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quarta-feira, 13 de junho de 2018

Todos querem ganhar

"Imagine-se como poderá ser este Campeonato do Mundo se for ganho pela Arábia Saudita. Imagine-se o que precisará de acontecer para que essa possibilidade se concretize. Esse cenário, apesar de inesperado, é exactamente aquele com que, neste preciso instante, milhares de adeptos sonham na Arábia Saudita. O mesmo acontece na Austrália, no Japão ou no Panamá em relação às suas selecções nacionais. Depois das respectivas fases de apuramento, quem chega à final tem direito a sonhar. Não importa se tiveram mais ou menos dificuldade em apurar-se, tudo isso foi esquecido. Antes do primeiro jogo, todos estão em pé de igualdade. Antes de serem disputados, todos os jogos estão empatados a zero.
Nas conferências de imprensa, os jogadores e treinadores esforçam-se por encontrar novas maneiras de dizer quase nada. É um extraordinário exercício de retórica falar sobre o que não se sabe, o que ninguém sabe realmente. Aproveitam para exprimir desejos que, com ligeiríssimas variações, são sempre o mesmo. Ainda estou por ouvir o jogador que, antes da partida, afirme que vai perder, que nem vale a pena jogar, que a bola não é redonda.
É claro que, na caderneta, há aqueles cromos que custam muito a sair e, também, aqueles que toda a gente tem para a troca, mas, em 32 centros de estágio da Rússia, todos têm direito a sonhar. Os eternos favoritos recebem essa atenção privilegiada devido ao seu passado, mas agora vai começar o presente e, durante 90 minutos mais descontos de tempo, só o presente vai importar. 
Matematicamente, o mais provável é que, nos 48 jogos que compõem a fase de grupos, haja múltiplos resultados improváveis, prognósticos que só podem realmente ser feitos no final do jogo. Por mais contas que se façam, por mais que se comparem estatísticas, as variáveis que compõem cada jogo fogem de cálculos inequívocos. No fim, será sempre fácil explicar o que aconteceu, mas ainda não chegámos aí, estamos muito longe daí, estamos na incerteza.
Este é o momento em que os comentadores falam sobretudo para aliviar a tensão, porque há emissões de TV e colunas de jornal que precisam de ser preenchidas. Mas ninguém sabe realmente o que vai acontecer, ninguém tem a certeza absoluta. O futebol também é esta expectativa, este pontapé que pode acertar em qualquer lado da bola, em jeito ou à bruta. O Campeonato do Mundo também é este silêncio cheio de ruído que antecede o apito do árbitro.
Saibamos desfrutar da beleza deste momento em que todos querem e todos podem ganhar."

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