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quarta-feira, 13 de julho de 2016

Orgulho nacional

"Aprendi, ao longo da carreira, que para ser árbitro competente e imparcial, deveria ser o mais pragmático e racional possível, em campo. Embora as emoções estejam sempre presentes, estas devem ficar guardadas para o homem, para o amante do futebol que há em cada árbitro. Mas essa linha, a que separa essas realidades, é ténue. A capacidade de a traçar, sabendo que ela quase se confunde, é a que distingue o bom do excelente. Nesta ou em qualquer carreira.
É certo que seremos sempre o resultado da competência e do saber com as inerências emocionais, mas há profissões em que apenas a razão devia impor-se, deve decidir, com distanciamento das tentações que o coração tantas vezes nos tenta impingir. É assim na arbitragem como na advocacia, na magistratura, na medicina e em tantas áreas.
No domingo, o ex-árbitro Duarte Gomes torceu pelo seu colega inglês e equipa. Torceu para que ele fosse competente, para que tivesse noite feliz e para que soubesse encontrar a sorte. Torceu para que ele acertasse muito e para que não ficasse ligado ao resultado.
No mesmo domingo, o Duarte Gomes pai, filho, irmão, amigo e colega de muita gente, quis que Portugal vencesse. Quis que Portugal derrotasse a França, sem dó nem piedade. Quis que Portugal desse a chapada de luva branca que a humildade devia à prepotência. Quis que Portugal representasse a vitória dos oprimidos contra os opressores, da crença e do querer contra o chauvinismo e a arrogância. No domingo, o Duarte Gomes homem quis que Portugal vingasse derrotas do passado e que fosse campeão europeu. Conseguem compreender o dilema ao ver aquele jogo, enquanto trabalhava? A luta interior que foi analisar com a razão sem sucumbir aos desvarios da emoção? Era a arbitragem de uma das mais importantes finais desportivas do planeta, em que uma das equipas presentes era a Selecção de todos nós! Sabem uma coisa? Não foi tão difícil quanto imaginei. Foi até bem mais fácil do que supus. Quando os anos e a experiência ensinam a separar a razão do coração, tudo se torna mais fácil. E essa é uma dívida que jamais poderei pagar à arbitragem. Uma de muitas. 
Mas a história, por estes dias, não se escreve com páginas sobre árbitros. Não deve nem pode, aliás. Escreve-se pela brilhante etapa que uma geração ultrapassou em nome de um povo. Um povo que há muito merecia alegria assim, que lhe devolvesse a esperança e que lhe transmitisse mensagem: a de que quando a vontade é grande, não há obstáculo, dor ou medo que não se ultrapasse, que não se vença ou que não se supere.
Well done, boys. E obrigado..."

Duarte Gomes, in A Bola

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