Últimas indefectivações

terça-feira, 9 de junho de 2015

Como se previa

"Não é crime Jesus ir atrás do dinheiro, mas sabia que, ao optar pelo Sporting, incomodava o presidente que o tirou do anonimato e feria o orgulho de muitos milhares de benfiquistas.

Jorge Jesus só precisou atravessar a Segunda Circular rumo ao Sporting, trocando uma compensação financeira que sempre achei escandalosa, na Luz, por outra que passa a ser ofensiva, em Alvalade. Como contra argumentava o meu camarada José Manuel Freitas nos vivos debates que em tempos travámos nas noites de domingo de A BOLA TV, se um treinador recebe verbas que a sensatez não alcança é porque alguém aceita pagá-lhas, em troca de títulos a qualquer preço, o que, a manter-se, nada indica de bom para a saúde do negócio futebol. Jesus, ou alguém em sua representação, limitou-se, pois, a fazer pela vida e a esmifrar quem vê nele o remédio capaz de aliviar todas as dores...

Saiu a mal do Benfica como previ, escrevi e disse não sei quantas vezes, por me parecer que jamais haveria de reconhecer que a sua escolha foi uma aposta presidencial de enorme risco, em conjuntura especial. a partir do momento em que chegou à Luz... entrou a ganhar, depressa se sentiu «dos melhores do mundo», como repetidamente tem assumido, enfatizando uma das características que melhor definem a sua personalidade. No ano seguinte, porém, ficou a 21 pontos do FC Porto, mas Vieira protegeu-o. Depois, perdeu outra vez, e continuou a perder para Vítor Pereira. Ou seja, perdeu três campeonatos antes de vencer os últimos dois: mérito dele, sim, embora, pessoalmente, veja no feito empreitada pouco palpitante. Limitou-se a serviços mínimos em face do que lhe foi oferecido em termos de praticantes de qualidade para trabalhar. Objectivamente, ficou a dever ao Benfica dois campeonatos, além da sua indisfarçavel inabilidade para lidar no espaço europeu, que duas finais perdidas na Liga Europa pouco alteram.
Ao terminar contrato Jesus ficou com liberdade plena para escolher o seu futuro, sendo certo, no entanto, que Luís Filipe Vieira teve a preocupação de lhe proporcionar uma saída confortável, desportiva e financeiramente. No estrangeiro, pois claro, na medida em que foi o próprio treinador a manifestar publicamente esse desejo, na pressuposto (errado) de que o seu nome seria tema de conversa nos gabinetes dos administrações dos principais emblemas europeus: Jorge Mendes faz milagres, mas não é santo... Sobre clubes de topo interessados... nada, e percebe-se a razão.

Jesus revelou, em comunicado de conteúdo amenizador, agradecimento ao Benfica. Foi simpático, embora insuficiente para traduzir a retribuição devida pelo que Vieira fez por ele: descobriu-o ao fim de 20 anos de uma carreira subaltenra preenchida por subidas e descidas e por uma extinta Taça Intertoto. Jesus não queria ser refém do Benfica, como anunciou, assim como o Benfica não queria ser prisioneiro do seu treinador. Como se não existisse futuro além dele. De aí que, expirada a relação contratual, seja absolutamente normal cada qual seguir a sua vida, com um pequeno/enorme senão: não é crime Jesus ir atrás do cheiro do dinheiro, mas sabia muito bem que, ao optar pelo Sporting, incomodava o presidente que lhe deu notoriedade e feria o orgulho de muitos milhares de adeptos encarnados que o admiravam como 'salvador da pátria' benfiquista.

Na cerimónia oficial que confirmou a ligação comercial à Fly Emirates, o que só por si demonstra o prestígio internacional que a águia ainda detém, Vieira declarou que o Benfica é um clube do mundo e tme de recuperar o seu lugar na Europa. Em paralelo, o administrador Domingos Soares de Oliveira alertou para a necessidade de atenuar a política de investimentos realizada nos últimos anos. Para bom entendedor... Jesus é bom treinador para consumo interno, mas em seis épocas nenhum 'coelho' retirou da formação por preferir comprar 'pronto a consumir', indiferente ao peso na despesa. Bruno Carvalho anunciou que lhe vai dar carta branca na gestão do edifício futebolístico leonino: ou há dinheiro para gastar até cansar ou será curta a vida do 'novo projecto'. É esperar para ver..."

Fernando Guerra, in A Bola

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