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quinta-feira, 28 de junho de 2018

Não perguntem mais nada ao Carlos

"Ao contrário de muitos jornalistas da minha geração, que sempre o olharam de lado, tenho genuína admiração e respeito por Carlos Queiroz. Não tenho dúvidas sobre as suas qualidades, a sua inteligência, o quão à frente esteve do seu tempo e o quanto o futebol português lhe deve. Mais: em distintas ocasiões, acho que Portugal – e Portugal são pessoas em concreto, na Federação e no Estado – o destratou e lhe faltou ao respeito, mesmo que ele tenha procurado o confronto por ser essa a sua natureza.
Queiroz, um emigrante de muitas vidas, foi sempre mais feliz e reconhecido fora de portas e às vezes em estranhas latitudes do que na sua terra. Falámos disso – eu e ele –, voando noite dentro de Joanesburgo para o Dubai. O facto de ser um cidadão do Mundo, nascido em África e habituado a superar obstáculos, reforçou essa capacidade de adaptação. E de se levantar depois de cair ou de o atirarem ao chão.
Ora, dito isto, todo o seu comportamento no pós-Portugal-Irão foi miserável. Escrevo sobre o pós-jogo intencionalmente. Antes da partida, Queiroz fez tudo para desestabilizar o opositor, usando o seu acesso privilegiado aos media portugueses. Fez o que devia. Falou, fingindo não falar, do problema com Ronaldo em 2010, colocou pressão máxima e chegando a lembrar que tinham ficado fora dos convocados de Fernando Santos "jogadores do Barcelona, do Mónaco ou do Inter".
O opositor era Portugal, campeão da Europa, e podendo não gostar dos mind games e de uma ou outra referência, é preciso entendê-las à luz do que ia acontecer. O Irão podia fazer história. Durante o jogo foi o que se viu. Um comportamento de pressão permanente e vitimização sem sentido mas, mesmo isso – que em Queiroz jamais seria inocente – ainda se poderia enquadrar no calor do embate. 
Depois, não. E depois ninguém lhe pedia patriotismo. Apenas bom senso e sentido de justiça. A sua voz foi uma voz isolada, não em Portugal. Em geral. Ora, o que é ridículo é que Queiroz que definiu e executou uma estratégia cega de confronto do início ao fim – não tendo dúvidas, por exemplo, no facto de Portugal ter sido beneficiado em todos os lances –, se queixou amargamente que a maioria dos seus compatriotas não lhe dirigiram a palavra, e muito menos o agradecimento devido ao facto de ele ser um alguém tão especial. A sério? Naquele momento? Naquelas circunstâncias?
O tema para Portugal está fechado. E, em nome do que de melhor foi feito, gostaria que para Carlos Queiroz também, mas não sei. Prefiro, na verdade, guardar o bom espírito do Irão e a grande entrevista, sobre futebol, que deu ao jornal espanhol ‘El País’ poucos dias antes do Mundial."

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