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terça-feira, 12 de setembro de 2017

Contrariando teimosamente o antropólogo Lévi-Strauss!

"As viagens do Benfica pelo mundo ficaram na história mais profunda do futebol universal. Só o Santos de Pelé empreendeu digressões de tal envergadura. Agora que se fala que a Eusébio Cup pode ter lugar no Canadá, vamos viajar um pouco com os encarnados...

O Benfica não era clube que descansasse tranquilidade em casa de cada vez que o campeonato parava. E, às vezes, viajava mesmo com ele a decorrer, deixando para mais tarde os aborrecidos compromissozinhos nacionais. Havia uma vontade indómita de se medir continuamente com os melhores dos melhores.
No dia 20 de Junho de 1957, uma semana após ter perdido a final da Taça Latina, recebe em Lisboa o Vasco da Gama. O Vasco da Gama que viera à Europa derrotar o Athletic de Bilbau (4-2) na decisão do Troféu Ramon Carranza e o Real Madrid (4-3) na primeira edição do Torneio Internacional de Paris. O Vasco da Gama de Orlando, Valter e Vavá venceu por 5-2 e, na semana seguinte, já uma grande delegação encarnada sobrevoava Copacabana e o Leblon e a Baía da Guanabra, apreciando a vista lá do alto bem mais do que o antropólogo Claude Lévi-Strauss, que a terá detestado, parecendo-lhe uma boca benguela.
A digressão de 1955 deixava raízes. E o Benfica desembarca no Inverno do Rio com três encontros aprazados contra velhos conhecidos, dois frente ao Flamengo e um frente ao América. Otto Glória leva consigo 17 jogadores: Bastos e Costa Pereira; Calado, Serra, Ângelo, Artur Santos, Zezinho, Caiado, Alfredo e Pegado; Palmeiro, Coluna, Águas, Salvador, Cavém, Chipenda e Azevedo. Em Portugal chamaram-lhes 'Os bandeirantes da actividade desportiva', recordando o sucesso da digressão de 1955.

Belenenses também no Brasil
O Flamengo acabara de bater o Belenenses para o Torneio Internacional do Morumbi, torneio esse que se disputava no Rio e em São Paulo mas, curiosamente, com nenhum dos jogos a ser realizado no Morumbi, que ainda não estava completamente construído. 3-1 fora o resultado do Maracanã. Também no Maracanã jogou o Benfica. E durante longos, períodos de jogo domina o seu adversário, respondendo ao golo de Duca, logo aos 30 segundos, com um golo de Águas, aos 42 minutos. No dia seguinte, os jornais brasileiros tecem rasgados elogios ao Benfica, mas recordando a cada linha que é um brasileiro, Otto Glória, que treina os encarnados. No segundo jogo, os golos não aparecem. Serra foi expulso e Bastos, aos 48 minutos, defendeu um penálti apontado por Moacyr. Pela primeira vez o Benfica não sai derrotado de confrontos com o Flamengo. Se o Barcelona tem sido o seu 'fantasma vermelho e negro': nunca até hoje o Benfica bateu os brasileiros.
No dia 17 de Julho, de novo no Maracanã, o adversário é o América do Rio. Em disputa, a Taça Craveiro Lopes. As regras para a conquista do troféu são as seguintes: um jogo no Rio de Janeiro, outro em Lisboa e, finalmente, outra vez no Rio. Sairia vencedor quem atingisse primeiro os 5 pontos. Um empate (1-1) deu a cada clube um ponto no primeiro jogo. O segundo jogo disputa-se em Lisboa no dia 1 de Junho de 1959 e voltou a registar um empate (0-0). Benfica e América nunca voltaram a encontrar-se no Brasil. A digressão prossegue em São Paulo, ou melhor, em Santos, no Vila Belmiro, contra outra das 'bestas negras' do Benfica, o Santos, um dos adversários que nunca tinha vencido ao longo da sua história. Pela primeira vez os encarnados estavam cara a cara com aquele que se tornaria o mítico Santos de Pelé, único clube que pode pedir meças ao Benfica nas suas andanças pelo mundo. O Santos era bicampeão paulista mas ainda não era verdadeiramente o Santos, ou seja, o Santos que ficou escrito a letras mágicas na história do futebol. Mas tinha Manga, o guarda-redes que Eusébio e Simões destruíram em 1966. E tinha o grande Zito. E Dorval, e Jair, e Pagão, o herói de Chico Buarque, e Tita. E um menino de apenas 16 anos chamado Edson Arantes do Nascimento. Como dizia Nélson Rodrigues: Edson Arantes do Nascimento, por extenso Pelé. Muito mais vezes Pelé encontrará o Benfica, mas até 1958, ano em que o Brasil foi campeão do mundo pela primeira vez, não passará de um menino que trata a bola como mais ninguém. O jogo de Vila Belmiro, que se transformará num clássico do futebol internacional, é extraordinário. Os brasileiros vencem por 3-2, mas a hora e meia é cheia de peripécias e os jogadores do Benfica acertam três remates na trave de Manga Calado, Águas e Palmeiro. O Último Hora escreve: 'Sem dúvidas que o Benfica é o melhor team do Velho Mundo que até agora nos visitou'."

Afonso de Melo, in O Benfica

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