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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Ninguém as para!

"A história do futebol é a história das pessoas e reflecte o estado civilizacional e a condição feminina no devir dos tempos, coincidindo com um enorme desenvolvimento económico trazido pela generalização da indústria, na viragem do século XIX e sobretudo ao longo de todo o século XX, onde são bem conhecidos os episódios quotidianos envolvendo futebol, por exemplo, durante as duas Grandes Guerras.
As mulheres, a quem a sociedade se habituou a sonegar oportunidades a abafar protagonismos, não podiam deixar de ser as grandes vítimas e também as grandes esquecidas da história. É o caso do futebol feminino que modernamente se vai espalhando e consolidando e a que a opinião pública se habituou a encarar como uma novidade e mais um passo libertador da condição feminina. E isso é verdade, mas vale a pena olhar para trás e ver que o reconhecimento do futebol feminino se trata afinal de um acto de elementar justiça social.
Em Inglaterra, que nos habituámos a ver como o lugar das origens, remontam à última década do séc. XIX (1881 a 1895) os primeiros registos de jogos de futebol feminino. O jogo tornou-se tão popular e as estrelas tão bem-sucedidas, que parece que por estas alturas os tradicionalistas ingleses se ocuparam muito a impedir o povo de jogar golfe para não envergonhar as elites e as mulheres de jogar futebol para deixar brilhar os homens e remetê-las à casa. É certo que se discutia muito se as mulheres deviam trabalhar, no que faziam concorrência aos homens porque eram exploradas no mercado de trabalho e argumentava-se que tiravam o sustento a outras famílias enquanto as suas próprias crianças ficavam privadas da educação e cuidados familiares. A economia falou mais alto, e as mulheres trabalhadoras vieram para ficar. E bem!
Mas no desporto a coisa não se passou assim, e o futebol feminino oficial foi proibido pela Football Association inglesa entre 1921 e 1971. Durante 50 anos a sociedade negou-lhes o direito a jogar à bola porque, cito: 'the game of football is quite unsuitable for females (...)'. Não apropriado, portanto.
E se em Inglaterra não era, imaginem no Portugal do Estado Novo...
Mesmo assim, em 1935 há notícias de jogos femininos no norte do país, mas podemos bem dizer que só no novo século em que nos encontramos se começa a fazer justiça às mulheres do futebol, e, como não podia deixar de ser, o Benfica faz uma vez mais histórica.
Parabéns ao Benfica, pela visão, e a elas porque... ninguém as para!"

Jorge Miranda, in O Benfica

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