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terça-feira, 24 de setembro de 2019

Havia sempre a esperança da Luz!

"1966, Dezembro: o Benfica estava em Leipzig. Por cá,havia quem escrevesse Lípsia. Desfalcado de Simões e de Torres, não fez grande exibição no Zentralstadiom frente ao Lokomotiv. E perdeu por 1-3 para a Taça das Cidades com Feira. A segunda mão ficou para o ano seguinte...

Recebeu o Benfica o Leipzig, e eu venho, aqui, falar-vos de Leipzig. Cidade linda, Leipzig.
No meu tempo de escola, ainda na Outra Senhora, havia a mania ou o modismo de aportuguesar todos os nomes estrangeiros.
A gente aprendia que Leipzig era Lípsia.
Que espanto seria vermos, nos jornais de agora, dizer que o Benfica defrontou o Lípsia, não?
No meu tempo de escola, Leipzig, ficava num mundo à parte: para lá da Cortina de Ferro. Na Alemanha Oriental. Ou, como também lhe chamavam, República Democrática da Alemanha.
E a primeira vez que o Benfica foi a Leipzig, ainda era República Democrática da Alemanha.
Estávamos em 1966. Dezembro de 1966.
O adversário era o Lokomotiv.
Para a Taça das Cidades com Feira, que passou a Taça UEFA e a Liga Europa.
Convenhamos que, em 1966, os jogadores do Benfica deviam sentir uma certa frustração por jogar a Taça das Feiras.
Em 1966, o Benfica era a melhor equipa da Europa.
Não sou eu que o digo. São os resultados.
Entre 1961 e 1969, os encarnados disputaram cinco finais da Taça dos Campeões europeus e venceram duas. Quem fez melhor durante esse período?
Pois... como vêem.
Mas se o Benfica se via relegado para a Taça das Feiras, a culpa era somente sua.
Era preciso jogar, portanto.
Na primeira eliminatória também viajara para Leste: para Plovdiv, na Bulgária.



Águias num campo de neve
Em Leipzig, 1966, os jogadores do Benfica foram recebidos como estrelas que eram. Todos queriam autógrafos de Eusébio e de Jaime Graça, e de José Augusto e de Coluna.
Meses antes tinham encantado o planeta no Mundial de Inglaterra.
Mas as baixas eram muitas.
E a organização dos lisboetas não durou mais de 20 minutos sobre o relvado pesado de Leipzig.
No trabalho de manter o zero-a-zero, desde o início da partida, naturalmente fiados na sua superioridade que deveria, mais cedo ou mais tarde, vir à superfície, os jogadores da águia ao peito caíram numa toada da facilitismo.
Fernando Riera era o treinador.
O senhor Fernando Riera. Conheci-o bem. De uma educação e de uma elegância a toda a prova.
Dizia ele, no fim: 'Reagimos muito mal às adversidades. Num jogo de muito confronto físico, alguns jogadores deixaram-se levar pelo seu temperamento latino. Não podíamos ter caído nesse erro. Sabíamos que estávamos desfalcados no ataque, com as ausências de Simões e de Torres, mas isso não invalida que estivéssemos obrigados a fazer melhor. Que dizer? A vitória do Lokomotiv é justa. Foram mais grupo. Estiveram mais ligados. Criaram mais oportunidades'.
Ah! O Lokomotiv ganhou por 3-1.
Nélson e Diamantino Costa não funcionaram no ataque.
Jacinto fez um autogolo aos 25 minutos.
José Augusto respondeu, aos 40.
No segundo tempo, Henning Frenzel teve uma das tardes da sua vida: golos aos 47 e 51 minutos.
Muito tempo antes do final do encontro, mas o problema é que o Benfica deixou-se enlear na teia das adversidades.
Claro que havia a Luz. Havia sempre a Luz.
Na Luz, o Benfica seria o grande Benfica.
A neve caía com força sobre o Zentralstadium de Leipzig.
Alguma desilusão, mas nenhum desespero.
Faltava muito, muito tempo para o jogo da segunda mão.
Ficaria para o ano seguinte.



Deixemos passar o Inverno. O Natal estava à porta.
Riera teria tempo para pensar no Lokomotiv mais tarde...
Agora era tempo de recuperar a equipa e de voltar ao esplendor de sempre...
O Benfica recuperaria o título perdido para o Sporting na época anterior. E, imagine-se, lutando até quase ao fim com a... Académica!"

Afonso de Melo, in O Benfica

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