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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

O Caldas ia partindo a loiça


"O Benfica teve na Taça de Portugal, frente a um adversário do terceiro escalão, talvez o desafio mais difícil desta temporada em que se mantém invicto. O 1-1 dos 90 minutos perpetuou-se no prolongamento e só nos penáltis os encarnados asseguraram um lugar na fase seguinte, face a um rival que nunca teve medo

Quando aos dois minutos de jogo, João Silva fez o primeiro remate do Caldas - Benfica, o sinal estava dado. Não que o remate tenha saído colocado ou forte ou que tenha obrigado Helton a esticar-se mais do que um mero desvio do olhar, para isto ainda havia que esperar por outros remates de João Silva, mas aquela primeira tentativa era não mais que uma declaração de intenções: o Caldas, uma equipa do terceiro escalão português, queria bater o líder do campeonato, que este ano ainda não sabe o que é perder e que vinha de travar uma equipa que paga salários com três dias de produção de petróleo lá no Médio Oriente.
E o Caldas foi isso mesmo, se calhar o adversário mais complicado que o Benfica de Roger Schmidt encontrou esta temporada, mais complicado em termos de dificuldades criadas, atitude, só quebrada nas grandes penalidades, bem mais de duas horas depois do apito inicial do árbitro. O Benfica está na 4.ª eliminatória da Taça de Portugal, mas se tivesse perdido este jogo só seria surpresa para quem não o viu, para quem não assistiu à resposta do Caldas no final da 1.ª parte, em que enviou um tiraço à barra, o tal remate de João Silva que Helton afastou já com as extremidades das extremidades dos membros superiores antes de encontrar o ferro. Ou a reação ao golo do Benfica, numa altura em que a equipa já parecia acabada fisicamente, mas ainda com o discernimento de fazer de um erro de António Silva o golo do empate, uma correria de Gonçalo Barreiras que para mais ainda se deu ao luxo de rematar por entre as pernas do guarda-redes do Benfica.
É claro que o Benfica teve mais bola, mais oportunidades, mas foi uma equipa pouco eficaz, abusadora de um estilo que não é o seu, com cruzamentos desesperados e lançamentos longos para segundas bolas que o Caldas ia limpando. E isto jogando muitos dos essenciais de Schmidt, como Enzo, Florentino e Aursnes a meio-campo, tal como em Paris; com António Silva no eixo da defesa e Grimaldo na lateral esquerda. Com João Mário na frente. Não foi por aqui que o Benfica se deixou surpreender. Mas manietado esteve muitas vezes com a pressão alta do adversário, a jogar como uma equipa grande estando tão abaixo da cadeia alimentar do futebol nacional, o que talvez possa servir de exemplo para tantos. Já se sabe que isto da Taça de Portugal é mais dado a surpresas que provas de regularidade e que aqui não há “o pontinho”, mas a intenção do Caldas nunca foi, em tempo algum, segurar o que quer que fosse e só sofreu verdadeiramente quando o físico deu de si, na 2.ª parte.
No prolongamento, que já era, per se, uma surpresa, voltou a segurar bem o Caldas, com o Benfica a só estar perto aos 99’, quando Enzo enviou uma bola desgovernada à barra. Os penáltis pareciam, então, a derradeira prova de maturidade, mas o que se pode pedir mais a uma equipa com apenas três profissionais, com tanta gente ali que às tantas até tem de ir pegar ao serviço daqui a umas meras horas?
Não tremeu aí o Benfica, tremeria Clemente, o jogador do Caldas que falhou o único penálti das duas séries e que terminou a noite agarrado à família, ele de lágrimas nos olhos, a família também, como que nele se incorporasse a única falha no plano que quase afastou o Benfica de uma prova em que, nos últimos anos, não tem sido excessivamente feliz. O Caldas, diga-se, esteve muito perto de partir a loiça toda, na terra dela, uma mais educadinha que outra, uma equipa de cores vivas, de natureza fresca. Bordalo ficaria orgulho."

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