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terça-feira, 14 de julho de 2015

O ano em que Eusébio esteve em parte nenhuma

"Entre o Benfica e o Monterrey há muito em comum - Fernando Riera, Otto Glória, um grupo famoso de arquitectos. E claro, a Pantera Negra que foi em busca do tesouro da Sierra Madre e acabou numa profunda tristeza. Tempo, portanto, para um reencontro definitivo.

«O Ano em que Estivemos em Parte Nenhuma» é um livro extraordinário. Conta o tempo em que Ernesto Cuevara de La Serna, o Che, esteve em África, no Congo na altura dito belga, liderando um grupo revolucionário de mais de mil homens.
Esse ano de estar em parte nenhuma foi 1965.
Em 1965, ainda Eusébio não era o Eusébio-EUSÉBIO, o Eusébio-completo. Porque para que Eusébio seja inteiro como só ele, é preciso que exista o ano de 1966 e o Campeonato do Mundo de Inglaterra mais os quatro golos à Coreia do Norte.
Em 1967, Che Guevara deixou de ser Che Guevera homem e passou a ser o Che Guevera mito. Fuzilado em La Higuera, na Bolívia, pelo temente Mário Terán, deceparam-lhe as mãos e fizeram com que o mundo ecoasse o seu nome desde as montanhas por onde o condor passa.
Em 1975, Eusébio também estava, por assim dizer, em parte nenhuma.
Ou seja, estava em Monterrey, no México. Muito longe das revoluções. Até longe das revoluções. Até longe da revolução que, em Abril de 1974, em Portugal, lhe abrira finalmente a porta de saída do Benfica e do país.
Monterrey é uma cidade árida, não longe da fronteira com os Estados Unidos, ali porta a porta com Saltillo (outras histórias para outras crónicas), dinâmicas e capital do empreendimento privado, industrial e dada ao progresso. Não de agora, mas de há muito. Como os próprios mexicanos dizem: «Longe de Deus, mas tão perto dos Estados Unidos!».
Eusébio já tinha estado em Monterrey em Julho de 1974. No Estádio Universitário, o Benfica de Milorad Pavic venceu por 4-2 o Club de Fútbol Monterrey perante 25 mil espectadores. «El Volcán», como os mexicanos apelidavam o Universitário, extinguiu-se perante o futebol encarnado.
Pouco mais de um depois, Eusébio vestiria a camisola azul e branca às riscas de «Los Rayados» de Cerro de La Silla.
Parece que lhe ficava mal. Ou, pelo menos, estranha...
Tanta gente em comum!
O Club de Fútbol de Monterrey foi fundado no dia 27 de Junho de 1945 - acabou de cumprir mais um redondo aniversário.
Hoje em dia é propriedade da FMSA (Fomento Económico Mexicano S.A.) maior empresa mexicana de bebidas.
Em 1945, no dia 19 de Agosto, também foi um Che que marcou o primeiro golo do novo clube contra o San Sebastián de León: José «Che» Gomez.
O clube não tem o peso do Chivas de Guadalajara ou do América do México, por exemplo, mas já venceu por três vezes a Liga dos Campeões da CONCACAF e agora prepara-se para deixar de vez o velhinho Estádio Tecnológico, o segundo mais antigo em actividade no país, com capacidade para cerca de 38 mil espectadores, transferindo-se para os arredores da cidade, para Guadaloupe, e para o Estádio BBVA Bancomer.
É sair de casa alugada para casa própria. Durante 63 anos a fio, o CF Monterrey foi fiel inquilino do Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey, uma das maiores universidades privadas da América Latina, dona do Tecnológico - no qual Portugal venceu a Inglaterra (1-0) no Mundial de 1986. Agora inaugura com pompa e circunstância uma nova arena, moderníssima, desenhada pela Popolous, a mesma agência de arquitectos que planeou o Estádio da Luz, o novo Emirates de Londres, o Novo Wembley, o Millenium de Cardiff ou o Estádio Olímpico de Londres, entre outros.
Convide-se, portanto, o Benfica porque faz todo o sentido.
Como se vê, as ligações existem entre ambos os clubes e são variadas. Metem inclusive Fernando Riera que esteve por duas vezes no Benfica (1962/63 e 1966/67) e três vezes no Monterrey (1975/76, com Eusébio, que impôs como «capitão» de Equipa, 1977/79 e 1989), e Otto Glória que passou pelo Benfica duas vezes (1954/59 e 1967/70) treinando o Monterrey em 1978/79.
A Sierra Madre abraça Monterrey.
Lembram-se do filme de John Huston? Humphrey Bogart a fazer de Fred Dobbs, mendigando em redor até que o sonho amarelo do ouro o leva à Sierra Madre.
Eusébio no sopé da Sierra Madre estreando-se frente ao Laguna: 2-2.
Estádio repleto. Um dos golos é de Eusébio.
Eusébio e o Monterrey são campeões estaduais. Mas, de repente, bate uma tristeza.
Fernando Riera sai. A Pantera Negra lamenta-se à sombra da igreja da La Puríssima Concepción: «Talvez tenha sido o pior bocado que passei em toda a minha vida: quando entrei no estádio deserto, sem ninguém, sem amigos, sem companheiros de trabalho. Eu e a minha solidão. Ia ali, àquele campo modesto, perto da minha casa, só para me treinar, pois as minhas relações com o clube estavam más. Queriam pagar-me menos do que estava no contrato e eu não estava disposto a aceitar. Para não perder a forma, saía de casa, metia à montanha e corria, corria, sozinho com os meus pensamentos. E quando corria. pensava: 'Sou um tipo chamado Eusébio, andei no futebol maior, fui aplaudido por multidões, e estou agora no México, abandonado, incompreendido, longe dos meus, com a minha família desambientada. Isso merecerá a pena? Em que me vim eu meter?'».
Passaram-se, entretanto, quarenta anos.
O Benfica regressa a Monterrey e Eusébio também.
A disputa da taça que leva o seu nome é uma forma de fazer a pazes definitivas com esse ano em que, também ele, esteve em parte nenhuma."

Afonso de Melo, in O Benfica

5 comentários:

  1. Fala mas é do Pelé, que metia o Eusébio no bolso a jogar futebol.

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  2. e do Vicente que metia o Pelé no bolso?

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  3. E do Garrincha que metia o pélé no bolso, a jogar futebol!

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  4. E do Maradona que metia o pélé e o mané garrincha juntos no bolso a jogar futebol!

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  5. eh eh
    agora veio a parvoíce de um puto que nunca viu nem pelé nem garrincha nem eusébio nem vicente
    está caladinhos miúdo

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