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quinta-feira, 3 de março de 2022

Desporto, cidadania e vida privada


"Quem praticou Desporto, ou pratica, está habituado à disciplina, à austeridade, ao trabalho, ao sofrimento, à persistência, à paciência, à generosidade e também à solidariedade, à partilha e espírito de entreajuda...

Uma das “conquistas” de Abril de 74 foi a abolição da censura, ou melhor, do chamado Exame Prévio, do coronel Páscoa, de quem fomos uma das vítimas, durante 5 anos (de 1969/74), no jornal A Capital. Mas será que as pessoas estavam preparadas para viver em democracia depois de 48 anos de fascismo? Há aqui que chamar a atenção para uma realidade que os iletrados ainda não perceberam: é que há Fascismo de direita e de esquerda. Que fique bem claro que os adeptos, e filiados, da União Nacional eram tão Fascistas quanto o PCP é. Sim, nenhum deles queria a democracia, e o atual PCP também não quer a democracia, já que tem uma relação vertical de poder, ou melhor, tem uma hierarquia vertical, enquanto que em democracia a relação é horizontal.
Curiosamente o Desporto, o verdadeiro, conviveu de forma “pacífica” com a ditadura de Salazar, porque o Desporto não tem ideologia, embora todos os “regimes” políticos tentem servir-se dele para o instrumentalizar a seu favor e da sua propaganda política, no sentido de demonstrar a superioridade do seu “sistema” ou do seu partido político… Isso aconteceu desde sempre em todos os regimes, e em toda a Europa, antes e depois de 14-18 e de 39-45, ou seja, das duas Guerras Mundiais. Mas um dos valores superiores do Desporto é a performance, ou seja, o resultado, a marca, ali não conta a cunha, o cartão partidário, ou qualquer ‘‘irmandade” a que se pertença, ali ou corre os 100 metros e chega em primeiro, e é campeão, ou então é relegado para o plano da mediocridade e do esquecimento.
Mas o grande valor do Desporto, em democracia, é a interiorização do conceito de cidadania, que tem por base o respeito por nós próprios e pelos outros, o que, no seu conjunto, se chama a grei. Quem praticou Desporto, ou pratica, está habituado à disciplina, à austeridade, ao trabalho, ao sofrimento, à persistência, à paciência, à generosidade e também à solidariedade, à partilha e espírito de entreajuda, e acima de tudo isso, e por causa de tudo isso, está o respeito pela vida privada de cada um, que em democracia tem valor, já que em fascismo pode servir de “arma de arremesso” para liquidar inimigos políticos ou rivais dentro do partido político a que se pertence, e não só. E por isto ser assim, ficámos surpreendidos por alguns políticos terem vindo, à luz dos holofotes políticos, afirmar, de forma pública, algo da sua esfera privada, com muito “orgulho”, como se fosse importante o mundo ficar a saber que “saíram do armário”.
A comunicação social ao fazer um grande alarido da “confissão” dessas pessoas só veio provar que está a anos luz, de distância, de perceber as regras da democracia, e que certos fenómenos, tal como o desporto, não têm ideologia."

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