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terça-feira, 29 de novembro de 2016

Uma odisseia natalícia

"Um jovem nadador enfrentou a tormenta e o seu nome seria escrito a letras de prata.

A manhã de Natal de 1930 acordou tempestuosa. No Terreiro do Paço, Luís Naia, nadador do Sport Lisboa e Benfica, parou à beira do rio Tejo, 'somente coberto pela malha leve do calção'. O rio apresentava más condições para uma prova de natação: 'águas mortas, rio agitado, chuva pegada e vento forte de «travessia»'. 'Tiritavam de frio os acompanhantes do atleta. E tiritavam de frio as pombas e as gaivotas nos seus vôos matinas acordadas pela luz da manhã, que rompia', contudo, o nadador não hesitou e saltou para as águas gélidas quando foi dado o sinal de partida, às 7 horas e 40 minutos, entre aplausos do grupo de pessoas presentes.
Luís Naia tinha-se preparado cuidadosa e metodicamente para esta prova, a Pequena Travessia de Lisboa, quase em segredo, tendo ficado preso pelo desejo de cumprir ou de suplantar a proeza realizada pelo atleta Eduardo Vieira Alves, do Sport Algés e Dafundo, exactamente um ano antes.
Numa braçada ritmada, constante, o atleta rasgava as águas, lutando não só contra o vento contrário e a chuva, condições que foram piorando à medida que se aproximava da Torre de Belém. A dado momento, os remos do bote de apoio que o acompanhava não aguentaram tantas adversidades e partiram-se, e a embarcação foi rebocada para terra, ficando só a acompanhar o atleta o '«gasolina» fretado pelo Benfica'. Ainda assim, o ânimo do nadador não fraquejou e continuou a sua odisseia.

Da embarcação partiam incitamentos ao valoroso nadador mas havia também quem achasse que seria hora de parar, que este já tinha provado o seu valor e que estava a colocar a sua vida em risco. Luís Naia, todavia, recusava-se a desistir e 'com grande espírito desportivo e para elevar mais alto o pavilhão do seu clube a sua tentativa não termine a uma centena de metros do «terminus»'. Ao chegar ao fim do percurso, em Pedrouços, o seu tempo foi registado oficialmente pela Associação de Natação de Lisboa: percorreu mais de oito quilómetros em apenas 1 hora, 36 minutos e 7 segundos. Tinha batido o recorde de distância!
Em terra, modesto, o nadador mostrou-se feliz por ter cumprido a prova que se propusera a realizar. Esta seria, ao longo da sua vida, a façanha de que mais se orgulharia. O seu esforço e dedicação em elevar o nome do seu Clube seriam recordados e recompensados ao ser distinguido com a Águia de Prata, que lhe foi entregue na sessão solene de celebração do 27.º aniversário do SL Benfica.

Pode ficar a conhecer mais sobre este e outros sócios que foram distinguidos pelos seus feitos em nome do Clube na área 16. Outros voos do Museu Benfica - Cosme Damião."

Lídia Jorge, in O Benfica

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