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quinta-feira, 2 de julho de 2015

Castanho e verde

"Assim se explica que Pinto da Costa tenha consentido em ver Jesus em Alcochete e se admite que Maxi faça metade da época em Alvalade e outra metade no Dragão.

CASTANHO e verde são as cores dos grandes campeões deste Verão. Com predominância do verde sobre o castanho, diga-se em abono da verdade, porque o Sporting está a fazer o defeso mais triunfal de toda a sua história, ao ponto de levar a reboque o Porto na questão do sorteio dos árbitros votada na última reunião magna da Liga de Clubes.
O Sporting a reboque do Porto foi coisa mais do que vista nas últimas décadas. Mas o contrário, o Porto a reboque do Sporting é uma grande inversão de papéis merecedora de todo o destaque porque que acrescenta um triunfo geoestratégico ao palmarés triunfal do presidente do Sporting neste defeso. O Porto já vinha em processo de sportinguização, é verdade que sim. Até a final do campeonato nacional de bilhar às três tabelas foi oficialmente protestada pelos Dragões!
Vista da Luz, de todas as alianças possíveis, a aliança entre o Sporting e o Porto contra o Benfica é a menos contranatura das alianças contranatura.
E só assim se explica que Pinto da Costa tenha consentido em ver Jorge Jesus aterrar em Alcochete e só assim se admite que Maxi Pereira venha a fazer a primeira metade da próxima época em Alvalade e a segunda metade da época no Dragão, ou vice-versa.
O caso Danilo é outro exemplo dos triunfos concertados castanhos e verdes deste Verão. Garantem os jornais que Julen Lopetegui já telefonou a Danilo e que Jorge Jesus já telefonou a Danilo.
Terá sido sorteada a ordem dos telefonemas?
Provavelmente os dois treinadores até ligaram a Danilo do mesmo aparelho telefónico, móvel ou fixo, o que deve ter deixado confuso o jogador que ainda pertence ao Marítimo e que já nem sabe para que lado se virar. Castanhos ou verdes? Verdes ou castanhos? - eis a dor de cabeça de Danilo. O defeso triunfal do Sporting terminou anteontem visto que ontem começaram os trabalhos em Alcochete em função da temporada oficial de 2015/2016. Foi um primeiro dia também excepcionalmente triunfal. Que clube português alguma vez arrancou para uma temporada podendo orgulhar-se de ter sob contrato o treinador vencedor do último campeonato e, ao mesmo tempo, ter sob contrato o treinador vencedor da última Taça, sendo que as duas provas tiveram vencedores diferentes?
Uma coisa destas não é para qualquer um. Nem em Portugal nem em qualquer outra parte do Mundo.

PARABÉNS, muitos parabéns à Telma Monteiro campeã europeia de judo em Baku, e ao Viktor Lindelof, campeão europeu de futebol em Praga.
Ambos são atletas do Benfica e não o esqueceram nos respectivos momentos de glória. Parabéns, portanto, mas não só.
Obrigadinha, também.

SE a Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Futebol ratificar a proposta que visa repor o sorteio dos árbitros o próximo campeonato perderá, eventualmente, alguma dignidade do ponto de vista das instituições internacionais do sector mas ganhará, é mais do que certo, novos e picantes motivos de interesse de trazer por casa.
E é disso que todos gostamos. De animação.
E é em nome dessa animação que sou 100% a favor do sorteio dos árbitros. Porque promete. Não só promete como vai cumprir.
E do vício criminoso das nomeações - que, para os nossos rivais justificam os dois títulos consecutivos somados pelo Benfica - se passará num ápice às suspeitas de vício criminoso do sorteio se os resultados práticos do tirar à sorte não forem os reclamados pelos principais subscritores da proposta.
Os resultados práticos exigidos quer pelo Sporting quer pelo Porto são estes: paridade entre o número de jogos disputados e o número de vitórias obtidas.
Ou isto acontece ou então é porque há bolas quentes e bolas frias na fruteira, concluirão. Veremos, nesse caso, o presidente do Sporting a exigir um termómetro anexado em permanência a cada rifa por sortear enquanto o presidente do Porto, mais pachorrento, apenas exigirá que não lhe falem mais em fruteiras porque tudo o que mete fruta o aborrece de morte de há uns anos para cá.

VERÃO português. A experiência multicultural europeia numa esplanada à pinha assistindo à final do Europeu de sub-21.
Na equipa da Suécia há jogadores com nomes de sonoridade pouco sueca para os nossos ouvidos portugueses, como Guidetti ou Khalili. Ou mesmo Baffo, cujas «raízes ganesas» foram realçadas pelos comentadores de serviço da RTP.
No entanto, para os ouvidos suecos também na nossa equipa há nomes com sonoridades pouco portuguesas, como William ou Ivan ou Iuri.
- São de origem russa? - pergunta-me um turista sueco, muito sério, no momento em que Iuri entra para o lugar de Ivan após uma hora de jogo.
Digo logo que sim. A família escandinava da mesa ao lado é bastante simpática mas, francamente, não estou para grandes conversas.
Já se pressenti-a que a coisa ia ser resolvida nos penalties e que vinha aí o triste fado do costume.

ENQUANTO os nossos rivais viveram defesos de sonho, absolutamente triunfais, oferecendo heroicamente o peito às balas a quem lhes quiser fazer mal, no Benfica o ambiente geral parece ser de enorme apatia.
Nem um benfiquista foi expulso de sócio nas últimas semanas.
Nem um contrato foi rasgado.
Ninguém se ofereceu para morrer se fosse preciso.
Quem diria que é este o emblema bicampeão de Portugal?
As notícias só nos falam de abandonos ou de deserções cruéis.
Enquanto não começar o futebol a sério, enquanto o futebol jogado não voltar a ter primazia sobre o futebol falado, a experiência diz-nos que vamos continuar neste regime anímico de bola baixa vendo os nossos rivais felicíssimos em regimes de bola alta, tão alta que sabe-se lá onde tudo isto vai parar. Depois, com bola a sério, logo se verá.

NUNO GOMES disse que gostaria de voltar a ver Bernardo Silva no Benfica. Não está sozinho o antigo capitão neste desejo de difícil concretização pelos anos mais próximos.
A saída para o estrangeiro do mais do que promissor jogador formado no Benfica explica-se, sem grandes dramatismos, por dois erros de avaliação.
O primeiro erro de avaliação terá sido o do treinador que não lhe reconheceu valor para integrar a equipa principal do Benfica. O segundo erro foi de quem avaliou em 15 milhões de euros a quantia a pagar pelo Mónaco dando-se o caso de querer garantir em definitivo os serviços do jogador.
E não é que o caso se deu? Os monegascos acharam que Bernardo Silva valia os ditos 15 milhões e não hesitaram.
É normal.
Não há Principado que não goste de ter e de manter os seus príncipes...

não sei em que romance de Agustina Bessa-Luís a escritora se referia ao «horror à glória» como uma das características matriciais dos portugueses. Ou seria «pavor à glória» ? Não importa. O que importa é que a imagem tem uma base sólida de verdades que vão muito para além da beleza da literatura.
Esta campanha da selecção de sub-21 redundou em mais um momento do «horror à glória» nacional. Fez-se o impossível: uma qualificação só com vitórias, uma fase final sem uma única derrota, uma goleada maravilhosa aplicada à Alemanha e, no fim de tudo, cinco minutos de desacerto fatal quando chegou o desempate através de grandes penalidades com a Taça já tão à vista.
Tão portugueses os nossos sub-21. Mais uma razão para gostarmos desta equipa que muitíssimo bem nos representou no que temos de melhor, o descaramento, e no que temos de pior, a fiel tremedeira da hora H."

Leonor Pinhão, in A Bola

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