mais equilibrado e que conforta os jogadores, aproximando-os e fazendo-os sentir com reforçada intensidade os princípios do jogo: velocidade, criatividade, capacidade de execução quando se tem bola e reacção firme e agressiva quando se a perde, predisposição para estar permanentemente em jogo e bloquear o jogo do opositor.
Foi o que o Benfica fez. Tal como todos gostam de ter bola, de correr com ela, igualmente têm de ser todos a correr atrás dela para recuperá-la. Julgo que já tinha dado para perceber a sua simpatia, sobretudo na zona de meio-campo, em que os adversários circulavam à vontade sem que alguém assumisse a coragem de meter o pé, de ir à luta, de impor o físico ou de se sacrificar pelo grupo, como fazia Renato Sanches.
Na atitude observou-se a mais profunda das mudanças, com vantagens irrecusáveis, de aí ter sempre considerado uma falácia a desculpa para não se mexer naquilo que precisava de ser alterado: a inadaptação de Jonas ou a sua dificuldade em render sem apoio na frente quando se sabe que os bons nunca são embaraço.

Como muito acertadamente defende Sérgio Conceição, a questão básica centra-se menos nas tácticas e mais nas dinâmicas, por isso o FC Porto é o que pratica o futebol mais apelativo. Espelha estabilidade e compromisso em que os seus jogadores não só se sentem obrigados a trabalhar para a causa comum como o fazem com total e sincera disponibilidade.
É minha opinião e creio que ficou demonstrado nos dois clássicos já realizados, em Alvalade, com o Sporting, e no Dragão, com o Benfica, apesar de ambos terem acabado empatados.

Rui Vitória tem um discurso invariavelmente tépido, mas, desta vez, foi o autor de uma frase que deve reter-se. Afirmou ele: «Contem mesmo connosco!» Tal como as pessoas simples, libertou o que lhe ia na alma e agradou a quem o ouviu: mais vale acreditar nas conquistas futuras do que continuar a chorar as derrotas passadas.
É a vida e na Luz volta e acreditar-se, quando no mesmo dia, em contraposição, o treinador do rival Sporting, na sequência de um triunfo muito agradável, além de deselegantes alfinetadas com destinatário, espantou ao reclamar mais duas ou três contratações no mercado de Janeiro, mesmo dispondo de vasto plantel e que para mim é o mais valioso na relação quantidade/qualidade.
Jorge Jesus foi, aliás, suficientemente claro na advertência pública ao seu presidente: se não houver prendas no sapatinho, há objectivos que têm de ficar para trás. O que permite deduzir que nem ele esperava que, na viragem de ano, a sua equipa estivesse a competir em todas a frentes."

Fernando Guerra, in A Bola

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