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sexta-feira, 19 de julho de 2024

João Félix: uma flor num jardim de cimento


"Continuo a alimentar a ideia de que João Félix continua sem encontrar o jardim e os jardineiros certos. Terá de pensar muito bem no que vai fazer

Ali pelo final de 2022, numa intervenção para a rádio espanhola Cadena SER, convidado a falar de João Félix, deixei escapar uma ideia, seguramente inspirado por alguém a quem hoje não consigo atribuir o mérito apenas por esquecimento, para descrever momento e circunstância do avançado português. Que João Félix, naquele Atlético Madrid e já com relação irreparável com o treinador, me parecia uma flor num jardim de cimento.
A imagem sugere uma crítica a Simeone e, no entanto, até confesso que tenho um fraquinho pela arquitetura brutalista e pela figura do técnico argentino. Os anos passaram desde que João Félix, ainda adolescente, deixou o Benfica num negócio de €126 milhões. Não se afirmou no Atlético Madrid, teve uma passagem de meia temporada, sem brilho, num Chelsea em crise e outra de uma época num Barcelona sem as armas do principal rival, vítima de dificuldades financeiras e desnorte político, que levou o treinador a dizer que saía, para depois voltar atrás e finalmente sair.
Depois de duas temporadas prometedoras no Atlético Madrid até ser operado ao tornozelo, estaremos muitos de acordo em dizer que João Félix esteve longe de corresponder às elevadas expectativas que criou quando foi determinante para o Benfica conquistar o título de 2018/2019.
E, no entanto, quem olhar para João Félix sem os óculos do respetivo clube vê que está tudo lá como há cinco anos. Aquela elegância a tratar a bola, a leveza sobre o relvado, o génio na tomada de decisão e na execução de um passe ou de um remate, a facilidade com que torna simples o que é difícil.
Sem querer ignorar que João Félix também terá responsabilidade na situação que atravessa, até porque nem todos os males do mundo podem ser culpa dos outros, continuo a alimentar a ideia de que Félix continua sem encontrar o jardim e o jardineiros certos. Pode acontecer, mesmo, que nunca possamos ver tudo aquilo que ele tem capacidade para oferecer, até porque o futebol de hoje não valoriza muito o que ele faz.
João Félix tem 24 anos, tem muito caminho pela frente e, neste verão, terá de pensar muito bem no que fazer. O Benfica está de braços abertos para recebê-lo, os benfiquistas iriam acolhê-lo com carinho paternal, dispostos a perdoar-lhe erros e defeitos, mas o futebol é uma máquina industrial sem consideração pelo sentimento.
Muita coisa teria de falhar ao Atl. Madrid, ao qual pertence o passe e que pagou muito pela transferência, e a João Félix, que terá mais oportunidades para lá do Benfica, noutros campeonatos mais competitivos e ricos, para que se concretizasse o regresso a casa.
Em sentido contrário, muita coisa teria de correr bem para o Benfica poder contratar João Félix por €30 milhões ou €40 milhões, admitindo que estaria disponível e teria capacidade para pagar um salário que nada tem a ver com a realidade nacional."

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