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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Vieira, um exemplo de liderança

"Não me espantaria que a breve prazo se assista no Benfica a uma reorganização de pastas em nome de uma estrutura mais discreta, mais eficaz e mais forte

Em Fevereiro deste ano, nos oitavos de final da Liga dos Campeões, o Liverpool goleou o FC Porto, no Dragão (5-0). Na conferência da Imprensa, Sérgio Conceição afirmou que era preciso honrar o símbolo do clube e assumir a responsabilidade pelo agreste resultado - no ambiente de rivalidades exacerbadas que marca o futebol português, abro este parêntesis para elogiar a nobreza do treinador portista ao lamentar a exposição na praça pública de um colega de profissão (Rui Vitória).
A estrutura portista sentiu um resfriado, mas nenhum sintoma de fraqueza se lhe notou. Foi comer e calar, não constando que alguma medida excepcional tivesse sido imposta, a não ser o regresso de Casillas à titularidade por troca com José Sá.
Há uma semana, o Benfica sofreu também cinco, em Munique, diante do Bayern, que em épocas anteriores presenteara o FC Porto com seis golos (2015) e o Sporting com doze na mesma eliminatória, em 2009 (cinco em Lisboa e sete em Munique). No entanto, a oportunidade foi de ouro para os espíritos mais excitados indicarem ao treinador a porta de saída e ajudarem a compor um simulacro de crise.
A estrutura benfiquista, uma das principais bandeiras de Luís Filipe Vieira, até ao momento com perfeita justificação, desta vez, porém, sujeitou-se a uma situação embaraçosa e precipitada.

No rescaldo da reunião que, presumivelmente, foi convocada para carimbar o despedimento de Vitória, e nem me importa saber quem lá esteve, sobressaiu uma descontrolada pressa de soprar para o exterior mentiras e verdades sobre assunto sério e discutido em circuito fechado. Foi uma paródia que podia ter sido menos cansativa para os mensageiros e mais divertida para os adeptos se a BTV se tivesse lembrado de fazer a cobertura do espectáculo, com comentários, reacções, debates, tudo seguido ao minuto, tipo jogo e reportagem nas cabinas.
Sobre o tema, confesso a minha ignorância. Depois de tanto ler e ouvir ainda não percebi o que, em rigor, aconteceu. Não me refiro ao que é do conhecimento público, mas ao alcance e às consequências dessa reunião cujo objectivo supremo o presidente, por razões que só ele domina, fez abortar.
Vieira foi acusado de amadorismo, de inabilidade ao colocar em si o foco da pressão e de colocar em risco o seu próprio lugar, além de outros reparos. O futuro dirá.

No futebol, como na vida, ninguém é dono da razão. Não me preocupa, por isso, que a independência que prezo seja vista como um curvar submisso por quem pensa de maneira diferente quando se trata de falar de pessoas e do que elas representam, seja qual for a cor da camisola. Isto para sublinhar que admiro a obra do presidente do Benfica, tenho respeito por ele e nada de suficientemente grave vislumbrei até ontem que pudesse abalar a confiança que me merece. Pelo contrário, a criticada e gozada mensagem da luz que lhe iluminou o caminho de sentido contrário ao que fora profusamente difundido, interpreto-a como ingénuo exercício metafórico, tradutor de quem gosta de pensar mil vezes se for preciso no assunto de modo a não patrocinar más decisões ou promover injustiças.
Foi uma atitude exemplar da sua parte. Exerceu a liderança que o cargo lhe confere e fê-lo com humildade e coragem nunca antes registadas, ao chamar a si a total responsabilidade pela surpresa que acabara de comunicar ao mundo e ao ilibar a Comunicação Social pelo folclore de notícias que a dita reunião suscitou, lançando aviso sério para dentro. Aliás, não me espantaria que a breve prazo se assista a uma reorganização de pastas em nome de uma estrutura mais discreta, mais eficaz e mais forte.

Se não houver nenhum imprevisto, sábia advertência presidencial, Rui Vitória tem o seu lugar assegurado até final da temporada. Há uma semana escrevi que estava tudo nas suas mãos e assim continua. Há o Campeonato para reconquistar, as Taças de Portugal e da Liga para vencer e uma Liga Europa, se para tanto lhe sobrar engenho, para reclamar o estatuto de candidato à conquista do troféu.
É capaz de ser de mais. Creio que ainda hoje não enxerga o choque por causa do penta que falhou e depois de muito questionado sobre a humilhante campanha na UEFA se ter lembrado que há vida além da Liga dos Campeões convenci-me que para ele, enquanto treinador profissional, a ambição tem um horizonte limitado: ganha-se hoje, perde-se amanhã, depois empata-se e por aí adiante, numa boa, sem arrelias.
Apesar dos nomes aventados e das campanhas em curso, penso que o nome do futuro treinador do Benfica sairá de uma curta lista guardada a sete chaves na cabeça do presidente. E também sobre este ponto arrisco que se tem falado muito e acertado pouco. Quanto ao resto, o trabalho de Vieira supera todas as dúvidas. A obra, a estabilidade e o projecto devem tranquilizar associados e adeptos. Admito estar enganado, mas esta crise inventada, pese o barulho que provocou, mais não é que uma pausa ligeira na construção do edifício que há de albergar o Benfica do futuro. Esse, o mesmo que, na opinião de Domingos Soares Oliveira, «será um dos dez melhores clubes europeus, garantidamente daqui a 15 anos»."

Fernando Guerra, in A Bola

3 comentários:

  1. Sem dúvida Vieira é um exemplo de liderança.

    Só um grande líder justificaria contrariar uma decisão tomada por uma administração, com um "foi uma luz que me deu".

    Vão ver que os grandes líderes mundiais ainda o vão
    copiar...

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    1. Tu sabes lá o que é liderança ou o que é uma administração de uma empresa e como se gere.

      Vieira fez aquilo que fez apoiado na legitimidade que lhe dá o facto de ter sido eleito Líder do Benfica. Foi ele que escolheu quem o acompanha na administração.

      E tem legitimidade para ter a última palavra que se tem mostrado ter sido bem tomada.
      Mesmo que fosse um erro, o que ele mostrou foi liderança e acima de tudo CORAGEM.
      E é mesmo para isso quer foi eleito com 95% dos votos dos sócios.
      Os grandes líderes mundiais fazem exactamente o mesmo e por vezes pior.
      Nem fazes ideia do que é a intuição e como funciona.
      Ignorância deprimente.

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  2. ......foi por causa de tanta "luz" que se deu o "apagão" do Penta.............

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