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quinta-feira, 15 de junho de 2023

Voando Alto: O Poder Transformador da Voz dos Atletas


"Voar alto... Já dizia Leonardo da Vinci que "Uma vez que alguém tenha experimentado voar, andará pela terra com os olhos voltados para o céu, pois lá já esteve e para lá desejará voltar." Nós, atletas, por si só, já voamos e aspiramos legitimamente a voar sempre mais alto, de acordo com a nossa natureza competitiva, e estará tudo certo, mas quando já lá estivemos uma, duas, três vezes, também sabemos que há uma altura em que esse também pode ser um voo conjunto, em equipa, com os direitos e deveres associados. Razões não faltam para os atletas se unirem e expressarem as suas preocupações e interesses coletivos, especialmente num mundo desportivo cada vez mais competitivo e de interesses muito corporativos, onde os atletas lutam para se afirmarem como voz diferenciadora.
Um pouco de contexto para entendermos a nossa força algo que podemos controlar. Os cientistas descobriram e perceberam por que os gansos voam na típica formação em "V": quando os gansos selvagens voam em formação em "V", fazem-no a uma velocidade 70% maior do que se estivessem a voar sozinhos. É que, à medida que cada pássaro bate as suas asas, é criada uma "sustentação’’ para o pássaro que o segue.
Lição n.º 1: as pessoas que dividem uma direção em comum e têm senso de comunidade chegam mais rápido e mais facilmente ao seu destino, porque viajam baseadas na confiança.
Quando o ganso que está no vértice do "V" fica cansado, passa para trás da formação e um outro ganso voa para a posição de liderança.
Lição n.º 2: a força, o poder e a segurança também aumentam quando se viaja na mesma direção que outros, com os quais dividimos um objetivo em comum.
Durante o vôo, os gansos da retaguarda grasnam para encorajar aqueles que vão à frente a manter a sua velocidade.
Lição n.º 3: quem exercita a liderança precisa de ser encorajado com elogios e apoio.
Os gansos acompanham os fracos. Quando um deles fica doente ou ferido, no mínimo outro ganso sai da formação e segue-o na descida, para o ajudar e proteger. E permanece na sua companhia até que ele possa voar novamente ou morra. E só então vai em busca de outra formação ou se integra no próprio grupo.
Lição n.º 4: devemos apoiar quem trabalha connosco nos momentos de maior necessidade.
Como atletas Olímpicos que somos, desempenhamos um papel importante no mundo desportivo e na sociedade. É, por isso, perfeitamente compreensível que desejemos ter uma voz ativa na defesa dos nossos interesses.
Nos últimos anos, temos visto exemplos de atletas organizando-se e manifestando-se sobre questões tão importantes como direitos, igualdade de género, salários justos, condições de trabalho e até mesmo mudanças nas regras desportivas. Estes esforços coletivos podem e devem ter impacto tanto no ambiente desportivo quanto na sociedade em geral, mas é também uma educação, um processo para o qual todos temos o dever cívico de contribuir e aspirar enquanto grupo. Uma caminhada, uma aprendizagem para percebermos todos que este propósito não é um caminho individual, é algo que está muito acima das nossas circunstâncias. Semear para os outros e talvez nunca colher em proveito próprio. É, como dizia Nelson Mandela, "Alcançar, colher e devolver...". Estamos preparados para isso??... A experiência já nos demonstrou que, quando é altura de respondermos às legítimas preocupações de cada um, a soma dessas preocupações não é nem mais nem menos que a aspiração do coletivo, e falhamos por vezes essa convocação... pensar e refletir sobre isto é importante, estar presente é importante, saber que há momentos que são inegociáveis enquanto grupo é importante.
O 20.º Aniversário da AAOP que tem como ponto alto a homenagem ás 137 "bravas do pelotão" é um bom exemplo deste chamamento e é necessário agora mais do que nunca, que cada um de nós responda com um SIM afirmativo... é também uma velha aspiração dos Olímpicos do Norte, descentralizar, estar próximo, um evento que não pretende ser nem uma feira de vaidades, nem um desfile de celebridades, nem um momento de circunstância... pretende ser sim a demonstração de uma força colectiva, uma afirmação de que existimos no ciclo Olímpico e fundamentalmente no pós carreira com todos os direitos associados ao estatuto de ser olímpico. Queremos transportar o nosso coletivo para patamares e conjunturas em que devemos ser vistos como atores no panorama desportivo e social, que acrescentam valor, que podem afirmar a diferença nas gerações futuras, para evitar a dura realidade de quem sofreu na pele a falta de apoios devido a problemas conjunturais e estruturais. Já se questionaram porque não existem associações de atletas ativas e interventivas? Já se questionaram porque são os atletas sempre convidados a título individual, representando-se única e exclusivamente a si mesmos? Já se questionaram o porquê de a nossa Associação de atletas olímpicos, parecer estar a incomodar tantos e tantas instituições? Porque é que um verdadeiro coletivo como a AAOP, com voz independente, que já demonstrou ser diferenciadora, suficientemente ativa e disruptiva, não tem assento por exemplo no órgão mais representativo do desporto nacional, o Conselho Nacional do Desporto? Num panorama em que a voz dos atletas em conjunto não voa, nunca ou pouco voou... porque sempre foi oportuno dar relevo ao indivíduo e não ao coletivo, nunca estivemos em tão boas condições para nos afirmar pela positiva. Devemos isso a cada um de nós individualmente, ao nosso grupo de Olímpicos, às bravas do pelotão as mulheres olímpicas... Queremos mudança, reivindicamos mudança, então sejam de uma vez por todas a mudança que querem ver no mundo!
Dia 8 de Julho vamos fazer a diferença em Matosinhos no Terminal de Cruzeiros de Leixões "Voando Alto: com O Poder Transformador da Voz dos Atletas".

PS: Deixo no entanto a ressalva de que é importante observar que nem todos os atletas têm as mesmas preocupações ou estão dispostos a envolver-se em questões coletivas. No final das contas, a decisão de os atletas se unirem e terem uma voz ativa na defesa de seus interesses é uma escolha pessoal e depende das prioridades e valores individuais de cada um."

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