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domingo, 1 de maio de 2022

O romantismo também rende


"O Benfica foi à Madeira arrancar uma vitória por 1-0, num jogo em que a equipa da casa jogou aquilo que, na verdade, sempre joga, seja qual for o adversário: de olhos na baliza, a tentar sair a jogar, à procura de uma felicidade traduzida em futebol positivo. Não deu pontos este sábado, mas deu muitos outros ao longo do campeonato

Numa semana em que tanto se falou de romantismo no futebol ou da falta dele, tem alguma graça ver este Marítimo a jogar frente aos grandes. Desde que Vasco Seabra aterrou no Aeroporto Cristiano Ronaldo que a equipa do Funchal não se atemoriza. Seja qual for o adversário, é para sair a jogar, é para olhar para a baliza, com todos os riscos tomados, assumidos. É, pelo menos, corajoso, mais do que certo ou errado, para mais num campeonato em que equipas deixam metade dos titulares fora e quejandos - e isso também não é certo nem errado, é apenas, digamos, uma atitude.
O Marítimo é corajoso, sim, e como todos os corajosos por vezes falha espetacularmente. Como no jogo com o Benfica na 1.ª volta, em que saiu da Luz com um cabaz de 7-1, tendo jogado precisamente com o mesmo peito feito, numa altura em que, para mais, navegava por zonas perigosas da tabela.
Este sábado, na Madeira, o Marítimo entrou a perder precisamente por causa da coragem: logo aos 2’, tentou sair a jogar, falhou a ligação a meio-campo e Gil Dias aproveitou para conduzir o contra-ataque. O remate do jovem português foi bom, a defesa de Paulo Victor nem por isso e na recarga estava lá Darwin para fazer o 34.º golo da temporada. Um golo que não aconteceria se a equipa da casa não estivesse toda lançada para a frente - e é a vida.
Ao golo, o Marítimo respondeu como se poderia esperar: sendo igual a si próprio. Arriscando, falhando tantas vezes, mas fazendo do duelo com o Benfica um animado jogo de futebol, aparição rara no nosso campeonato.
Voltando ao tal romantismo, será uma heresia para os que dele não gostam esta atitude do Marítimo, mas numa liga em que há três equipas e depois todas as outras, a classificação dos madeirenses (7.º, depois de um início complicadíssimo) talvez nos diga muito mais do que este jogo em específico. E a questão da falta de pressão, por as equipas já jogarem neste momento para muito pouco, não serve de justificação, porque Vasco Seabra sempre tentou jogar assim.
A derrota pela margem mínima com o Benfica nasce de um erro, mas houve futebol para mais golos de parte a parte e se o Marítimo tivesse sacado daqui um empate não seria um escândalo, que jogaram com menos um desde os 42 minutos, por expulsão de Cláudio Winck. Os encarnados, a jogar ainda assim com um onze algo alternativo, em que Sandro Cruz se estreou a titular e Tiago Gouveia no 2.º tempo, foram mais fortes no início de ambas as partes e na balança da justiça do marcador talvez isso possa pesar, mas o Marítimo quis sempre discutir o jogo, tentar o ataque, a área, o golo. Tornar o futebol naquilo que gostamos de ver, em algo intenso, com ritmo, dividido. Com a bola a ir e a vir, sem amarras, sem demasiado racionalizar para se sacar o pontinho ou poupar umas pernas.
O romantismo não terá rendido pontos nesta tarde de sol na Madeira, é certo, mas nem só de jogos com os grandes vive o campeonato das restantes equipas. E nesses jogos, onde o campeonato delas verdadeiramente se define, o positivismo deu muitos pontos a este Marítimo.

P.S. - Seria bom que a coragem que o Marítimo mostra em campo tivesse espelho nas bancadas. Assobiar constantemente um jogador que sofreu uma entrada que levou a uma expulsão, para mais um jogador que viveu um episódio triste nas últimas semanas é só, bem, estúpido."

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