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sábado, 3 de fevereiro de 2018

Nepotismo

"Justificava-se que o suporte documental sobre propostas a discutir fosse colocado à disposição com antecedência prevista na lei.

Não vale a pena enterrar a cabeça na areia como a avestruz. Qualquer que seja a perspectiva de análise do nosso quotidiano, começamos a sentir que esta sociedade está mesmo doente e perigosa, lembrando, em muitas circunstâncias, o mundo orwelliano e a velha máxima the big brother is watching you. É que o tempo da liberdade de expressão e de opinião, na sua mais pura concepção, potencia, hoje em dia, in crescendo, a acção das denominadas forças politicamente correctas que, no fundo, sempre conviveram mal com as sociedades abertas, antes preferindo o critério das modas de gosto mais do que duvidoso. Essencial, hoje em dia, quanto mais não seja, para corresponder à «sede de roupa suja», é manter vivo o espírito da acusação torpe, da devassa subtil, recorrendo, se necessário, à suspeição que, para sempre, poderá marcar a personalidade a, b, ou c. Importante é a sobrevivência a todo o custo, a manutenção do privilégio do poder qualquer que seja o preço a pagar nem que, para tanto, seja necessário o recurso às novas fontes de propaganda, tudo em nome de uma transparência que, na verdade, nunca existiu.
Vejamos, por exemplo, o caso da Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal, marcada para o próximo dia 3 de Fevereiro. Dada a profusão e complexidade de matérias e tratar, justificava-se que o suporte documental relativo às propostas a discutir, fosse colocado à disposição dos associados com a antecedência mínima prevista da lei. Inexplicavelmente, porém, não foi esse o caminho escolhido. Vivendo o Clube um momento de euforia indesmentível, seria expectável que os dirigentes leoninos aproveitassem o ensejo para, em clima de unidade e exaltação clubista, congregar ainda mais a massa associativa em vez de procurar cisões e fracturas, sobretudo, para com aqueles que, em consciência, entendam manifestar a sua discordância sobre o modo como os destinos do Clube são dirigidos. Depois de, num primeiro momento, considerar infracção disciplinar, «Criar ou fomentar a criação de grupos, dentro ou fora do Clube, que por qualquer modo possam perturbar o trabalho dos órgãos sociais» (sublinhado nosso), o Conselho Directivo, apressadamente, rectificou o lápis da censura prévia, propondo, com inusitada magnanimidade, uma redacção perfeitamente dispensável face ao preceito estatutário que já existia. Não contente, o mesmo CD pretende abolir o Conselho Leonino - eleito pelos sócios - substituindo-o por um conselho estratégico (?) cuja designação é da competência exclusiva do Presidente. O nepotismo no seu melhor! Quo vadis Sporting?"

Abrantes Mendes, in A Bola

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