Últimas indefectivações

domingo, 10 de setembro de 2017

Do VAR a André Almeida

"Mesmo à quinta jornada, o VAR é visto a cores. Em certas ocasiões é 'luz da verdade'. Em outras é já quase que uma 'sombra com pecado'.

1. Nesta quinta jornada o VAR - videoárbitro - trabalha com muita serenidade. O conjunto dos jogos da Liga decorrem todos a horas diferentes. Desde as dezanove horas de sexta até às vinte horas de amanhã - com o Aves-Belenenses - a serenidade no espaço da Cidade do Futebol que acolhe a tecnologia contratada para a experiência portuguesa do denominado videoárbitro não tem sobreposições de jogos. Cada um dos nove jogos decorre ou decorrerá num horário que permitirá decisões que contribuirão, em larga escala, para o reconhecimento da repetidamente proclamada verdade desportiva. Como se o futebol conseguisse despir as cores da análise mesmo olhando para o que a televisão mostra e o VAR (mas, também o assistente do VAR), vendo, interfere, por vezes corrigindo. É o que vai acontecendo ao longo destas cinco jornadas. Em alguns casos sem qualquer relevância mediática. Só para efeitos de correcção de erros gritantes, de jurisprudência interna ou de ponderação de erros cometidos. Em que a articulação entre arbitragem e disciplina é, neste ambiente, uma necessidade que se reconhece. Porém em outros casos, poucos, o recurso ao VAR determina longas e repetidas ponderações como se a generalidade dos telespectadores não tivesse discernimento - e capacidade - para fazer a sua avaliação. E, assim, de repetição em repetição temos a avaliação permanente dos três grandes - com a clara anuência deles! - e evidenciando-se, claramente, que o VAR tem dias e circunstâncias. É bom quando nos favorece. É fraquinho quando nos prejudica, acima de tudo no nosso combate. Ou não valida a nossa perspectiva, que é, acima de tudo, prospectiva! E, assim, já são mais conhecidos os videoárbitros que os árbitros dos jogos. Estes já são desculpados. Os outros crucificados ou até já pintados. Nem que sejam as paredes das suas casas. E desta forma percebemos bem que o VAR foi reconhecido como útil por muitos que só o aceitaram em razão de um tempo político de atenuação das altas tensões que dominam e condicionam o tempo actual do futebol português. O VAR foi o remédio - um misto de calmante e do antibiótico - que as nossas principais instituições utilizaram para não terem uma intervenção activa neste clima que corrói e que perturba a indústria do futebol profissional em Portugal. Somos os melhores da Europa no futebol jogado, temos seis treinadores portugueses envolvidos na edição deste ano da Liga dos Campeões, mas sabemos que no final da presente época desportiva só o vencedor da nossa Liga tem acesso garantido à atractiva fase de grupos da Liga que proporciona milhões. E sabemos que as verbas da Liga dos Campeões - directas e indirectas - podem representar entre vinte a trinta por cento de determinados orçamentos de clubes participantes nesta relevante competição. E sabendo tudo isto não há capacidade, nem interesse, na busca de um denominador comum para a indústria do nosso futebol. E como já se reconhece, mesmo à quinta jornada, o VAR é visto a e com cores. E varia a ponderação todos os fins de semana. Em certas ocasiões é uma luz de verdade. Em outras é já quase uma sombra de pecado. E como tudo depende ou da linha exibida ou da intensidade do contacto há que ter paciência. Na certeza, como nos legou Camilo Castelo Branco, também que «a paciência é a riqueza dos infelizes»!

2. O que está a acontecer com Adrien merece reflexão. Concretizou-se uma transferência mas não se efectivou a inscrição. A própria FIFA recusou a inscrição em razão da documentação necessária ter dado entrada no sistema informático (no denominado TMS) catorze segundos para lá da hora. Não nos podemos esquecer que houve milhões de segundos para concretizar, em pleno, a operação. Muitos e muitos milhões de segundos. Mas o que sabemos é que Adrien nem está a treinar no Leicester. Já não é do Sporting e ainda não é em plenitude jogador do Leicester, como resulta de uma declaração do treinador do clube inglês, Craig Shakespeare. E também sabemos que Adrien é um jogador profissional e tem direito a exercer a sua profissão. Esta é uma situação singular. Está no Leicester por transferência mas não está inscrito no Leicester. Aqui são quase que verdadeiras as palavras de Johann Goethe: «A claridade é uma justa repartição de sombras e de luz!» E sem responsabilidade do que quer exercer, em pleno, a sua profissão!

3. Acredito que vão começar as denominadas chicotadas psicológicas. Nas próximas duas semanas já vai haver notícias de treinadores despedidos e de treinadores já oferecidos! O interessante é que, na generalidade dos casos, só agora completaram os respectivos plantéis. A culpa vai casar-se com alguns treinadores São o elo mais fraco. Mas com a certeza que os treinadores da Premier League levaram a que o mercado de transferências encerre nas vésperas do arranque da competição. Sendo mais rigoroso as entradas até à quinta-feira anterior ao primeiro jogo da Liga  mas as saídas até ao último dia de Agosto. O que significa que Adrien não estaria na difícil e complexa situação me que se encontra. Quer trabalhar mas não pode. A não ser que o Tribunal Arbitral do Desporto valide uma interpretação que concretize o princípio da proporcionalidade.

4. Estava no Estádio da Luz na passada sexta-feira e fiquei com a convicção que o André Almeida quis rematar à baliza. Percebi claramente que olhou para a baliza e para o guarda-redes. Para mim foi um grande golo. Um golo extraordinário. Para Vítor Oliveira, com a sagacidade que lhe reconheço, um «chouriço». O que fica é a paixão do futebol. E as suas formas de interpretação. Foi, sim, um golo que determinou uma importante, mas sofrida, vitória do Benfica. E um golo de um profissional exemplar, dedicado, reconhecido e com uma característica que nos faz recordar Gilbert Cesbron: «A personalidade assemelha-se a um perfume de qualidade: quem o usa é o único que o não sente!»"

Fernando Seara, in A Bola

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