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terça-feira, 21 de novembro de 2023

Um bom casamento


"Como contestar os bons ventos vindos de Espanha para a Seleção Portuguesa?

A Seleção Nacional de futebol acaba de cumprir com exemplar distinção o apuramento para a fase final do Campeonato da Europa que no próximo ano reunirá na Alemanha o conjunto de 24 seleções que vierem definitivamente a qualificar-se.
Pela primeira vez na história, Portugal termina o seu grupo de apuramento com o notável registo de 10 vitórias nos 10 jogos realizados (e notável performance em golos marcados e sofridos), mas, à boa maneira portuguesa, certamente não faltará quem atribua este sucesso da equipa das quinas à menor dificuldade imposta por seleções como as da Eslováquia, Luxemburgo, Islândia ou mesmo Bósnia-Herzegovina (Deus do céu, o que a Bósnia já nos fez passar noutros tempos!...), já para não falar do Liechtenstein.
A verdade é que, mesmo noutros grupos, a equivalência na relação de forças foi sendo semelhante à do grupo de Portugal, mas apenas a França pode, esta terça-feira, concluir a sua qualificação igualmente só com vitórias, o que dá, porventura, uma ideia mais exata dos méritos de uma Seleção Nacional que não passou apenas agora a ser constituída por jogadores ao nível do que de melhor há no mundo, mas só agora soube impor verdadeiramente esse valor sem qualquer mácula.
Em quantas qualificações anteriores, Portugal tinha, por assim dizer, a responsabilidade de se assumir como favorito e foi obrigado a sofrer e a dormir permanentemente com a máquina de calcular até atingir o objetivo exigido?
É evidentemente inegável o valor de cada um dos jogadores habitualmente chamados à Seleção Nacional. Em teoria, por isso, Portugal é uma das seleções mais fortes da Europa, para limitar a questão agora ao continente, porque é continental a competição que se joga.
Mas a questão há muito que não está no valor de cada um. No futebol, a questão é sempre a soma das partes, porque se trata de conseguir com que a equipa seja, já não digo mais, mas pelo menos tão forte e poderosa como é reconhecidamente o valor e o poder médio dos jogadores que a compõem.
Parece fácil, mas conseguir fazer refletir na equipa o valor das qualidades individuais é o trabalho mais difícil no futebol, e não raras vezes, mesmo em grandes competições de seleções (como é, compreensivelmente, mais difícil do que em equipas de clubes), o todo foi bem maior do que soma das partes.
Dois exemplos que nos vêm rapidamente à memória, os da Dinamarca campeã da Europa em 1992 (convidada, à última da hora, para substituir a seleção de uma Jugoslávia em guerra) e da Grécia campeã da Europa em 2004, à custa do ferido orgulho da alma lusitana.
Desta vez, porém, o que a Seleção Nacional prometeu, cumpriu. Fez valer os desígnios do enorme talento dos seus jogadores, mesmo quando não conseguiu jogar o futebol que gostaria de ter jogado e mesmo quando os resultados foram melhores do que as exibições. As fases de qualificação nem sempre são para se jogar bem; mas são para se ganhar!
O percurso limpo da Seleção Portuguesa - a expressão é habitual no hipismo e equivale a saltar todos os obstáculos sem derrubar qualquer elemento - foi concluído na noite de ontem, com justa vitória sobre a Islândia e uma exibição que merecia mais golos e se perdeu, apenas, nalguns momentos, naquela tendência tão portuguesa para trocar a objetividade pela diversão com a bola.
De resto, pode, agora, o selecionador Martínez dormir descansado: já tem uma equipa e tudo indica que já criou um espírito, transmitido no jogo de ontem sobretudo pelo momento em que Cristiano Ronaldo, ao executar mal um pontapé de canto, viu mais de meia equipa correr atrás de dois adversários que já conduziam um bem anulado, mas perigoso, contra-ataque.
E pode ainda Roberto Martínez orgulhar-se de provar como é possível, afinal, virem de Espanha bons ventos e até mesmo… um bom casamento!"

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