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terça-feira, 27 de outubro de 2020

A teor… prática de Darwin


"Se a evolução das espécies cria algum desdém, a espera pela evolução dos jogadores provoca também bastante exasperação nas franjas de adeptos que muito esperam dos seus novos recrutas. E no Benfica, depois do frenesim mediático que o defeso provocou, a coisa nunca é feita por menos. Darwin Nuñez, um big jogador que não só é grande como vai ser top, concentra hoje por hoje quase toda a atenção. Pelas características físicas invulgares, pela relação (ou falta dela) com bola e, claro está, pelo preço, do uruguaio se espera algo especial. E este Benfica-Belenenses – igual a uma carrada de jogos que o Benfica vai disputar nesta edição da Liga – é o terreno ideal para Nuñez passar da teoria à prática. Isto porque o Benfica de Jorge Jesus é sempre uma equipa que começa a criar vantagem em Portugal quando os jogos ainda não começaram. É nas dúvidas que provoca ao adversário que poderá surgir um controle do jogo pelo qual não só Jorge Jesus exaspera, como também todos os adeptos das águias desesperam.

Vão mais de dez anos a jogar no mesmo sistema (talvez com um hiato de meses com Rui Vitória a ser a excepção) e vão mais de dez anos em que as críticas são, basicamente (sublinhe-se o básico da situação), as mesmas. O Benfica tem bastantes dificuldades quando pressionado e tem ainda mais dificuldades para controlar as partidas. Mas para percebermos estes clichés vintage teremos também de perceber o que é mesmo o controle de um jogo. E esse envolve uma mescla tão grande de factores que não admira que uma equipa claramente em construção (e a anos-luz do rendimento de qualquer outro Benfica versão JJ) ainda não tenha conseguido ser consensual no que toca às suas exibições. Controlar o jogo é, também, controlar o adversário. Impedi-lo de criar. É isso mas é também ter a pata no jogo ao mesmo tempo que se consegue criar oportunidades, dúvida, caos na organização contrária. E mesmo que seja mais do que isto, controlar não foi coisa que o Benfica conseguiu fazer em muitos momentos da recepção ao B SAD. Porque mesmo tendo muito mais tempo a bola que o adversário, a inépcia com que a circulou nunca provocou a dúvida que paralizaria a equipa de Petit – que deu várias vezes a sensação de poder causar algum dano nas pretensões encarnadas.

Associação de Darwin desmonta linha defensiva e abre espaço para Everton entrar. Foi pela esquerda que o Benfica decidiu atacar mais vezes na primeira metade

Mas se assim é, se o Benfica não controla uma boa percentagem das suas partidas há dez anos, porque é que esse é um período até de bastante sucesso do clube da Luz? Isto porque o Benfica do 442 (chamemos-lhe assim para não dizermos que a década foi toda de Jesus) tem outras valências importantes e que lhe permitem, mesmo não controlando alguns jogos totalmente, controlar… os resultados. E o que se observou com o movimento padrão da 1.ª parte (Everton a receber entre-linhas na meia-esquerda, criando a partir daí), e com as rupturas de Darwin na segunda metade, é que o Benfica, mesmo estando em remodelação, ainda tem golo suficiente para a mais que evidente falta de controle dos jogos não se reflictam em resultados. O objectivo final andará muito longe de ser parecido ao que se tem visto, mas para já, mantendo essa característica, o Benfica segue construíndo e liderando – o que será nesta altura manifestamente mais importante do que a medição de uma qualidade de jogo que persiste ainda em algumas parecenças com a época passada, apesar de nesta noite a linha defensiva aparecer mais organizada. De resto, a pouca apetência para roubar bolas e o jogo muito afunilado que resultam em muitos períodos de incerteza ainda por lá andam. Vale a notável eficácia e a extrema categoria e potencial de uma transição que castigará quem se destapar contra o Benfica. E este B SAD não foi mais perigoso porque o Benfica lhe criou sempre essa dúvida. E sabemos o quanto Jesus gosta de provocar essas dúvidas que são terreno fértil na nossa 1.ª Liga.

Os extremos (Rafa e Darwin) que se tocam, o espaço para Grimaldo e Seferovic no lado cego do oponente. Tudo imagens de marca do primeiro golo desta noite

Benfica-B SAD, 2-0 (Seferovic 6′ e Darwin 75′)"

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