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quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Qatar: enfim, não esqueçamos os mortos


"Daniel Oliveira começa a cónica desta terça-feira na antena da TSF com palavras de Marcelo Rebelo de Sousa - "O Catar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal..., mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa".
"Este momento de absoluta sinceridade do Presidente da República causou incómodo geral, mas Marcelo foi mais uma vez o mais fiel tradutor do Estado de espírito nacional", considera.
Na FIFA, "a corrupção" tornou-se "o critério mais relevante para grande parte das decisões" e o Mundial do Catar "representa a estrutura mafiosa que o organiza", condena. "Se o desporto é a simulação lúdica das nossas sociedades, o futebol como modalidade mais popular do mundo representa as de forma perfeita, tudo se compra e se vende."
Para Daniel Oliveira, do calor intenso que dificulta a prática de qualquer desporto ao ar livre, à inexistência de adeptos nas redondezas que levou à contratação de figurantes do Bangladesh e da Índia para torcer por cada seleção, "tudo neste mundial exibe a corrupção que levou à escolha" de um país cujo regime persegue homossexuais e limita os direitos das mulheres. "Uma ditadura."
Para que o Mundial se realizasse no Catar, milhares de pessoas morreram, lamenta o comentador. O país esconde os números reais, por isso nunca será possível saber quantos foram as mortes ao certo, mas "sabemos que são milhares, muito acima do que aconteceu em qualquer empreendimento do género em tempos recentes."
Muitos dos trabalhadores migrantes (que representam 95% da mão-de-obra do país e que "são e foram tratados como escravos"), sucumbiram devido a insuficiência respiratória, vítimas do calor, para construir os estádios e infraestruturas de apoio.
A Europa não é inocente nesta matéria, lembra Daniel Oliveira, "o Qatar não é o único país que trata quem lhe constrói a prosperidade como lixo", mas "rebenta a escala da ignomínia".
O jornalista defende que Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Augusto Santos Silva não se deviam deslocar ao país para assistir aos jogos da seleção nacional. "Ir ao Mundial não é manter relações diplomáticas com o Qatar, é legitimar os crimes necessários para que este Mundial acontecesse em nosso nome", condena. Fazê-lo "tem um significado político que viola os valores que dizemos defender".
E também "preferia que a minha seleção e as de todos os países democráticos se recusassem a ser cúmplices de um Mundial, que para além de resultar de um ato comprovado de corrupção e de acontecer numa ditadura foi na sua preparação um atentado aos direitos humanos."
"A única coisa que existe no futebol para além do dinheiro é a nossa paixão, que por vezes nos cega.""

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