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segunda-feira, 10 de outubro de 2022

O susto desapareceu sob a batuta de Enzo


"O Benfica voltou aos triunfos, batendo o Rio Ave por 4-2. A equipa de Vila do Conde até entrou a ganhar, mas um primeiro tempo de alto nível do craque argentino catapultou os líderes do campeonato para uma vitória fácil, com um bis de Gonçalo Ramos e o primeiro golo de Musa pelas águias

Ver Enzo Fernández jogar em Portugal produz uma sensação estranha. Além do normal gosto em ver um médio atuar com tamanha personalidade, conforto e domínio das situações, como se tudo o que se passasse em campo obedecesse aos seus desejos e ordens, olhar para Enzo Fernández com a camisola do Benfica é imediatamente pensar que estamos a ver um postal com prazo de validade. Qual imagem que desaparecerá após breves instantes, bomba-relógio para os olhos, também a passagem do argentino pela I Liga está condenada a ser uma visão efémera.
Foi essa explosão de qualidade que foi evidente no Estádio da Luz depois de, logo aos 6', o Rio Ave ter-se adiantado no marcador, através de Fábio Ronaldo. Com o Benfica em desvantagem, anormais mudanças no onze e entre os dois compromissos frente à distante galáxia do PSG, poder-se-ia pensar numa tarde mais difícil que o esperado para os líderes do campeonato. Mas, sob o comando sereno, mas afirmativo, que Enzo exerce no meio-campo, é mais difícil que esta equipa trema.
O argentino uniu as pontas da equipa, recebendo dos centrais, tricotando com João Mário, acelerando com Draxler ou definindo com Gonçalo Ramos, para levar o Benfica para o descanso a vencer por 3-1. Uma primeira parte com 21 remates das águias, oito deles à baliza, atesta bem o domínio dos líderes do campeonato, que viram Ramos e Enzo saírem ao descanso. Na segunda parte, em modo gestão, mais um golo em cada baliza selaria o resultado final.
Com Ristic a estrear-se a titular, João Mário a partir da direita e Diogo Gonçalves da esquerda, o Rio Ave entrou na Luz a vencer num lance que exemplificaria muitas das intenções de Luís Freire para a partida. O guardião Jhonatan, paciente e criterioso, fez um passe vertical para Baeza, que tocou logo para Samaris. O grego conduziu e soltou para Yakubu, que deu o golo a Fábio Ronaldo. 1-0 e uma afirmação de qualidade dos vila-condenses.
Mas logo o Benfica mostrou argumentos para ferir a baliza dos visitantes. João Mário, que com o seu critério sereno está a mostrar utilidade em zonas mais avançadas do que no ano passado, serviu Ramos, que atirou ao lado. Sete minutos depois do primeiro golo, viria mesmo a igualdade.
Aos 13', uma tabela entre João Mário e Enzo Fernández desmontou a defesa do Rio Ave, como se quisesse demonstrar que uma associação inteligente e subtil entre dois esclarecidos interpretes pode ser mais útil do que a força bruta de um carro de assalto. O português assistiu Gonçalo Ramos para o 1-1.
Gonçalo Ramos teve, logo a seguir, oportunidade para bisar, mas o 2-1 surgiria num erro enorme de Jhonatan. Falhando a tentativa de uma receção, o guardião colocou a bola na sua própria baliza.
Em vantagem, o Benfica partiu para um vendaval de futebol ofensivo. Na esquerda, Ristic mostrava audácia e argumentos técnicos; no último terço, João Mário fletia da direita para o meio para cozinhar as acções com tomada de decisão perspicaz; tudo ordenado e liderado por Enzo Fernández, o médio de 21 anos que os preconceitos fazem dizer que joga como um veterano, mas que na verdade joga na justa dimensão do craque que é, independentemente de há quantas voltas ao sol anda a pisar a casa em que todos vivemos.
João Mário, Gilberto e o próprio Enzo tiveram oportunidades para aumentar a vantagem mas, por falta de pontaria ou acerto do guardião rival, o golo não chegou. Só em cima do descanso viria o 3-1.
O Rio Ave cometeu o pecado mortal de deixar Enzo Fernández ler a jogada. Com tempo para analisar, o médio fabricou o passe que deu o espaço para que Gonçalo Ramos estivesse cómodo para finalizar. O 3-1 colocava o triunfo muito bem encaminhado para os locais.
Para o segundo tempo, Roger Schmidt fez entrar Florentino e Musa, dando descanso a Gonçalo Ramos e Enzo. Depois de dois meses a todo o gás para os habituais titulares, o alemão pareceu hoje, pela primeira vez, ativar um certo modo de gestão.
Foi esse controlo que se viu no segundo tempo. Com menos esticões, mais pausa e serenidade. Sem tanto desgaste, tendo em vista a visita a Paris da próxima terça-feira e o calendário que não dará tréguas até uma semana antes do Mundial do Catar.
Aos 62', o 4-1 chegaria em novo lance em que João Mário colocou a engrenagem da equipa a mexer. O internacional português parece cada vez mais cómodo sendo não só pensador de jogadas em zonas recuadas, mas também executor perto da área, relembrando a versão que Jorge Jesus extraiu dele no Sporting em 2015/16.
Dos pés de João Mário a bola foi para Ristic, que confirmou a boa estreia no onze com uma assistência para Musa. Para culminar a tarde em que vários jogadores menos utilizados se mostraram a Schmidt, o ex-Boavista estreou-se a marcar pelo Benfica.
Até final, o momento mais emotivo seria mesmo a saída de Samaris, muito aplaudido pelo público da Luz. Aos 86', Guga, num grande remate de fora da área, ainda selaria o 4-2 final, confirmando a tendência para marcar ao clube onde se formou. Depois da apreensão que o 1-0 poderia ter causado, o desafio terminou sereno para o Benfica, muito devido a um médio que está de passagem pelo Estádio da Luz e pela I Liga."

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