Últimas indefectivações

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Valores? Só números...

"Admito que a senhora presidente da Assembleia da República já sinta vergonha. No dia em que o povo, com a espontaneidade de que só ele é capaz, prestava comovisíssima homenagem à memória de um dos seus que, pouco instruído (ai, dr. Mário Soares, que desastrada persistência nessa tecla!), mas enorme em talento e raça, se elevou a gigantesca bandeira de Portugal admirada em todo o mundo, eis efémero ocupante do 2.º mais elevado cargo do Estado na pressa do dislate: frisar que transladação do corpo de Eusébio para o Panteão Nacional custaria muito dinheiro... Chocante/degradante: mais um exemplo do que vai na cabeça, porque na alma, de quem actualmente dirige (?) Portugal, vassalos dos mandantes na Europa e não só... Que se danem valores humanos/morais, até patrióticos (acabaram com o feriado da independência de Portugal!); que se danem as pessoas (perdão, só a imensa maioria do frágil Zé Povinho). Tudo reduzido à única coisa que veem: números. Insignificante: a senhora presidente da AR até se enganou (terá sido da pressa...), sobredimensionando o tal custo. Questão de fundo: decidir se honra de sepultura ao lado de 4 presidentes da República, 4 escritores e general assassinado pela ditadura deve ser atribuída a futebolista fabuloso embaixador do país em todo o Mundo. Sendo certo que essa honra foi dada à fadista grande embaixatriz. Dimensão planetária de Eusébio é muitíssimo superior à de Amália (futebol vs. fado).
Amália e Eusébio, bandeira de Portugal, não de um regime. Daí a enorme admiração que tinham um pelo outro. Tremendo sorte a minha numa madrugada em Viena de Áustria, dealbar de dia rumo à final Milan-Benfica. Numa sala de hotel, assisti a hora e meia de borbulhante bate-papo entre aqueles monstros de talento. Que delícia! Pormenor: Amália tratava Eusébio por tu; Eusébio, que sempre foi tu cá-tu lá com quase toda a gente, inamovível no respeito pela deusa: «Dona Amália.»

Santos Neves, in A Bola


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