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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Cervi com olhos postos no Mundial

"Durante muitos anos, os treinadores entenderam que uma equipa de futebol devia ser composta por jogadores com perfil de raguebistas: altos, fortes, aptos para a luta e choques sucessivos. O tempo encarregou-se de recuperar para a causa os baixos e talentosos que dominam, com inteligência, critério e sentido prático, uma arma sempre fundamental: a velocidade de reacção. O carácter vigoroso é um dos traços mais relevantes desse tipo de futebolistas. Os entendidos veem no impulso um fenómeno reactivo que compensa a aparente desvantagem funcional pela falta de centímetros. Valdano definiu assim os jogadores de baixa estatura: "São personagens de Walt Disney metidos em coisas sérias."
Cervi tem aparência frágil (1,66 m) e fisionomia de adolescente. O perfil de imaturo esbarra na criatividade, no instinto e na imaginação, pelo que nunca poderá ser desprezado. Como todos os artistas, é insolente no modo como acredita nas suas qualidades, mais agora que agregou continuidade ao talento e conhece os benefícios provocados pelo amparo de uma equipa e de um clube nos quais impera qualidade técnica e organização estrutural.
Era um grande jogador mas estrito nas soluções que apresentava; tinha a matéria-prima dos predestinados mas faltava-lhe a evolução inerente à aprendizagem. Deslumbrava por ser eléctrico, talentoso e de decisões instantâneas; desestabilizava pelo frenesim da atitude e pela coragem com que seguia o instinto; limpava adversários do caminho com tremenda facilidade, revelava articulação notável para executar a 200 km/h e era muito eficaz nos lances de aproximação à baliza. Um ano e meio depois do primeiro impacto como futebolista em permanente estado de exaltação, que não pegou de estaca no Benfica, o argentino deu passos seguros para se completar e corresponder em pleno aos genes criativos que lhe correm nas veias. Era um jogador imprevisível e muitas vezes imparável em espaços curtos, evoluiu para um entendimento mais completo e abrangente do futebol. 
Com o tempo, fez evoluir a eficácia de intervenções avulsas (muitas delas decisivas) para o sentido mais amplo do que são os interesses da equipa; não perdeu o estilo frenético de quem assenta em ganas e ama a velocidade mas acrescentou-lhe o entendimento das vantagens de travagem e pausa para poder tomar decisões ainda mais contundentes. As mais recentes exibições confirmam-no como jovem (23 anos) que se empenhou no crescimento pela via da aprendizagem táctica; da necessidade de dominar o futebol através das suas chaves colectivas; de pensar um pouco para lá do óbvio e estimular a capacidade para entender que há vida (e jogo) para lá do talento individual – num fenómeno tão complexo, feito de estratégia e de vasta cadeia de cumplicidades, ninguém atinge o máximo testando apenas a magia de truques exclusivos e de milagres que, quando resultam, conquistam plateias. Até porque a procura da glória também pode ser uma roleta russa de resultado incerto, capaz de deixar os treinadores à beira de um ataque de nervos.
Cervi tornou-se um jogador muito mais completo, que subiu um patamar na hierarquia e consolidou lugar entre os melhores argentinos da actualidade. Superou os efeitos da dúvida, seguiu os conselhos de Rui Vitória e adaptou-se a um tipo de futebol mais exigente, que desconhecia e para o qual não chegam as aptidões naturais. Cervi aprendeu porque não teve pressa e não se deixou abater pelas dificuldades; recolhe agora os frutos de ter investido no estudo e ter acreditado na competência de quem o rodeia. A expressão total da sua grandeza futebolística está bem encaminhada, agora que logrou uma das conquistas mais relevantes: a total confiança dos companheiros. Se mantiver o nível até ao fim da temporada, tem fortes probabilidades de estar no Mundial da Rússia.

Rúben Ribeiro matou as teorias
Rúben Ribeiro fez explodir todas as teorias e lugares comuns em situações análogas: uma coisa é ser bom em equipas mais modestas, outra numa grande potência (e ele foi bom nas duas); precisa de tempo para adaptar-se a uma nova realidade (e ele, com quatro dias de trabalho, jogou como se ali estivesse há quatro meses); que aos 30 anos já pouco pode oferecer (e ele mostrou que tem ainda muito para dar).

A qualidade de João Amaral
João Amaral é um avançado talentoso, irrequieto e com boa chegada. Tem 7 golos na Liga e é, a par do vila-condense João Novais, o melhor marcador português do campeonato. A sua afirmação numa equipa em dificuldades prova que, mais importante para um jogador se expressar, acima dos resultados, é a proposta que apresenta. O V. Setúbal joga o suficiente para valorizar jogadores. É uma esperança.

Uma nova etapa no Belenenses
Silas é o novo treinador e regressa a casa com José Pedro – salvo melhor opinião, os dois melhores jogadores que o clube teve neste século. Sim, o saber está acima de tudo mas, numa altura em que faltam vínculos à história, a SAD faz bem em recorrer a genes do Clube de Futebol "Os Belenenses". Porque a mudança era necessária e Silas tem crédito, talvez os adeptos voltem a sentir-se parte da solução."

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