Últimas indefectivações

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Bancadolândia


"Este é um daqueles momentos em que fitamos o retrovisor das nossas vidas para apreciar reflexões e premonições. Em Maio de 2017, quando a Federação Portuguesa de Futebol, alinhada com os desígnios que do IFAB irradiavam para latitudes reguladoras de competições profissionais, anunciou a introdução do VAR em todos os jogos do nosso principal campeonato em 2017/18, era antecipável que o desporto líder dos mais populares do planeta entraria numa dimensão tecnológica transformadora do espectáculo, porventura sem retorno possível. Caminhos de afinação nesse novo rumo, sim, são imperativos, sempre, porque só melhorando é que se poderá fazer e legitimar a defesa de um bem maior chamado futebol, por muitas transfigurações que encarne.
Hoje, passados mais de quatro anos, é consensual que o videoárbitro não eliminou os erros de arbitragem com interferência direta no resultado, 'somente' emagreceu esse número. Paralelamente, semeou e fez germinar outras controvérsias, em razão da componente humana que lhe está associada tanto na redação do protocolo como, e sobretudo, na interpretação e execução do mesmo. Não nos podemos espantar.
Deixando para os peritos o lado formal do tema e o trabalho a realizar no propósito de elevar a fiabilidade desta ferramenta em abono do desporto armado, centro e abordagem e a leitura numa perspetiva de coração e mais colorida, a das bancadas, nomeadamente nos estádios, onde as experiências sensoriais são ímpares, mas pensando também em todos os que acedem pela janela mágica da televisão ou demais dispositivos eletrónicos.
Para quem paga 'bilhete' e se inquieta, entusiasma e empolga, o VAR é uma autêntica 'picadora de emoções'. Por mais iluminados contributos que surjam, o videoárbitro tende a empurrar-nos fatal e silenciosamente, a nós, adeptos, para um certo estado de cepticismo, porventura irresolúvel, estimo. O VAR também nos modificou. A quem não acontece sentir o disparo interior do interruptor da dúvida em lances que no passado conduziriam a expressão de júbilo e a sentimentos de felicidade sem marcha-atrás?"

João Sanches, in O Benfica

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