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sexta-feira, 13 de maio de 2016

O exemplo

"Onde se fala de Jorge Mendes e do sensacional negócio de Renato Sanches e ainda de um misterioso lance na Madeira...

Sensacional a transferência de Renato Sanches para o Bayern de Munique. Por se tratar de um jovem de 18 anos e muito recente titular do Benfica, pelo dinheiro que envolve (35 milhões pagos a pronto e mais 25 praticamente garantidos e pagos em parcelas, e ainda a possibilidade, bem mais difícil e complexa, de mais 20 milhões) e pelo clube que é. Dificilmente Renato Sanches poderia encontrar melhor clube para crescer, melhorar, evoluir, aprender e desenvolver-se até poder chegar a ser um dos melhores médios do mundo, que pode, realmente, vir a ser, pelo potencial que tem, pelas características muito próprias que revela e pela condição física e atlética natural que possui.
O Benfica teve talento a projectar Renato Sanches; Renato Sanches teve talento a projectar-se no Benfica; Rui Vitória teve talento em apostar em Renato Sanches; o presidente do Benfica teve talento a renovar com Renato Sanches e a conseguir altíssima cláusula de rescisão (de 80 milhões de euros), e o Bayern teve talento a chegar primeiro à assinatura do contrato com o jogador, ganhando a corrida a muitos outros poderosos clubes europeus.
Mas é incontornável falarmos, mais uma vez, do papel do agente Jorge Mendes, não apenas pela capacidade negocial e facilidade com que cria os momentos de conversa com os dirigentes dos clubes, mas sobretudo pela influência junto dos grandes clubes da Europa que foi conquistando ao longo de anos.
Renato Sanches pode ter talento; o presidente do Benfica pode exigir 35 milhões; os responsáveis do Bayern podem até ter ficado seduzidos. Mas dificilmente se parte para uma negociação destas sem uma base de grande confiança.
E a confiança quem a dá é Jorge Mendes.
E é sobretudo nele que confiam muitos dos responsáveis dos principais clubes europeus.

Os dirigentes desenham o negócio, os treinadores avaliam o jogador. Mas há um momento em que é preciso acreditar para lá de tudo isso. E esse é o momento que Jorge Mendes controla.
Controla quando convence o Real Madrid a contratar Pepe ou Fábio Coentrão ou o Chelsea a contratar Tiago ou o Mónaco a contratar Ricardo Carvalho ou o Zenit a contratar Danny, todos por largos milhões de euros e apenas para citar exemplos de negócios que não eram assim tão evidentes. 
Jorge Mendes transformou o futebol português. E transformou também o Benfica porque Luís Filipe Vieira decidiu inteligentemente manter-se ligado ao empresário. Diga-se o que se disser, foi com Jorge Mendes que o Benfica potenciou a Academia do Seixal, porque foi Jorge Mendes que ajudou a levar para a Europa jovens como Ivan Cavaleiro, André Gomes, Bernardo Silva, João Cancelo e agora Renato Sanches, por valores que surpreenderam meio mundo e deixaram o outro meio de boca aberta.
Arrisco mesmo que nenhum clube do mundo terá conseguido em tão pouco tempo (menos de dois anos) facturar tanto dinheiro com transferências de jogadores da formação. Tudo muito graças a Jorge Mendes.
Não reconhecer isso é negar a evidência.

Jorge Mendes está na grande maioria das maiores operações europeias de sempre. Vamos por partes: em Inglaterra, esteve nas maiores vendas (Ronaldo por 96 milhões para o Real Madrid e Dí Maria por 70 milhões para o PSG) e nas maiores compras (Martial por 80 milhões e Dí Maria por 75 milhões para o Manchester United); em Espanha, o mesmo, na maior compra (Ronaldo para o Real) e na maior venda (Dí Maria por 75 para Manchester), já para não falar, por exemplo, na segunda maior compra, a de James Rodriguez pelo Real por 85 milhões; na Alemanha, passa a estar agora ligado certamente à maior compra (assim que o custo de Renato Sanches chegar aos 60 milhões) porque a maior até agora tinha sido a de Douglas Costa, por 40 milhões, também contratado pelo Bayern. Exemplos, apenas exemplos. De um grande exemplo!

Para formar opinião, confesso que tive de ver e rever algumas vezes a imagem. E só depois disso, de muito as ver e rever, posso dizer que me parece realmente ter sido cometida falta para grande penalidade. O pé esquerdo do jogador do Marítimo, Plessis, acerta na parte interior do pé direito de Renato Sanches, pé direito que está no ar, desequilibrando decisivamente o jovem médio encarnado. A imprudente (para não dizer disparatada) entrada de Plessis só por si quase merecia ser castigada com grande penalidade, porque se porventura o pé direito de Renato Sanches estivesse em apoio, o jogador do Benfica poderia ter-se lesionado com gravidade. Como muito imprudente foi, depois, aquele gesto de Renato Sanches que lhe valeu o segundo amarelo, e que em Inglaterra teria valido logo (e bem) vermelho directo!
Voltando ao misterioso lance do penalty, creio mesmo que o próprio Plessis sabe que cometeu falta e até espera que o árbitro assinale a grande penalidade. Creio ainda que o árbitro, Fábio Veríssimo, decide assinalar o penalty e só altera a decisão por indicação do seu auxiliar.
Creio ainda que seria muito difícil Renato Sanches cair como caiu se não tivesse sido tocado. E creio ainda que mesmo vendo a falta para penalty que eu julgo ver, tenho de admitir a opinião dos que defendem não ter existido qualquer falta.
Mais: há quem tenha a mesma opinião mas veja a falta de modo diferente. Eu vejo o toque do pé esquerdo de Plessis no pé direito de Renato Sanches e há quem veja o toque do pé esquerdo de Plessis na perna direita de Renato. É um lance para todos os gostos. É um daqueles lances em que o árbitro pode marcar penalty (e está certo) e pode não marcar (e está certo também).
E é um daqueles lances que ajuda a compreender, creio eu, a dificuldade de se aplicar determinadas regras tecnológicas ao futebol como desejam muitos dos que falam constantemente em novas tecnologias no jogo sem qualquer rigor, atirando simplesmente areia para os olhos dos outros.
Difícil não é falar-se em novas tecnologias no futebol; difícil é explicar claramente o que fazer, como fazer e em que circunstâncias fazer.
Sou dos que defendem (volto a repetir) a tecnologia na linha de baliza porque é absolutamente imperioso que um golo seja mesmo um golo. Mas um golo é um golo.
Um penalty é muito diferente!

É inacreditável como perante as mesmas imagens tantas pessoas deram opinião tão divergente sobre o lance na grande área do Marítimo que valeu a Renato Sanches o primeiro cartão amarelo no jogo do Benfica na Madeira, domingo passado. Vimos todos o que a televisão mostrou; vimos todos o lance repetido de vários ângulos; vimos o mesmo lance dez, vinte, trinta vezes, mas nem todos temos a mesma opinião.
Para uns foi penalty; para outros, nem pensar, tratou-se de clara simulação. do jovem do Benfica. Imaginem agora que o árbitro poderia tomar a decisão com base no tão falado vídeo-árbitro.

O jogo parou, o árbitro reuniu-se com os auxiliares, mais o árbitro do vídeo e ainda representantes das duas equipas, mais dois apanha-bolas, mais um delegado da Liga, mais o representante do povo, mais os chefes das claques, mais alguns comentadores televisivos que nunca se enganam e raramente têm dúvidas... e analisou o lance.
Viu, reviu, voltou a ver e voltou a rever, andou com a imagem para trás e para a frente, focou-se no lance mostrado pela câmara 1, depois a imagem captada pela câmara 2, mais a 3 e a 4, voltou à câmara 1 e reviu a imagem da câmara 2, e voltou ao princípio... e o pobre do árbitro não conseguiu mesmo assim ver qualquer falta, um dos auxiliares diz-lhe entretanto que lhe parece falta, o árbitro do vídeo também diz que não vê qualquer contacto, os representantes das equipas olham um para o outro, o do Benfica diz que sim, que é penalty, o do Marítimo diz obviamente que não, telefonam aos filhos, aos cunhados, aos amigos, o árbitro dá em maluco, os treinadores exasperam, os apanha-bolas encolhem os ombros, o representante do povo senta-se e puxa de um cigarro, e os tais comentadores que nunca se enganam e raramente têm dúvidas clamam pela decisão que quanto a eles não merece sequer discussão. «Marque-se penalty!» exigem uns. «Não se marque penalty!» pedem os outros. 
Enquanto isso, o público assobia e torna-se impaciente, o Renato Sanches pede a deus que o ouçam, o adversário jura ter jogado limpo e o árbitro, por fim, apita e grita: «Quem decide sou eu!» E o que decide então o árbitro?
Nada. Ficou cheio de dúvidas!"

João Bonzinho, in A Bola

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