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domingo, 15 de janeiro de 2023

A «facilidade» da proibição: quando não se pensa a pirotecnia


"Sem surpresa, o governo decidiu que a utilização de pirotecnia em recintos desportivos passa a ser crime, com castigos que podem ir até cinco anos de prisão. Simples. Tão simples que quem se atrever a refletir sobre o assunto só pode desconfiar. Poder-se-á mesmo dizer que é tão simples que as penas se aproximam, por exemplo, das do crime de violação. Se é para ser simplista, só esta associação pode fazer corar de vergonha quem legisla.
Mas não pretendo refúgio na arte da simplicidade. O tema é difícil e complexo. Há perigos inerentes ao uso desgovernado e negligente de materiais explosivos e de engenhos pirotécnicos; em recintos desportivos ou em qualquer outro lugar. É difícil e, por isso, exige-se que “mentes” capazes o tratem com a seriedade e complexidade que merece. E isso, na minha opinião, engloba o outro lado desta questão: o do espetáculo e do entretenimento, sobretudo no futebol.
Que se pensa pouco ou mal a imagem e a promoção do futebol português é um dado que o tempo tem feito por confirmar. É, também, um assunto que dá demasiado pano para mangas tão curtas. Nesta cadeia de poucas ideias ou de ideias mal conseguidas, a do embelezamento do espetáculo e da atração de público é daquelas que raramente tem o espaço adequado nas conversas da távola redonda do futebol – e da governação – nacional.
Fica a sensação que a proibição e a ameaça de penas dolorosas se apresentaram como o caminho mais fácil, aquele que não obriga a refletir, a ouvir e a aprender. E esta “simplicidade” de raciocínio não é apenas nacional; o desencontro de ideias em torno deste tema é transversal a quase todos os países europeus, com a UEFA, à cabeça, a não se mostrar particularmente recetiva a novas abordagens. E, por defeito, os governos e as associações seguem esta posição sem grande oposição.
Mas é possível. Se em vez de ostracizar, o caminho fosse o da confluência. Existem, há vários anos, alternativas seguras ao uso de efeitos pirotécnicos nos estádios. Aliás, ainda no mais recente Mundial se assistiu a espetáculos dessa natureza a cada entrada em campo das equipas. O fogo e o seu efeito visual é um condimento compatível com espetáculo em segurança.
E a “Cold Pyro” (pirotecnia fria)? Pouco ou nada se sabe, em Portugal, sobre essa alternativa legal. Mas na Dinamarca, por exemplo, sobretudo no caso do Brondby, é uma realidade cada vez mais comum, desde logo pela legalidade da mesma. Mas se pouco ou nada se sabe é porque pouco ou nada se quis pensar essa possibilidade. E aí voltamos ao ponto de partida. É possível, basta para isso escapar à simplicidade da proibição e procurar o diálogo. Porque se se acredita que é neste braço de ferro que se vai encontrar o caminho para a segurança, então aí a gravidade da simplicidade de quem decide é ainda maior."

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