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domingo, 15 de julho de 2018

A final do Mundial

"Vai ser uma final entre o calculismo da grande França e a sagacidade da pequena Croácia. Há no ar uma nova ordem no futebol mundial...

1. Hoje em Moscovo a Croácia faz história e cria, desde já, uma nova ordem no mundo do futebol. Desde 1950 é a primeira selecção de um pequeno Estado a chegar à final de um Mundial. A Croácia, com quatro milhões de habitantes e muitos outros também numa diáspora com muita história e com muitas dores, é uma selecção acarinhada por largos milhões de adeptas e adeptos do futebol. O Uruguai, com cerca de 3,3 milhões de habitantes, chegou às finais de 1930 e 1950 e ergueu, com todo o orgulho, o troféu. A Croácia alcançou este Mundial através dos europeus play-offs e chegou à final com três prolongamentos. E com duas etapas de grandes penalidades. A Croácia, quase que  o uruguai europeu, tem Modric como capitão e maestro e tem um Rakitic o jogador que mais jogos disputou na presente época desportiva (71)! A França terá presente, bem presente, o Europeu que organizou e a derrota frente a Portugal. Também não esqueço o Mundial da Alemanha de 2006 em que Portugal conquistou o quarto lugar. Vi, sentado na bancada, Zidane marcar a grande penalidade que levou a França à final e também vi, sofrendo na bancada, a anfitriã Alemanha conquistar o terceiro lugar ao vencer-nos por 3-1. Sendo o árbitro o japonês Toru Kamikawa. E sendo esse o Mundial da cabeçada de Zidane em Materazzi que... agora seria, de imediato, sancionada pelo VAR, através das cerca de trinta câmaras que nos mostrarão quase tudo, na tarde deste domingo, a partir de Moscovo! Vai ser uma final entre o calculismo francês e a sagacidade croata. Entre a força gaulesa e a subtileza croata. Entre jovens que revolucionam, em velocidade, o futebol francês e a serenidade e a argúcia da sabedoria croata. Entre a grande França e a pequena Croácia. Mas há no ar uma nova ordem no futebol mundial...

2. Acabado o Mundial da Rússia já sabemos que o próximo Mundial do Catar se jogará entre 21 de Novembro e 18 de Dezembro. Poderá ser, desde logo, um Mundial com quarenta e oito selecções. Acredito que a ausência na Rússia da Itália e do Chile, da Holanda e dos Camarões e, também, dos EUA antecipará o alargamento desta competição para o Mundial de 2022. Como acredito que a China lutará pela organização do Mundial de 2030 com o projecto de organização conjunta da Argentina, Uruguai e Paraguai. O que sabemos é que as Ligas europeias terão que começar a preparar, e a antecipar, os seus calendários já que um Mundial no inverno europeu é bem diferente de um Mundial no verão europeu. O que sabemos é que o Mundial da Rússia foi exemplar sob o ponto de vista organizativo e que o Catar já tem construído, como bem nos ensinou o Professor Jesualdo Ferreira, um dos principais estádios do Mundial! A FIFA tem razões para sorrir. Agora é gerir a clivagem com a UEFA acerca da evolução/concretização do Mundial de clubes. Que parece uma resposta da FIFA ao retumbante êxito que é a Liga dos Campeões... da UEFA!

3. O senhor Shéu Han deixou as funções de secretário técnico do Benfica. Acompanhei a sua carreira de jogador e cumprimento a sua dedicação ao Benfica desde 1970. Foram quarenta e oito anos de uma entrega única, de um exemplar profissionalismo e de uma ética marcante. Ele é, sim, um verdadeiro embaixador da ética no desporto e, em particular no futebol! Entrou no Benfica em 1970 e o seu primeiro jogo foi, salvo erro, em Outubro de 1972 frente ao Barreirense no saudoso Estádio D. Manuel de Melo. Substituiu ao 80 minutos o nosso querido amigo, também sempre presente, Toni. O Benfica ganhou por três a zero com golos de Humberto Coelho (abraço!) e Nené (outro!), que bisou. Fez 487 jogos, marcou 45 golos, conquistou nove campeonatos nacionais, seis Taças de Portugal e duas Supertaças. Envergou por vinte e quatro vezes a camisola da nossa selecção. Com a liderança conquistadora de Toni despede-se dos relvados, e em particular do velho Estádio da Luz, em Maio de 1989, e apesar do empate face ao Boavista conquista o seu último título nacional e com um avanço de sete pontos sobre o Futebol Clube do Porto. Sempre jogou no Benfica. Sempre se dedicou ao Benfica. Sempre as suas serenidade, simplicidade e sagacidade foram reconhecidas e referenciadas. Sempre foi afável e sempre foi solidário. Sempre foi tolerante e sempre foi fiel. Com ele aprendemos a grandeza do Homem e a gratidão do cidadão. Sempre o admirámos e sempre tivemos o privilégio da sua generosidade. Na palavra e no gesto. No olhar e no silêncio. Ele, o Senhor Shéu, é o exemplo vivo das palavras de Erik Geijer: «O que se faz de grande faz-se em silêncio»! Bem haja Senhor Shéu Han por todos estes anos e por todos os momentos que me (nos) proporcionou. Em todos os momentos e instantes da sua vida de jogador, dos seus tempos de treinador e de dirigente, dos seus múltiplos instantes de cidadão socialmente empenhado. Como o Rui Costa, sempre uma referência do Benfica, também digo e agradeço por «tudo aquilo que nos deste e tudo aquilo que foste para nós»! E acredito que o Benfica, a Federação, a Liga, o Sindicato dos Jogadores e, até, o afectuoso poder político não deixarão de devidamente homenagear uma vida dedicada ao futebol português.

4. O Benfica mostrou face ao Vitória de Setúbal que há talento do Seixal que se vai projectar nesta época desportiva - Gedson e João Félix, por excelência - e que fez contratações que vão proporcionar muitas noites - e finais de tarde - de reconquista. Como é o caso de Conti, de Ferreyra e de Castillo. O Benfica sabe, no seu todo, que terá, porventura, no próximo Agosto um dos meses mais importantes da sua recente história desportiva. O Benfica sabe, no seu todo, que é fundamental - a todos os níveis! - entrar a ganhar na Liga portuguesa e entrar para a fase de grupos da Liga dos Campeões. E esta pressão - sim é pressão - tem de ser assumida na sua integridade por todo o universo benfiquista. A começar, com a serenidade que os tempos exigem, por nós, adeptos. Mas com a consciência que, neste Agosto, muito se joga acerca do futuro próximo do Benfica europeu e do bem e sempre português Benfica!"

Fernando Seara, in A Bola

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