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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Estatuária estatutária (II)

"Cristiano Ronaldo tem qualidades pouco frequentes, se comparadas com a idiossincrasia do português-padrão: trabalhador incansável, perfeccionista até ao limite, exemplarmente determinado, saudavelmente ambicioso, profissional de mão-cheia. Além disso, não esquece nem secundariza as suas humildes origens, a sua família e a sua terra. Na globalização sem limites em que hoje se vive, Ronaldo tem no fascínio e desafio da sua profissão o que outros eleitos como Pelé, Eusébio, Di Stéfano e mesmo, mais recentemente, Maradona ou Cruyff nunca tiveram com a mesma magnitude: fama e iconografia planetárias, apreço universal, dinheiro a jorro, mercado publicitário à discrição. Mas, dia a história, há sempre o risco, com o decurso do tempo, de dissolvência de algumas destas expressões de sucesso quando lhe está associada uma overdose de presentismo e de vedetismo.
Alguns leitores estarão agora a perguntar por que razão, e neste contexto, teve Eusébio (em vida) uma estátua. Direi, apenas, que há, pelo menos, duas grandes diferenças: uma estátua erigida já o jogador do Benfica não estava no activo; uma estátua não publica, mas na propriedade e junto no estádio do clube que sempre teve no seu coração.
Apetece-me, neste contexto, alargar, metaforicamente, o que, sabiamente, Michelangelo disse há cinco séculos: «Como faço uma escultura? Simplesmente retiro do bloco de mármore tudo que não é necessário?. Em conclusão, Ronaldo já tinha estatuto mesmo que sem estátua que responsabiliza mais o estatuto. E que, no futuro, esta união estatuária-estatutária se fortaleça na raiz da exemplaridade."

Bagão Félix, in A Bola

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