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domingo, 1 de outubro de 2023

O Benfica do tango de Di María unido com o samba de David Neres derrota um FC Porto de erros centrais


"Um golo do argentino, assistido pelo brasileiro, deu o triunfo (1-0) aos campeões nacionais. As fragilidades da defesa de Conceição voltaram a ser expostas, com Fábio Cardoso a ser expulso aos 19’, levando à estreia de Zé Pedro, de 26 anos, na I Liga. No primeiro tempo, as melhores situações até foram dos dragões, mas as águias foram claramente superiores após o intervalo

Tão diferentes e tão iguais. Um argentino e outro brasileiro, sim, mas os dois canhotos cheios de magia. Um tem uma carreira inteira na elite e outro procura concretizar todo o seu potencial após alguns altos e baixos, mas os dois são craques de indiscutível valia. Um é do samba, da alegria, da ousadia, outro é do tango, do engano, do balanço, mas quer um quer outro fazem dos dribles dançantes uma arte. Um assistiu, outro finalizou, ambos foram a chave para a vitória do Benfica sobre o FC Porto.
Di María e David Neres desenharam o lance do 1-0 que permite que as águias saltem, à condição, para o topo da I Liga, ficando dois pontos à frente dos dragões — e do Sporting, que ainda não entrou em campo nesta jornada. Pela primeira vez desde 2009/10, o Benfica ganha dois duelos seguidos ao rival, juntando este êxito ao da Supertaça, em Aveiro. E sempre com um argentino no papel principal.
El fideo já abrira o marcador na decisão do primeiro troféu da época. Agora juntou-se com o outro canhoto do terço atacante, os tais dois que nunca tinham sido titulares em simultâneo, para quebrar a resistência do FC Porto, necessária a partir do momento da expulsão de Fábio Cardoso, aos 19'.
O estratega Sérgio Conceição, que só perdera um clássico em seis visitas à Luz, surpreendeu no onze. Baró deu corpo ao meio-campo, Pepê ofereceu-lhe saída em condução e pressão. Mas tudo ruiu quando Cardoso foi batido por Neres, o abre-latas, destapando as carências centrais dos azuis e brancos na defesa. Durante largos minutos com uma dupla composta por David Carmo e Zé Pedro — e qualquer um dos dois poderia, também, ter sido expulso —, o FC Porto teve de abandonar as ideias de Conceição para assumir uma postura de contenção de danos. Até que apareceu o samba e o tango.
Quando, no segundo tempo, o Benfica caiu em cima do FC Porto, foi Diogo Costa a segurar o empate. Neres sentou Pepê, mas o português disse presente. Pouco depois, o brasileiro voltou a galgar pela esquerda, sempre com ginga, cheio de agilidade e promessa de perigo. Cruzou, encontrou Di María, remate desviado por Wendell, 1-0. A 254.ª edição do clássico pintou-se de encarnado.
A pressão prometia ser um dos fatores decisivos do clássico e o Benfica aplicou-a logo antes do primeiro minuto, com David Neres a incomodar uma reposição de Diogo Costa. Di María, recolhendo a bola, rematou por cima à entrada da área. A dupla começou a prometer logo no arranque, mas a etapa inicial não traria muito perigo para Diogo Costa.
Alicerçado na abordagem algo surpreendente do sempre detalhista Sérgio Conceição, o FC Porto mostrou-se bem até à expulsão de Fábio Cardoso. Com Varela e Eustáquio como médios-centro, Baró na meia-direita, Galeno tentando cavalgar pela esquerda e Pepê flutuando nas costas de Taremi, os visitantes somaram algumas saídas interessantes para o ataque, ainda que sem criar excessivo perigo.
Até que, aos 19’, a fragilidade da dupla de centrais dos dragões ficou evidente. Fábio Cardoso não conseguiu acompanhar David Neres e foi expulso. Apenas 15 minutos depois, David Carmo também arriscou o vermelho por travar Rafa Silva em falta.
O mau planeamento do setor recuado por parte do FC Porto ficou, num dos cenários de maior exigência da temporada, à vista: com dois centrais que, juntos, somam 76 anos de idade de fora por lesão, a expulsão de Cardoso levou à entrada de Zé Pedro, central de 26 anos que costuma atuar na equipa B e nunca tinha jogado, sequer, um minuto de I Liga. Ao seu lado estava Carmo, que de outubro de 2022 ao presente mês não fez qualquer encontro a titular pela equipa principal. O sacrificado foi Romário Baró, substituído aos 25’ após ter atuado de início pelos azuis e brancos pela primeira vez desde dezembro de 2020.
Apesar da superioridade numérica, o Benfica teve dificuldades para chegar com perigo até Diogo Costa, o capitão dos visitantes. A circulação não era fluída, havia alguma precipitação e falta de rasgo no ataque dos campeões nacionais. Tirando Romário Baró, substituído cedo, nenhum jogador de campo tocou menos vezes na bola do que Musa (14 toques) e Rafa (16).
Só o FC Porto rematou à baliza na etapa inicial. Aos 40’, um grande tiro de Pepê foi defendido com classe por Trubin. O ucraniano, em estreia no clássico, já evitara o golo de Taremi aos 30’, saindo com qualidade aos pés do iraniano. O 0-0 ao descanso chegava depois de uma etapa inicial escassa em balizas.
Pedia-se um Benfica de maior pendor ofensivo e o regresso dos balneários mostrou uma equipa a cumprir com a exigência. Com circulação mais rápida, cheia de intenção, a bola foi indo rapidamente da direita para a esquerda e daí para o ponto inicial, levando-a para os craques canhotos que partiam de zonas próximas de ambas as linhas para desequilibrar.
Logo nos primeiros instantes, Musa teve dois oportunidades para finalizar na área, algo que nunca tinha feito no primeiro tempo. As oportunidades flagrantes não tardaram em surgir, aparecendo como consequência do cerco que os locais foram impondo aos visitantes.
Primeiro foi Orkun Kökçü a atirar ao poste esquerdo de Diogo Costa, depois foi Otamendi que não teve a melhor pontaria, a terceira chance no reatamento esteve nos pés do dançarino David Neres. O brasileiro tirou Pepê do caminho, mas viu o guardião do FC Porto negar-lhe o 1-0.
Ter num plantel quem já marcou em finais de Jogos Olímpicos, Copa América e Mundial, além de ter ajudado a resolver uma partida decisiva da Liga dos Campeões, é um enorme triunfo. Há bons jogadores e, depois, numa categoria superior, há campeões, futebolistas que carregam uma aura, um peso, uma grandeza.
Di María é um deles. O cruzamento de David Neres tinha de ir para os pés do argentino, o remate tinha de ser desviado em Wendell, anulando a estirada de Diogo Costa. A celebração, mostrando a camisola à Luz, foi uma afirmação de personalidade. Aqui está um campeão do mundo, um dos melhores da sua geração no futebol internacional.
Pouco depois do 1-0, Otamendi esteve perto do segundo. Em desvantagem numérica e no marcador, Sérgio Conceição tentou dar à sua equipa armas para incomodar Trubin. Entraram Gonçalo Borges, Chico Conceição e Iván Jaime, mas as aproximações do FC Porto foram mais na base do coração do que no critério, mais tentando empurrar o Benfica para trás que enganando-o com qualidade. Os visitantes discutiram o resultado até final, é certo, mas sem criar perigo, não fazendo qualquer remate à baliza no segundo tempo.
A quinta derrota de Sérgio Conceição em 18 clássicos teve muito dos erros centrais do planeamento da direção desportiva do FC Porto, que se traduziram nas falhas de Fábio Cardoso ou David Carmo e na entrada de Zé Pedro. Os dragões foram aguentando, mas a muralha que tentaram erguer não foi desfeita à base de catapultas ou armas de cerco, mas de ginga, fantasia e dança. São essas as armas de Di María e David Neres, os craques canhotos da Luz."

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